Modelo de negócio alternativo ao sistema tradicional de produção, por estimular a redução, a reutilização e a recuperação de matérias-primas, transformando-as em novos recursos dentro do processo produtivo, a economia circular foi tema de um evento promovido na última quinta-feira em Blumenau pelo Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC).

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Três palestrantes abordaram o conceito a um público de cerca de 200 pessoas, entre estudantes e profissionais das áreas de pesquisa, desenvolvimento, marketing e produto, com foco na área de moda.

A coluna conversou com um deles: Alexandre Gobbo Fernandes, consultor em economia circular. Em sua fala, apresentou possíveis soluções para a cadeia produtiva e provocou as empresas a entenderem o potencial da economia circular e a desenvolver projetos na área.

Qual a diferença da economia circular para o modelo tradicional que conhecemos?

O modelo tradicional nós chamamos de economia linear porque foi baseado em um sistema onde eu extraio os recursos da natureza, produzo, entrego o produto, consumo e depois descarto. Mesmo que a gente tente aprimorá-lo, esse processo continua sendo linear, extraindo infinitamente e jogando fora algo que é inútil, que a gente chama de lixo. Esse modelo não é possível de sustentar. Por isso dizemos que a economia circular é mais sustentável. Nela, você desenha todo o processo, desde a produção, o planejamento da cadeia, a distribuição e a venda de forma com que os materiais usados voltem para o sistema. A economia circular é diferente do sistema tradicional basicamente porque mantém os assets (ativos) das indústrias o maior tempo possível com a melhor qualidade possível.

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Esse modelo de negócio é um diferencial ou uma necessidade diante da preocupação com o meio ambiente?

A economia circular proporciona uma nova forma de organizar a indústria e de pensar em modelos de negócios de diversas formas. Eu considero que estamos vivendo agora a segunda onda da economia circular. A Europa já comprou esse modelo, já percebeu a importância em termos sustentáveis, econômicos e sociais, porque ele gera muito mais empregos por produto produzido. Você se torna mais eficiente, porque com o mesmo material você faz produtos de mais qualidade, que vão ficar mais tempo no mercado, sem perdas, ou os recupera da maneira mais eficiente possível. Economicamente, você consegue criar modelos de negócios onde há mais faturamento por unidade produzida. A economia circular é uma saída, e ao mesmo tempo uma alternativa mais inteligente para a crise do sistema linear, do sistema produtivo capitalista que a gente conhece.

De onde vêm os bons exemplos desse modelo e como o Brasil se posiciona nesse conceito no mercado?

O Brasil tem uma posição privilegiada porque tem cadeias produtivas completas, como a têxtil. Temos praticamente todos os elos dessa cadeia no país. E temos de commodities a áreas de inteligência, design e desenvolvimento de produtos. A gente precisa entender onde a gente se posiciona quando vamos tratar com empresas e mercados como o chinês e o europeu, onde a economia circular já é regulamentada. Por outro lado, internamente temos um mercado consumidor enorme e chega a ser uma tolice não aproveitar essa onda para tirar o máximo de ganho do que é produzido no país. Eu diria que nós temos potencial para reunir empresas, criar pilotos de sucesso para a realidade brasileira e gerar muitos ganhos dentro do país com a economia circular.

Por onde começar na incorporação desse modelo? Qual o primeiro passo?

Como tudo, você tem que começar analisando problema e contexto. A economia circular pode começar nos resíduos, buscando ser mais eficiente e não gerar esse passivo. Você pode pensar em economia circular a partir do design dos produtos, de forma que eles sejam desmontáveis, recicláveis e com materiais saudáveis. Você pode pensar em processos de logística mais eficientes, com parcerias para levar esses produtos e trazer esses materiais de volta como matéria-prima para os processos produtivos. E você também pode trabalhar em modelos de negócios e pensar o seu produto como um serviço.

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Na área de moda, Santa Catarina já tem um modelo colaborativo consolidado, que é o SCMC. Isso facilita na criação de processos de economia circular?

Com certeza. Santa Catarina tem um potencial enorme pela forma como é organizada e pela maneira como as empresas se relacionam aqui. Elas já estão preparadas para a colaboração e para a inovação. Há uma grande oportunidade de ser pioneiro. Existem, claro, os riscos de ser pioneiro, mas também tem os ganhos. E Santa Catarina tem muito a ganhar.