A redução, no início do mês, da taxa básica de juros, a Selic, para 4,25% ao ano – o mais baixo índice da série histórica – escancara um descompasso com os juros da vida real. Um levantamento divulgado na última semana pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, na ponta, o custo do crédito tem peso completamente diferente no bolso do consumidor (veja no gráfico abaixo).
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A boa notícia é que a Selic em baixa influencia, por tabela, as taxas de outras modalidades de crédito, ainda que em ritmo lento. Os juros do comércio em janeiro, por exemplo, segundo a pesquisa da Anefac, são os menores desde novembro de 2014.

Toda essa conjuntura cria um cenário mais favorável à geração de emprego e renda, avalia Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor de estudos e pesquisas da Anefac. Isso porque taxas de juros menores incentivam financiamentos de bens e serviços e, como consequência, o consumo das famílias. Por outro lado, crédito a custo mais em conta impulsiona investimentos das empresas, que podem resultar em abertura de vagas de trabalho.
— Esta taxa está estimulativa. É para dar um empurrão no crescimento do país — analisa Cesar Corso, assessor de investimentos da Patrimono Investimentos.
O próprio governo federal ganha diretamente com a medida. Juro menor significa menos recursos gastos no pagamento da dívida pública. O Ministério da Economia estima que a redução da Selic gerou, ao longo de 2019, uma economia de cerca de R$ 69 bilhões.
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Para quem aplica dinheiro, a Selic no mais baixo nível da história é um sinal de alerta para reavaliar a carteira de investimentos (veja simulação abaixo).

Concentração bancária
Os juros na ponta poderiam ser mais atrativos se a concessão de crédito no Brasil não fosse tão cara, observa Oliveira. Além da própria Selic, usada como referência, bancos e instituições financeiras levam em conta uma série de outros fatores na definição do custo de captação, como impostos, despesas administrativas com funcionários, processos e agências e o risco de calote (que aumenta em economias com alto índice de desemprego), além da própria margem de lucro. Há ainda a concentração de mercado, que inibe a concorrência.
— Os cinco principais bancos do país têm mais de 85% do crédito — reforça Oliveira.
A ascensão de fintechs (bancos digitais) pode melhorar esse cenário no médio e no longo prazos, mas elas ainda fazem “cócegas” nos grandes agentes financeiros, diz o diretor da Anefac. Cooperativas de crédito, que não têm o lucro como objetivo final e, por isso, costumam oferecer taxas mais atrativas do que as instituições tradicionais, podem ganhar vantagem. Elas vislumbram boas perspectivas com o cenário de queda no juro.
— A expectativa é que a gente tenha um bom volume de crescimento de crédito a partir de agora — projeta Vanildo Leoni, diretor-executivo da Viacredi, que reúne 540 mil cooperados e administra R$ 6,3 bilhões em ativos.
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