Duas propostas ventiladas nesta semana por membros da equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) provocaram forte reação de algumas alas do setor produtivo, que em grande parte apoiou o capitão da reserva na disputa do segundo turno em nome da mudança – e também por temor de um novo governo petista.
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Primeiro Paulo Guedes afirmou, em palestra no Rio de Janeiro na segunda-feira, que “meteria uma faca” no Sistema S, conjunto de nove entidades que inclui Senai, Sesi, Sebrae, Sesc, Senat, Senar, Sescoop e Senac. O futuro superministro falou em corte de até 50% no orçamento dessas instituições.
A possibilidade provocou réplica imediata. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) veio a público destacar números e informações relativas à contribuição na sociedade e na economia do Sistema S, incluindo a formação de mão de obra técnica e o estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento.
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Para o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, há eficiência na aplicação dos recursos repassados. O dirigente enfatizou que as declarações de Guedes mostram que ele não conheceria em profundidade o trabalho de preparação da força de trabalho e de promoção da saúde feitos por entidades como Sesi e Senai. A Fecomércio-SC seguiu linha semelhante, assim como a Fetrancesc.
Como polêmica pouca é bobagem, na terça-feira vieram à tona informações de que um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), liderado por economistas do grupo de transição do governo, sugere o fim do Simples Nacional. Presidente da Federação das Associações das Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Fam pesc), Alcides Andrade ficou surpreendido com a proposta, a qual classificou de “absurda” e vinda de profissionais “de gabinete que não conhecem a realidade”.
O fim do regime especial e diferenciado de tributação para negócios de pequeno porte jogaria muitos deles, na avaliação de Andrade, na informalidade, o que prejudicaria o próprio governo com perda de arrecadação.
No caso do Sistema S, o governo defende que a tesourada ajudaria a desonerar os encargos salariais das empresas, uma medida para estimular a geração de empregos. Em relação ao Simples, a proposta é rever os incentivos dados, diminuí-los e, eventualmente, eliminá-los, segundo informações publicadas pela Folha de São Paulo. Haveria, conforme o estudo, distorções nas alíquotas de imposto de renda dos regimes de tributação – além do Simples, existem também o Lucro Real e o Lucro Presumido – que precisariam ser repensadas para se pensar em taxar lucros e dividendos no futuro.
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Claro, Bolsonaro e Guedes ainda não assumiram, tudo teria de ser amplamente debatido antes de se promover qualquer tipo de alteração no que já está posto sobre a mesa e as primeiras impressões geralmente são mais alarmadas do que recomenda o bom senso. Os dois casos, no entanto, revelam a complexidade de se fazer política quando há múltiplos interesses e visões em jogo. Mudar tudo isso que está aí, afinal, não é tarefa simples.