A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) buscou referências nos Estados Unidos da década de 1930 para elaborar um novo programa, que vai discutir o futuro e o papel da indústria do Estado pós-crise do novo coronavírus. Inspirado no New Deal, um conjunto de medidas adotadas pelos americanos para recuperar a economia depois da Grande Depressão de 1929, o Projeto Travessia foi lançado nesta sexta-feira (8).
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A iniciativa é ousada e quer tornar Santa Catarina uma referência mundial em desenvolvimento, crescimento e valor agregado. A proposta está sustentada em quatro pilares. O primeiro, principal e talvez o mais trabalhoso deles é uma reinvenção da economia, que não será mais como antes. Os outros três, já amplamente debatidos mesmo antes da crise, incluem infraestrutura para aumentar a competitividade do setor, capital para desenvolver e empreender e um pacto institucional entre os ecossistemas envolvidos.
Durante o evento, o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, insistiu em vários momentos na necessidade de uma política de reindustrialização no Brasil. O dirigente considera um equívoco que vários setores tenham transferido boa parte de processo de manufatura para o exterior, especialmente a China. Retomar isso ajudaria a amenizar o desemprego, uma das danosas consequências do coronavírus.
Outro assunto muito discutido no lançamento foi a necessidade de as empresas se adaptarem a uma nova realidade, que apresenta mudanças substanciais no comportamento do consumidor. O diretor de Inovação e Competitividade da Fiesc, José Eduardo Fiates, disse que as empresas precisam se “indignar com a incapacidade de promover mudanças”.
O documento completo do Projeto Travessia, com plano de ações, propostas e cronogramas, será divulgado na próxima semana.
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Fórum virtual discutiu desafios da indústria
A apresentação do projeto foi acompanhada de um fórum online, que reuniu sete representantes de grandes empresas de setores relevantes na economia catarinense. Cada um deles fez uma breve explanação dos desafios que o cenário de pandemia impõe e das transformações necessárias para que a indústria acompanhe essa nova realidade.
Na área de bens de consumo, Andrea Salgueiro Cruz, CEO da Whirlpool, fabricante de artigos de linha branca e dona de marcas como Brastemp e Consul, reiterou que o aumento do desemprego, com consequente baixa na renda, vai fazer com que as pessoas procurem mais produtos de “melhor equação de valor”. Ou seja, mais baratos, com mais descontos e que possam ser comprados e consumidos dentro de casa. Com isso, será preciso repensar o papel das lojas físicas.
O presidente da fundição Tupy, Fernando Rizzo, lembrou que o momento exige resiliência e que a alta do câmbio incentiva a nacionalização de vários componentes que o Brasil passou a importar nos últimos anos, abrindo oportunidades para a indústria. Ele ressaltou ainda a necessidade de reformas, com ênfase na tributária, e disse que empresas e governos não podem virar as costas para pessoas que vivem sem condições mínimas de qualidade.
Eduardo Sattamini, diretor-presidente da Engie, maior geradora de energia privada do Brasil, disse acreditar que empresas sem musculatura irão sucumbir nesse momento de crise, numa espécie de “seleção natural”. O executivo destacou que um dos efeitos da Covid-19 foi a queda de 14% na demanda de energia no país, o que comprova a redução da atividade econômica. Ele também defendeu que é preciso rediscutir a carga tributária que incide sobre um insumo tão estratégico para a indústria.
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Falando em nome dos setores têxtil e da moda, Amélia Malheiros, gestora da Fundação Hermann Hering, citou a importância dessa atividade na indústria brasileira – 1,5 milhão de empregos formais diretos, mais 8 milhões de indiretos, sem contar a informalidade. Para Amélia, as empresas precisam repensar seus propósitos e razões de existir. A inovação com cooperação e incentivo ao consumo local, como defende o movimento Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), é um caminho a ser seguido.
O presidente da WEG, Harry Schmelzer Jr., ressaltou a importância de se buscar soluções de capital de giro mais baratas, sob risco de as empresas ampliarem demissões ou até mesmo quebrarem. De acordo com ele, a indústria precisa voltar a ser enxergada como atividade essencial para o desenvolvimento nacional. Schmelzer também defendeu que o Brasil pode ser protagonista em novos negócios. Citou como exemplo o potencial que o país tem para ser um grande fornecedor mundial de ônibus e caminhões elétricos.
Representando o setor tecnológico do Estado, o CEO da Resultados Digitais, Eric Santos, disse que as empresas do segmento terão papel fundamental na retomada, por serem as grandes responsáveis por acelerar as transformações digitais em diversos setores da economia. Por fim, o vice-presidente para assuntos corporativos da Bunge Brasil e ex-ministro do Planejamento, Martus Tavares, traçou um cenário do momento político atual e acrescentou que o período de transição e administração da crise ainda pode demorar, por isso a importância na cobrança pelas reformas e pelos investimentos em infraestrutura.