Queda nos registros de inadimplência retrata movimento ainda fraco no comércio de Blumenau

À primeira vista, seria uma notícia positiva: entre os dias 17 de março, data em que o governo de Santa Catarina decretou situação de emergência no Estado em função da pandemia, e 30 de junho o volume de inscrições de consumidores inadimplentes de Blumenau junto ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) caiu na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 17.645 em 2019 e 6.173 em 2020, uma redução de 65%, aponta a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) em levantamento feito a pedido da coluna. Ao todo, 102.585 pessoas estão com alguma restrição no nome no município.

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O indicador poderia sugerir um consumidor mais “educado”, financeiramente falando, mas não é bem assim. A queda abrupta é consequência dos impactos da pandemia no comércio. Menos registros, neste caso, sugerem que há menos gente saindo às compras. Como ainda não há estatística oficial sobre as perdas de faturamento do setor em Blumenau, os dados do SPC são o indicativo mais fiel de que, mesmo após a liberação das atividades, o movimento nas lojas ainda é tímido. Isso também ajuda a explicar por que o varejo fechou 1.226 postos de trabalho formais na cidade entre abril e maio, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.

Na avaliação de Antonio Bittelbrunn Junior, diretor de SPC da CDL Blumenau, pelo menos dois fatores justificam essa redução nos registros: 1) o comércio em geral ficou fechado por praticamente um mês, entre a segunda quinzena de março e a primeira de abril; e 2) o aumento do desemprego deixou até mesmo quem não perdeu o ganha-pão ressabiado e mais cauteloso com os gastos. Os dois cenários desestimulam consumo, e menos consumo reduzem a formação de dívidas.

Um terceiro ponto que não pode ser descartado. A CDL vem notando que alguns lojistas deixaram de fazer a inscrição dos clientes inadimplentes, considerando o delicado cenário atual. É uma espécie de voto de confiança. Segundo Bittelbrunn, existe uma orientação por “mais sensibilidade” no momento, mas não há restrições para os cadastros.

— Quando começou a pandemia, houve uma onda de repactuação de dívidas, de jogar para frente. Mas isso foi uma questão individual e voluntária de cada credor — pondera.

Um projeto de lei aprovado no Congresso Nacional chegou a proibir a inscrição de consumidores inadimplentes em cadastros negativos, como o SPC, por 90 dias a partir de 20 de março, data em que foi decretado no país o estado de calamidade pública causado pela pandemia do novo coronavírus. O texto, no entanto, foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Na outra ponta, houve, também, diminuição de 32% nos cancelamentos de cadastros no SPC em Blumenau neste período de pandemia. Em 2019, tinham sido 15.060 baixas. Em 2020, foram 10.183. Aqui o cenário é motivado por motivo semelhante ao dos registros: como há menos dinheiro circulando, também há menos gente com condições de limpar o nome na praça.

Campanha

A CDL está lançando uma campanha para incentivar as pessoas a fazerem o saque emergencial do fundo de garantia, medida que só em Santa Catarina deve beneficiar 2,7 milhões de trabalhadores, com potencial para injetar até R$ 1,8 bilhão na economia. Os pagamentos começaram nesta semana para beneficiários nascidos em janeiro.

Em Blumenau, a orientação da entidade é para que os consumidores usem essa renda extra para quitar dívidas e, na hora das compras, priorizem o comércio local, fazendo o dinheiro girar na cidade. Noutra frente neste sentido, a CDL já havia discutido com a prefeitura maneiras de garantir a antecipação do pagamento da primeira parcela do 13º salário dos servidores municipais.

O pedido foi contemplado graças a uma engenharia financeira da prefeitura que envolveu a suspensão temporária dos repasses ao ISSBlu e os vencimentos serão depositados na folha deste mês do funcionalismo. A expectativa é que essa medida despeje mais R$ 17 milhões na economia blumenauense.

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