As informações de bastidores já indicavam o desfecho. Ainda assim, a aprovação do processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés (PSL) e a vice Daniela Reinehr (sem partido) não deixou de ser recebida com apreensão por parte do setor produtivo catarinense. E não se trata de uma torcida partidária ou ideológica. Na cabeça da maioria dos empresários, predomina o pensamento de que um eventual impedimento do chefe do Executivo estadual, seja quem for, alimenta um cenário de instabilidade – que, neste caso, em nada ajudaria para a recuperação de uma economia que ainda sofre com os prejuízos impostos pela pandemia do novo coronavírus.

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Quando, ainda em julho, a Assembleia Legislativa decidiu dar sequência a um processo que apontava crime de responsabilidade de governador e vice na concessão de aumento salarial aos procuradores do Estado, entidades de Blumenau reagiram. Houve consenso de que suspeitas de malfeitos na administração pública devem ser investigadas, doa a quem doer. Mas também foi praticamente unânime a avaliação de que, independentemente do mérito da denúncia, a gestão do Estado ficaria em segundo plano a partir do momento em que o governo teria de dedicar tempo e esforços para tentar salvar a própria pele.

Uma cada vez mais provável troca de comando no governo catarinense tem efeitos colaterais que vão muito além da política. As incertezas sobre o futuro são inevitáveis. Enquanto todo esse imbróglio não for resolvido, é natural que a máquina pública fique em compasso de espera. A indefinição respinga na economia, com potencial para frear investimentos. Há aqueles alheios à crise política que seguirão seu curso porque a roda não para de girar – embora diminua de velocidade. Mas previsibilidade, ou seja, ter uma ideia do que vem pela frente é regra de ouro para quem quer tirar projetos do papel e planejar o futuro.

A Associação Empresarial de Blumenau (Acib) foi a primeira entidade local a se posicionar sobre o resultado da votação na Alesc nesta quinta-feira (17). Em nota, disse considerar “lamentável” a atual situação política do governo. “Estamos incontestavelmente descontentes com a situação, uma vez que os problemas que realmente precisam ser resolvidos estão ficando em segundo plano. Precisamos focar, neste momento, em resolver as dificuldades econômicas e sociais causadas pela pandemia”, acrescenta o documento.

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A Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), que representa 148 associações empresariais do Estado e cerca de 34 mil empresas, divulgou nota dizendo que “respeita todos os protocolos legais de checagem, avaliação e eventual responsabilização do servidor ou políticos, reconhecendo a legitimidade da Alesc para este fim”. Mas também manifestou “perplexidade na avalanche de denúncias” e acrescentou que “o parlamentar também é parte do governo e deve zelar pela estabilidade da gestão”.

A maioria das entidades empresariais nunca morreu de amores por Moisés. Não foram poucas as reclamações direcionadas à dificuldade de diálogo e ao distanciamento do governo – críticas semelhantes feitas pelos parlamentares, que custaram caro ao governador. Entre a dificuldade de relacionamento e uma crise política e institucional, no entanto, elas parecem acreditar que é menos custoso lidar com o primeiro.

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