Como convencer pessoas que construir uma cadeia, obra longe de ter o apelo popular de um hospital ou uma creche, é uma boa notícia e não representa ameaça à vizinhança? Apesar de alguns focos de resistência de moradores do bairro Ponta Aguda à ampliação da estrutura que já existe na Rua Silvano Cândido da Silva, prefeitura de Blumenau e governo de Santa Catarina toparam a cabeluda missão de defender a implantação de um novo complexo prisional na cidade em audiência pública que ocorreu na última sexta-feira (21).
Continua depois da publicidade
> Receba notícias de Blumenau e do Vale pelo WhatsApp
Boa parte do encontro se resumiu a apontar os prováveis pontos positivos dessa história. A começar pela proposta, que fará de Blumenau um laboratório para parcerias público-privadas (PPPs) dentro do sistema prisional. Estado e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) formataram um modelo de concessão que é novidade nesta área no Brasil, em que a iniciativa privada entra com o investimento – estimado em R$ 255 milhões – necessário para a construção e fica responsável pela gestão do complexo.
Na visão do governo catarinense, manifestada em uma apresentação exibida durante a audiência, a concessão a um parceiro privado reduziria o custo público de manutenção dos presos. Uma gestão mais eficiente, entende o Estado, também poderia abrir caminho para uma queda nas ocorrências de fuga, o que por si só já seria um indicador relevante de segurança.
Mas o que mais é vantagem para Blumenau?
Continua depois da publicidade
O impacto mais visível à população será a desativação do atual Presídio Regional. Depois que o novo complexo estiver concluído, a estrutura existente na Rua General Osório será demolida. Ainda não há projeto pronto, mas em sua intervenção na audiência o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) resgatou uma ideia antiga: transformar aquela área, que tem cerca de 23 mil metros quadrados, em um novo parque nos moldes do Ramiro Ruediger.
O novo complexo prisional também terá efeito na economia. A estimativa é de uma geração de 1.260 postos de trabalho diretos, a maioria ocupada por detentos que atuariam em linhas de produção montadas dentro da unidade por empresas da região. Ao menos sete companhias já manifestaram interesse em contar com a mão de obra dos apenados.
A lista inclui nomes como Bella Arte (Gaspar), Decorli Materiais de Acabamento (Gaspar), Dicarlo Móveis e Acessórios (Blumenau), Dry Fit Confecções (Blumenau), Metalúrgica Siemsen (Brusque), Sepat Mult Service (Joinville) e Taschibra (Indaial). Destas, Bella Arte, Decorli e Metalúrgica Siemsen já têm convênios vigentes com os estabelecimentos prisionais (presídio e penitenciária) da cidade.
O próprio caixa do município também seria reforçado. Consolidado, o presídio-indústria resultaria numa arrecadação de ISS projetada em R$ 173 milhões ao longo dos 35 anos de concessão. Além disso, por se tratar de uma grande intervenção, o município deve exigir elaboração de estudo de impacto de vizinhança (EIV). O documento normalmente reivindica contrapartidas a serem feitas pela empresa vencedora da disputa. Neste caso, alterações no trânsito, principalmente, devem ser consideradas.
Continua depois da publicidade

Impacto social
Mais do que o retorno econômico, o novo complexo prisional representaria uma melhor oportunidade de ressocialização para os presos, avalia Hildebrandt. Embora não tenha sido ele o responsável por dar início às tratativas com o governo do Estado – que começaram em 2013 ainda na gestão de Napoleão Bernardes –, o prefeito é entusiasta da proposta. Primeiro porque ela está alinhada a uma bandeira própria de governo, a das concessões. Segundo porque a assistência social é um tema caro a Hildebrandt, que tem formação e trajetória política calcada na área.
— Esse é um dos pontos mais relevantes: poder gerar um complexo prisional que não seja apenas um depósito de gente, mas que dê oportunidade de trabalho para esse cidadão que está lá cumprindo sua pena. E ao mesmo tempo capacitar para quando sair ter uma nova profissão — avalia.
Próximos passos
A consulta pública para envio de sugestões e esclarecimento de dúvidas que envolvem o novo complexo prisional de Blumenau seguirá, em princípio, até a próxima sexta-feira (28). Durante a audiência, houve apelos para que o prazo fosse prorrogado. O governo de SC considerou analisar o pedido.
Vencida esta etapa, uma minuta da licitação deve ser encaminhada na sequência para análise do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A expectativa do governo é que o edital de concessão seja lançado em julho. A concorrência permitirá inclusive a participação de empresas estrangeiras. O leilão acontecerá na sede da B3, a bolsa de valores brasileira.
Continua depois da publicidade
O projeto
O novo complexo prisional será implementado na Rua Silvano Cândido da Silva, no bairro Ponta Aguda, onde hoje fica a Penitenciária Industrial. A proposta prevê uma estrutura de 127 mil metros quadrados com 2.979 vagas, mais do que dobrando a oferta do atual sistema.
Serão 1,6 mil vagas de regime fechado (penitenciária) espalhadas em duas unidades, 579 de regime semiaberto e outras 800 destinadas para detentos provisórios. Neste último caso, a estrutura da atual penitenciária será transformada em presídio, o que permitirá a desativação da unidade na Rua General Osório.
O projeto-base prevê um investimento de R$ 240 milhões nos primeiros dois dos 35 anos do contrato de concessão. A quantia foi apurada em um plano de negócios elaborado pelo consórcio contratado pelo BNDES. O montante inclui a construção e toda a equipagem do complexo. Outras três rodadas de investimentos, a título de reposição, estão previstas ao longo do período de concessão e somam cerca de R$ 16 milhões.
Além da construção, a empresa que vencer a licitação também vai precisar se responsabilizar por serviços de assistência social, de saúde, educacional e religiosa dos detentos. Permanecem com o governo do Estado as funções de direção, chefia e coordenação do complexo prisional.
Continua depois da publicidade
O valor estimado do contrato é de R$ 5,84 bilhões. As receitas da futura concessionária incluem uma contraprestação a ser paga mensalmente pelo governo do Estado, como forma de compensar os investimentos, e outras acessórias, como parcerias com as empresas que se instalarem dentro do complexo.
Receba notícias e análises do colunista Pedro Machado sobre economia, negócios e o cotidiano de Blumenau e região pelo WhatsApp ou Telegram
Leia também
Dono da Villa Germania em Indaial compra a maior produtora de codornas do Brasil
Futura concessão da rodoviária de Blumenau avança com entrega de estudo de viabilidade
Catarinense Senior Sistemas prepara entrada na Bolsa de Valores
Mudança em lei pode dar fim à novela do Edifício América em Blumenau, diz advogado
Empresa de Blumenau é vendida por R$ 85 milhões a multinacional bilionária do Canadá
Unifique desembolsa R$ 75 milhões e compra duas empresas em 10 dias
Marca Sulfabril é vendida e deve voltar ao mercado em 2022
Antiga fábrica de centenária empresa de SC é comprada por R$ 37,5 milhões em leilão