O acordo de motoristas e cobradores do transporte coletivo de Blumenau com a Blumob resolveu um problema pontual. Ao se acertarem nas conversas sobre a campanha salarial da categoria, funcionários e empresa sepultaram qualquer possibilidade de greve. À primeira vista, foi um bom negócio para todos os envolvidos: a força de trabalho conseguirá repor perdas financeiras corroídas por quase dois anos de inflação acumulada, o usuário ganha garantias de que os ônibus vão sair dos terminais e passar no ponto e a prefeitura assegura a manutenção de um serviço de utilidade pública.

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Partes envolvidas aparentemente satisfeitas, a coluna se atreve a fazer as vezes de advogado do diabo: qual será o impacto financeiro dos reajustes em um sistema cambaleante, que sofre com demanda aquém do ideal de passageiros e hoje depende de subsídios públicos para se manter? Não se discute aqui a justa reivindicação de motoristas e cobradores. A categoria fez o que dela se esperava, lutando por seus direitos com as armas que tem. Reposição inflacionária em tempos em que tudo está mais caro, da comida à luz, é o mínimo para qualquer trabalhador.

Por outro lado, o reajuste – parcelado em três vezes, é verdade – de 11,55% nos salários de 850 funcionários, o aumento de R$ 100 no vale-alimentação e a correção, pela inflação, dos benefícios de auxílio-creche e plano de saúde terão peso na folha, uma das principais despesas da operação. Só que esse impacto ainda nem é conhecido.

> Valor da passagem é só a ponta do iceberg de um problema maior no transporte coletivo de Blumenau

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A coluna questionou a Blumob a respeito. A empresa desconversou, não abriu números e se limitou a dizer em nota que “houve grande esforço para manter e atualizar as cláusulas da convenção coletiva, sem perdas, e o foco continua sendo a manutenção da atividade frente a todos os impactos da pandemia”. Trata-se de uma informação relevante no debate que envolve a sustentabilidade da operação. Fica a sugestão para os vereadores que compõem a CPI que investiga o transporte coletivo.

Não custa lembrar que toda despesa adicional que incide na operação é levada em consideração no equilíbrio financeiro do sistema – leia-se o cálculo de reajuste da tarifa paga pelos passageiros. A maior parte do socorro dado pela prefeitura à empresa – serão pelo menos R$ 34 milhões até o fim de 2021 – tem sido usada justamente para pagar salários de trabalhadores. É uma conta que tende a ficar mais cara a partir de agora e que ainda não se sabe exatamente como será paga, criando um novo problema. Adivinhem para quem vai sobrar?

Não dá, não se sustentará um sistema onde somente quem usa paga. O que eu quero dizer com isso? Quem não usa talvez tenha que pagar também

Alexandro Fernandes, secretário de Trânsito e Transportes de Blumenau, ao ser questionado durante o programa Santa 3 por 4, na quarta-feira (18), sobre a viabilidade de um modelo de transporte coletivo baseado apenas em pagamento de tarifa.

Aliás

Blumob e Secretaria de Trânsito e Transportes de Blumenau aguardam reforço na operação do transporte coletivo a partir de segunda-feira (23), com o retorno das aulas 100% presenciais na rede municipal de ensino. Hoje, com o sistema híbrido, cerca de 5 mil estudantes têm recorrido diariamente aos ônibus para ir e voltar da escola. A expectativa é de que este número no mínimo dobre.

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