O interesse da Unimed Blumenau em comprar o Hospital Santa Catarina (HSC) agitou a comunidade médica local no apagar das luzes da última semana. A costura de um potencial acordo, confirmada pelas partes em um comunicado oficial conjunto, chamou a atenção pela rapidez com que as conversas evoluíram nos bastidores nas últimas semanas. Mas para quem tem observado os movimentos mais recentes, tanto da cooperativa quanto da instituição de saúde, a notícia não chega a ser exatamente uma surpresa.
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Há poucos meses a Unimed estava engajada no “Projeto Bavária”. Tratava-se de uma parceria desenhada com a Associação Congregação Santa Catarina (ACSC), mantenededora do Hospital Santa Isabel, que tinha como alvo a implantação de um megacomplexo de saúde em Blumenau a partir da estrutura hospitalar inacabada da cooperativa no bairro Vila Nova. Depois de quase dois anos de conversas, o negócio esbarrou em pontos críticos do contrato, entre eles questões de viabilidade financeira, e acabou não indo adiante.
Mesmo sem ter vingado, a proposta já sinalizava um plano da Unimed de investir em estrutura hospitalar própria, como parte de uma estratégia para aumentar a rentabilidade financeira. Por mais que o valor da aquisição do HSC seja alto – valores discutidos ainda não são públicos – e gerir um hospital tenha suas despesas, o entendimento interno é de que a sinergia com o negócio da cooperativa, que comercializa planos de saúde, poderia ajudar a diluir custos operacionais e administrativos no longo prazo.
Na outra ponta, o Hospital Santa Catarina “estava para jogo”. Em 2021, a União Paroquial Luterana, que mantém o hospital, chegou a aprovar a venda da centenária instituição. A coluna apurou que grandes redes nacionais de saúde, como Dasa e D’or, entre outras, manifestaram interesse na unidade. Mas as propostas não agradaram. Os luteranos não abriam mão de algumas exigências, entre eles a manutenção de filantropias e parcerias com prestadores de serviços como a própria Unimed Blumenau.
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Com um lado disposto a ter um novo hospital e outro disponível para ouvir ofertas, já com um projeto de venda mais estruturado, as conversas por uma parceria surgiram naturalmente. Fontes a par do caso ouvidas pela coluna acreditam se tratar de um modelo “ganha-ganha”. Por um lado a Unimed Blumenau recebe uma estrutura pronta, já rodando, e reconhecida pelo atendimento de qualidade. Por outro, o HSC encaminha um destino mais rentável.
Hoje, mais de 80% dos atendimentos realizados mensalmente pelo HSC são de beneficiários da cooperativa. Caso esse contingente migrasse para outra unidade – o que aconteceria se o “Projeto Bavária” tivesse saído do papel –, o baque nas finanças seria relevante. Se a disposição pela venda permanecesse, isso provocaria, para o hospital, uma queda de valor de mercado.
Relembre grandes empresas de Blumenau que foram vendidas
Há outro fator importante que converge para que o acordo seja selado: a manutenção do controle do hospital dentro de Blumenau, algo pouco provável caso a unidade fosse comprada por algum grupo de fora. Segundo fontes, esse é um ponto que pesa nas discussões. A decisão final, porém, depende da aprovação em assembleias das duas instituições, que são soberanas. Os encontros devem acontecer ainda em maio.
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Ampliação
Pelos termos iniciais da parceria que vem sendo ventilada, a Unimed Blumenau, além da compra em dinheiro, bancaria uma ampliação do Hospital Santa Catarina, que ganharia mais leitos de internação e salas de cirurgias. Essa expansão já está considerada nas projeções financeiras de uma eventual aquisição. A construção de uma nova torre em frente ao hospital, com clínicas e laboratórios de apoio, também segue prevista, mas permaneceria sob responsabilidade da União Paroquial Luterana.
Já a obra do hospital que a Unimed começou a erguer na Vila Nova seria concluída em uma segunda etapa. Uma das ideias é de que toda a estrutura seja destinada a atendimentos de maternidade e pediatria.
O que dizem as partes
O diretor-executivo da Unimed Blumenau, Vitor Hellmann, avalia que a proposta abre caminho para que a cooperativa ganhe escala para discutir sustentabilidade e preço, além de proporcionar redução de custos com a sinergia das operações.
— O que a gente sempre levou em consideração é a relevância da qualidade dos serviços prestados pelo Hospital Santa Catarina, e garantimos que no mínimo vamos manter o padrão atual — diz.
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O presidente do HSC, Adelino Sasse, diz que a instituição nunca foi colocada à venda, apesar da sondagem de empresas. Ele revela que o hospital já mantinha uma parceria com a Unimed Blumenau na área de oncologia, mas que mais recentemente entendeu que “poderíamos conversar um pouco mais” sobre a integração:
— O fato de a Unimed ser local nos agradou também. É um negócio pensado em Blumenau.
A manutenção da qualidade no atendimento e do corpo clínico da Unimed no hospital foram condições essenciais para que as conversas evoluíssem.
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