Motoristas e cobradores de ônibus de Blumenau deram a largada para o que promete ser uma nada simples negociação com a Blumob, em novo debate envolvendo o transporte coletivo da cidade. A categoria decidiu em assembleia na última sexta-feira (28) que a campanha salarial de 2021 deve mirar na reposição da inflação acumulada entre novembro de 2019 e junho deste ano.
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Indicador mais utilizado em negociações salariais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registra alta de 9,83% entre novembro de 2019 e abril de 2021. Na prática, esta é a defasagem real do poder de compra dos trabalhadores em um cenário de alta inflacionária. Em meio à pandemia, vale lembrar, funcionários do transporte coletivo não tiveram aumento em 2020. É por isso que o percentual reivindicado é tão acima da média.
Como a data-base da categoria foi alterada de dezembro para julho, seriam somados a esse percentual os índices do INPC equivalentes a maio e junho, que ainda não foram divulgados. A oscilação mensal média do indicador neste ano é de 0,58%. Neste contexto, o reajuste salarial almejado ficaria na casa dos 10%. Os trabalhadores também querem incremento de R$ 100 no vale-alimentação – de R$ 820 para R$ 920.
Nas atuais condições, é difícil imaginar que a pauta seja atendida na íntegra. A Blumob atualmente opera um sistema cujo número de veículos e horários é desproporcional ao volume de passageiros, hoje em torno de 40 mil ao dia – em cenário “normal” seriam 100 mil. A empresa fechou 2020 com prejuízo líquido de R$ 11,8 milhões e tem recebido aportes da prefeitura para compensar perdas econômicas.
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Em outra frente para conter custos, a concessionária recentemente abriu um novo programa de demissão voluntária, que teve adesão de 12 trabalhadores. Outros 62 funcionários aderiram ao novo programa do governo federal de redução de jornada e salário. As informações são do Sindetranscol, sindicato que representa a categoria.
Do outro lado do balcão, no entanto, há pais e mães de família que veem as altas de preços comprometerem cada vez mais o orçamento da casa e que cobram, justamente, pelo menos a reposição da inflação aos salários – o mínimo para qualquer trabalhador.
A assembleia é o ponto de partida para as conversas, que devem ser oficializadas em breve. O histórico antecipa que haverá desavenças entre as partes. O fechamento de um acordo justo, dentro do possível para cada um dos lados e que considere a realidade econômica e social da pandemia, dependerá de articulação, bom senso e boa vontade, com participação ativa da prefeitura. E de preferência sem paralisações de ônibus pelo caminho que peguem o usuário de surpresa.
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