Está virando um contrassenso dizer que usuários de ônibus de Blumenau são pegos de surpresa com paralisações-relâmpago do transporte coletivo. A que ocorre nesta terça-feira (12), sem aviso prévio, é só a primeira de 2024, mas está longe de ser novidade. Por motivos diversos na história recente, os protestos de motoristas e cobradores transformaram o sistema em uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer momento. O problema é que esta bomba nunca é detonada uma única vez.

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A “era Blumob”, que iniciou em 2017, coleciona outras paralisações. Em dezembro do ano passado, trabalhadores cruzaram os braços por duas vezes. O estopim para o movimento foi a demissão de um dirigente do Sindetranscol, sindicato que representa a categoria. Em outras ocasiões, impasses na negociação da convenção coletiva motivaram os protestos. Desta vez, as causas são melhores condições de trabalho e manutenção do cobrador dentro dos ônibus. Existem estudos na prefeitura para que a função seja eliminada de algumas linhas, mas não há, até agora, projeto oficial neste sentido.

Paralisação dos ônibus em Blumenau é fruto de pauta “explosiva” e prévia de briga inevitável

Manifestações por melhores condições de trabalho e defesa dos direitos da categoria são legítimas e garantidas pela Constituição. Mas o sindicato abusa desse direito quando não comunica previamente sobre o movimento, como determina a legislação. No fim das contas, a paralisação em nome de uma classe de trabalhadores pune tantas outras quando há suspensão total do serviço.

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O usuário geralmente está alheio a discussões trabalhistas desta natureza, e nem tem obrigação de estar por dentro da situação. Ele só quer ônibus pontual, confortável e a preço justo. Ele é o mais interessado, e ele é quem frequentemente é punido no direito de ir e vir. Quem sofre no meio desta queda de braço entre patrões e funcionários é o cidadão que precisa chegar a tempo no emprego, o aluno que não pode perder o horário do início das aulas, o doente que precisa ir a alguma unidade de saúde para uma consulta médica.

É notório que o transporte coletivo de Blumenau ainda precisa melhorar, mas também é injusto dizer que não houve evolução nos últimos anos. Não se tem mais notícia de atraso no pagamento de salários dos trabalhadores – um problema crônico na reta final do antigo Consórcio Siga –, a integração de horários avançou, muitos veículos da frota estão recebendo ar-condicionado e outros serão equipados com câmeras de vigilância.

Por outro lado, a queda no volume de passageiros, motivada por fatores variados – mais gente trabalhando em casa ou com carro próprio, tarifa alta e concorrência de aplicativos –, reduziu linhas e horários em comparação ao que já existiu no passado, tornando o equilíbrio financeiro da operação um desafio complexo.

O transporte coletivo deixou de ser atrativo para muita gente e muitas das medidas que agora tentam recuperar o passageiro são tardias. Toda a sociedade, até quem não anda de ônibus, paga essa conta, já que o município vem destinando subsídios para o sistema não quebrar outra vez – em média R$ 30 milhões nos últimos anos.

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O problema não tem um único pai. Sindicato, prefeitura e Blumob formam o tripé que deveria dar sustentação a um transporte coletivo de qualidade e todos têm sua parcela de responsabilidade na desconfiança plantada na cabeça do passageiro. Quem se habilita a desarmar essa bomba-relógio? Em ano eleitoral, não será surpresa se uma pauta com tantos espinhos, que costuma descambar para o campo ideológico, for empurrada com a barriga.

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