O prefeito Mario Hildebrandt se esquivou da polêmica envolvendo o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, transmitido em rede nacional de televisão na noite de terça-feira (24). Bolsonaro disse que “algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa”. Blumenau acompanha um decreto do governo estadual que suspende várias atividades que não são consideradas essenciais e determina isolamento total da população como forma de combater o novo coronavírus.

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Há quem acredite que a postura de Bolsonaro pode encorajar as pessoas a saírem de casa. Nesta quarta-feira (25) pela manhã a coluna perguntou ao prefeito se a fala da maior autoridade do país não poderia atrapalhar os esforços que o município tem feito para conter o avanço da pandemia. Hildebrandt reforçou que o foco neste momento é priorizar a vida da população, em especial a dos idosos, e avaliou que “o presidente trouxe mais essa discussão da flexibilização” da economia, tema já levantado pelo governador Carlos Moisés. Questionado se tinha algum comentário a fazer sobre o tom do pronunciamento, Hildebrandt foi direto na resposta: “não”.

À noite, durante a transmissão online que o município tem feito diariamente para atualizar a situação do coronavírus em Blumenau, jornalistas perguntaram ao prefeito se ele tinha algo a dizer sobre as palavras de Bolsonaro. De novo evitando o conflito, Hildebrandt acrescentou que a “preocupação com a retomada da economia é de todos os prefeitos do Brasil”, lembrando que as prefeituras são as primeiras a sentir a falta de recursos.

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A manifestação de Bolsonaro foi repudiada por diversas lideranças políticas e entidades ligadas à área da saúde que, na inexistência de vacina eficaz para o novo coronavírus, defendem o isolamento social como melhor medida para evitar o contágio em massa. Em nota, a Federação Catarinense dos Municípios (Fecam) considerou o pronunciamento “inadequado” e acrescentou que ele “gera graves conflitos político-institucionais, riscos à população, falta de unidade institucional e prejuízo à consolidação de estratégias nacionais para enfrentar a pandemia e proteger a vida e a saúde da população brasileira”. Até mesmo o governador Carlos Moisés disse ter ficado “estarrecido”.

Hildebrandt, por outro lado, nunca escondeu o apreço ao discurso “liberal na economia e conservador nos costumes”, que tem no presidente seu defensor de maior projeção. Em fevereiro, divulgou apoio à criação do Aliança Pelo Brasil, novo partido desenhado por Bolsonaro. O embarque na sigla só não ocorreu porque ela não foi registrada a tempo para as eleições municipais de outubro. Candidato à reeleição, o prefeito acabou assinando ficha no Podemos.

Apesar de certo alinhamento com a direita bolsonarista, o prefeito de Blumenau optou por não morder a tentadora isca da politicagem. Limita-se a dizer que é preciso, neste momento, preservar a saúde da população e buscar maneiras de fazer a economia girar. Age com a serenidade que o cargo que ocupa exige e acerta ao evitar enfrentamentos que em nada contribuem no combate à pandemia. Vivemos, afinal, um momento em que estados e municípios, mais do que nunca, precisam de gestores. Não de incendiários.