A Coteminas vive uma fase difícil. Com uma semana de atraso, pagou na última quinta-feira (13) os salários de março dos funcionários da unidade catarinense mantida em Blumenau. Foi a segunda vez em 2023 que a empresa deixou de honrar o compromisso no quinto dia útil do mês, como é praxe – o mesmo problema já havia ocorrido em janeiro. A cena de trabalhadores novamente protestando por direitos na porta da fábrica expôs o delicado momento que uma das gigantes têxteis do mercado brasileiro enfrenta.

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Parte das respostas que explicam esse cenário de dificuldades pode ser encontrada no balanço financeiro da Coteminas, que, por ter capital aberto, deve prestar contas aos acionistas. O documento mais recente é referente ao terceiro trimestre de 2022 – a apresentação das demonstrações financeiras do quarto trimestre, consolidando o exercício do último ano, foi postergada e ainda não foi divulgada. Nele, a companhia destaca que decidiu reestruturar a operação industrial “de forma a melhorar a sua rentabilidade”.

As medidas incluem reorganização da linha de produtos, que a Coteminas trata como “simplificação”, com diminuição de 7 mil para cerca de 1,5 mil itens fabricados de forma simultânea. As vendas de atacado, acrescentou a companhia, serão concentradas em produtos da marca Santista, com produção própria, enquanto as marcas Artex, que tem DNA blumenauense, MMartan e Casa Moysés serão exclusivas da AMMO Varejo, outra empresa do grupo.

Segundo a Coteminas, essa otimização vai possibilitar “a redução da complexidade industrial, com ganhos de produtividade em termos de custo unitário e redução dos percentuais de segunda qualidade, em razão do crescimento dos lotes de produção, levando à redução de capital de giro, e, portanto, contribuindo para uma melhor rentabilidade para os nossos acionistas”, informou a empresa no balanço.

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Em outra frente, a companhia decidiu vender alguns ativos não operacionais para fazer caixa. A lista inclui imóveis e a estrutura de uma antiga fábrica em São Gonçalo do Amarante (RN), desativada em 2012, avaliados em R$ 373,8 milhões. A empresa diz que já iniciou negociações com possíveis interessados. Há ainda um contrato de venda de uma fazenda por R$ 230 milhões. Cerca de 60% do montante deve ser utilizado para redução do endividamento.

No terceiro trimestre do ano passado, a Springs Global, controlada pela Coteminas, reportou receita líquida de R$ 296,6 milhões, queda de 34,6% frente aos R$ 453,6 milhões computados no mesmo período de 2021. O prejuízo líquido atingiu R$ 175,4 milhões. Já no acumulado do ano – janeiro a setembro –, a receita líquida alcançou R$ 995,2 milhões, com redução de 21,6%.

No balanço, a companhia informou ainda que houve paradas programas em unidades fabris, que ocasionaram um custo de ociosidade de R$ 44,4 milhões. Foi o caso de Blumenau, que registrou em 2022 ocorrências de suspensão de contratos de trabalho, conhecidos como lay offs.

A origem do problema

A origem para o desaquecimento das vendas e da produção estaria em um contexto da economia. No documento, a Coteminas cita que, ao longo de 2020 e 2021, as famílias investiram mais no bem-estar por passarem mais tempo dentro de casa, resultado das restrições a atividades externas impostas pela pandemia. Isso favoreceu o setor de cama, mesa e banho. Em 2022, com a retomada das rotinas, essas mesmas famílias, acrescentou a companhia, direcionaram gastos para outros itens, como vestuários e serviços.

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“Adicionalmente, a inflação tem sido um fator relevante na perda de poder aquisitivo das famílias e no aumento dos custos dos produtos ofertados, prejudicando, principalmente, as marcas que têm como público-alvo a população de menor renda”, argumenta o grupo.

Os esforços de reestruturação e enxugamento operacional visam reverter os resultados financeiros ruins dos últimos tempos. A coluna tenta contato com a Coteminas para comentar a situação. O espaço está aberto para a empresa se manifestar.

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