Só o fanatismo justifica a bajulação que parte da sociedade catarinense ainda dispensa a Jair Bolsonaro (PL). O presidente da República mais uma vez deu de ombros aos que lhe garantiram a maior votação proporcional do país nas eleições de 2018: vetou R$ 43 milhões do bolo da União deste ano para rodovias federais que cruzam o Estado, como antecipou nesta semana o colega Evandro de Assis. Perto do volume necessário para obras tão importantes, já era uma ninharia, agora reduzida a migalhas.
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Quem não vive em uma realidade paralela custa a engolir a conversa fiada de que a tesourada é normal para quem entende de orçamento, como já tentou explicar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Uma vez até dá para entender. Quando é reincidente – em novembro passado o governo já havia subtraído R$ 40 milhões do orçamento de 2021 para estradas, com impactos nas BRs 470 e 163 –, o argumento vira lorota. Quem continua a exaltar Bolsonaro, mesmo depois dessa nova demonstração de indiferença, é cúmplice do descaso do governo dele com Santa Catarina.
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Narrativas esdrúxulas até podem satisfazer a base mais fiel ao bolsonarismo, mas não há retórica capaz de atenuar tamanha insensibilidade do chefe da nação com o Estado. Até porque não existe nada mais urgente para Santa Catarina do que investimentos em infraestrutura rodoviária – qualquer outra entrega é secundária enquanto esse gargalo logístico não for resolvido. Há anos entidades empresariais e a sociedade civil batem na mesma tecla: estradas em péssimas condições são um risco constante para os motoristas e um entrave para a economia catarinense – que cresce mais pelo próprio esforço do que pelo retorno que recebe de Brasília.
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Também não se sustenta o discurso de uma suposta perseguição implacável da mídia a Bolsonaro. Nas gestões petistas, não faltaram juras – e outdoors – de conclusão da duplicação de rodovias federais em Santa Catarina, entre elas as BRs 470 e 280. A imprensa monitorou de perto o descompromisso e colocou o governo da ocasião contra a parede incontáveis vezes. O bom jornalismo cobra e fiscaliza, independentemente da cor partidária da moda. Quem não se lembra, das duas uma: ou tem memória ruim ou só enxerga o que lhe convém. Cada vez mais parece prevalecer a segunda alternativa.
A verdade é que não faltaram oportunidades para que Bolsonaro retribuísse com obras e investimentos o carinho despejado nas urnas pelos catarinenses. Já foram 11 visitas presidenciais ao Estado em três anos de mandato. Com poucos anúncios relevantes, a maior parte delas teve caráter festivo: motociatas com apoiadores que renderam imagens para a narrativa bolsonarista, férias na praia, passeio em parque de diversões. Sem contrapartida à altura, o presidente brinca é com os catarinenses.
No fim de dezembro, enquanto a Bahia sofria as consequências de fortes chuvas, Bolsonaro ignorava o protocolo de se fazer presente para prestar condolências aos atingidos e desfilava de jet ski pelo litoral catarinense. Parte da imprensa repercutiu uma tese: o presidente consideraria o estado nordestino, reduto do PT, uma “batalha perdida”, numa alusão à corrida eleitoral deste ano. Ao eleger Santa Catarina para tirar R$ 1 de cada R$ 4 cortados do orçamento nacional da infraestrutura, o presidente sugere que, aqui, considera a fatura liquidada, sem parecer temer reações adversas. E o faz sob aplausos dos que não enxergam ou não querem enxergar que estão sendo preteridos.
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