O Grupo Soma sacudiu o setor de vestuário brasileiro ao acertar a compra da Cia. Hering, em negócio anunciado em conjunto pelas duas empresas na manhã desta segunda-feira (26). A venda da centenária companhia de Blumenau não era algo exatamente inesperado, dado os últimos acontecimentos. A surpresa maior ficou por conta do comprador.

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Há menos de duas semanas a Hering se antecipou ao mercado ao divulgar que rejeitou uma proposta de R$ 3,3 bilhões feita por outra gigante da moda, a Arezzo. Nas entrelinhas do comunicado onde destacava a negativa – internamente a oferta foi considerada “muito ruim” –, a companhia sinalizou a disposição de fechar negócio caso o valor colocado à mesa atendesse as expectativas da direção.

O fato de a própria Hering vir a público, trazendo à tona números e condições de uma eventual transação, alimentou especulações de que seria uma questão de tempo até uma venda ser concluída. Muitos apostaram que a própria Arezzo melhoraria a oferta. 

O Grupo Soma, no entanto, acabou furando a fila numa negociação-relâmpago, feita em apenas quatro dias, revelou o colunista Lauro Jardim, de O Globo. A proposta de R$ 5,1 bilhões chegou ao conhecimento da Cia. Hering na sexta-feira (23), um dia depois da sondagem inicial, acrescentou o jornalista. O martelo foi batido no domingo (25).

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Com sede no Rio de Janeiro e mais de 5 mil funcionários, o Grupo Soma é dono de um amplo leque de marcas. As duas mais famosas e rentáveis são a Farm (que registrou faturamento bruto de R$ 614,4 milhões em 2020) e a Animale (R$ 398 milhões). Completavam o portfólio da empresa ao fim do ano passado as grifes A.Brand, Cris Barros, Fabula, Farm Global, Foxton, Maria Filó e Off Premium, que contemplam públicos feminino, masculino e infantil.

O grupo estreou na Bolsa de Valores no último mês de julho, após levantar R$ 1,82 bilhão com a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). No prospecto apresentado a investidores, revelou que pretendia utilizar os recursos obtidos para, entre outros objetivos, adquirir novas marcas. Três meses depois, em outubro, anunciou a compra da grife de moda feminina NV, que faturou R$ 157 milhões em 2020.

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Somando todos os ativos, a Soma contabilizou receita líquida (descontando impostos diretos) de R$ 1,24 bilhão em 2020, superior à da Cia. Hering (R$ 1,07 bilhão). Embora tenham portes semelhantes e atuem no mesmo segmento, de vestuário, as empresas, no entanto, se diferenciam nos modelos de negócios.

Enquanto a maior parte das vendas da Hering ainda vem do varejo tradicional, suportado por uma rede – ao final do ano passado – com 758 lojas no Brasil e 20 no exterior, a Soma tem uma operação digital mais madura. Dentro do grupo, que tem bem menos unidades físicas – eram 247 lojas próprias e 17 franquias em 31 de dezembro –, a receita do comércio eletrônico somou R$ 666,2 milhões em 2020. Na Hering, o e-commerce contabilizou R$ 181 milhões no período.

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Os impactos provocados pela pandemia do coronavírus no comércio de rua e em shoppings, onde estão a maioria das lojas, já haviam feito a Cia. Hering acelerar a transformação digital. No início de março, a companhia anunciou um investimento anual recorde de R$ 131 milhões para 2021, destinados a programas de tecnologia focados na reestruturação da arquitetura de sistemas e dados, desenvolvimento de infraestrutura, plataformas digitais e estratégia de inovação.

A incorporação pela Soma, em operação que ainda depende de aprovação de acionistas e órgãos reguladores de mercado como o Cade, tende a acelerar esse processo dentro da companhia. No comunicado anunciando o negócio, as empresas citam que um dos pilares centrais do acordo é a “utilização e difusão de uma cultura digital e implantação de produtos digitais da Soma Labs (braço de inovação digital do grupo) em todas as etapas da cadeia de valor da Hering”.

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