O empresário Renato Medeiros, 59 anos, foi eleito nesta segunda-feira (26) presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), a mais poderosa entidade de classe local, com voz ativa no meio político e nas discussões que envolvem a cidade. Ele cumprirá mandato de dois anos ao lado da vice Christiane Buerger – que, se a tradição for mantida, se tornará a primeira mulher a chefiar a associação no futuro. A posse está marcada para 31 de maio.

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Natural de Blumenau, Medeiros cresceu no bairro da Velha. Já adulto, formou-se em Ciências Contábeis pela Furb e fez duas pós-graduações – uma em auditoria e gerência contábil e outra em gestão de negócios. Construiu carreira na Cia. Hering, onde trabalhou por 28 anos. Em 2004, assumiu a presidência da então Luminárias Blumenau – hoje Blumenau Iluminação –, empresa fundada pelo sogro.

O envolvimento com o associativismo é mais recente. Medeiros ingressou na Acib há oito anos a convite do ex-presidente Carlos Tavares D’Amaral, um velho amigo dos tempos de Hering que o queria na associação “não importa para o que fazer”, lembra ele com bom humor. Na entidade, acumulou o cargo de diretor para assuntos comunitários antes de, por duas vezes, ser o vice de Avelino Lombardi.

Nesta entrevista à coluna, Medeiros fala de bandeiras históricas defendidas pela Acib, aborda a falta de representatividade política de Blumenau, avalia a gestão local da pandemia e revela que uma das metas da sua gestão é abraçar mais o lado social, contribuindo para que a cidade melhore sua nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

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O que muda na gestão da Acib com o senhor na presidência?

Não é necessário fazer grandes mudanças. A história da Acib se confunde com a história de Blumenau. E ela vem de seguidas boas gestões dos ex-presidentes. A associação faz 120 anos neste ano e precisa ser mais digital. Talvez essa seja a principal mudança que a gente quer fazer. Temos as nossas bandeiras, algumas a curta prazo, como a conclusão da (duplicação da) BR-470. Outra, que nunca sairá da nossa pauta, são obras de contenção das cheias do Rio Itajaí-Açu. Agora vamos buscar um viés mais social. Já conversei com o prefeito Mário (Hildebrandt), com alguns conselheiros e com a Patrícia Lueders, que é a secretária de Educação. Queremos ajudar, como associação, a melhorar o Ideb de Blumenau. Como fazer? Ainda não sabemos. Blumenau tinha 6,5 de nota de Ideb e caiu para 6,2 em 2019 (média da rede pública nos anos iniciais). Estamos abaixo da média de SC, mas precisamos ser líderes.

O senhor cita algumas bandeiras antigas da Acib, relacionadas à infraestrutura, que até hoje não aconteceram. O que fazer de diferente para isso sair do papel?

A BR-470 está andando em ritmo bom. A gente teve participação na aprovação dos R$ 200 milhões, iniciativa do governo do Estado. A Acib conversou, mandou ofício para os deputados pedindo apoio, e tivemos êxito. O desafio é que a governadora (interina, Daniela Reinehr) libere esse dinheiro, porque agora depende da caneta dela. Como já fizeram os outros ex-presidentes, vamos nos aproximar da classe política, trazê-los para conversar. Eles são todos acessíveis, mas temos pouca representação. Isso já é chover no molhado e não tem muito o que fazer. Tem que esperar a próxima eleição para ver se a gente consegue aumentar a nossa representatividade.

É a melhor solução o aporte do governo de SC nas obras da BR-470, sendo que há outras obras estaduais pendentes na região?

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O governo do Estado tem mais de R$ 3 bilhões em caixa, isso dito pelo ex-secretário (da Fazenda) Paulo Eli. E não tem projetos para tudo. A economia de Santa Catarina está forte, crescente, mesmo com a pandemia. Os recordes de arrecadação estão acontecendo e nós temos que usar esse dinheiro, senão ele fica lá. Talvez o governador anterior não deixou todos os projetos que devia, talvez o próprio Moisés não fez. O que eu quero dizer é que tem dinheiro em caixa. Se não for (para obras), esse dinheiro vai se perder. Tem outras demandas? Tem. O próprio Santa publicou que a governadora deve vir aqui (a Blumenau) liberar a SC-108. Já tem dinheiro para tocar esse ano, verba orçamentária. Não falta dinheiro no Estado hoje. Se o governador Moisés não fez uma boa política, gestão de caixa ele fez.

Blumenau carece de representatividade política em nível estadual e não tem sido contemplada nos últimos governos com nomes locais na formação do primeiro escalão. Por que isso acontece?

Blumenau historicamente tem posições antagônicas ao governo do Estado, e isso não é bom. E isso vem lá dos primórdios. Quem leu o livro do centenário da Acib sabe que a cidade tem brigado sempre com o governo. O único governador da minha geração que fez grandes obras aqui foi o Luiz Henrique. Eu não consigo entender por quê. É a pergunta do milhão. Temos poucos deputados e eles não são unidos. Cada um puxa para um lado e acabamos dispersando os nossos 200 mil eleitores. É uma cidade grande, tem muito paraquedista. E aí os votos não caem aqui. Temos colégio eleitoral para eleger meia dúzia de deputados, pelo menos no Vale todo. Mas dispersa. Não conseguimos essa união.

Quais tem sido as maiores dificuldades das empresas e indústrias da cidade nessa pandemia?

No nosso segmento (indústria) o segundo semestre (de 2020) foi bom. Cama, mesa e banho, construção, foram fortes. O que as empresas sentem falta? Mão de obra qualificada. E acho que melhorando o Ideb é um primeiro passo. A segunda dificuldade é a burocracia, tanto municipal quanto estadual. Os órgãos ambientais são campeões. Eu levei nove meses para conseguir autorização para construir uma ampliação de fábrica. Tem também o gargalo logístico. Eu sou do tempo que embarcava o caminhão aqui no final do dia e ele amanhecia em São Paulo. Hoje, dependendo do horário que ele sair daqui, leva duas, três, quatro horas só para chegar na BR-101. Isso são coisas que a associação pode ajudar a resolver.

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Como?

Falando de gargalos logísticos, com cobrança e aproximação aos órgãos públicos, brigando, motivando a prestar contas à associação e trazer informações. Por exemplo, essa semana (passada) eu falei três vezes com o André Espezim (secretário-adjunto de Infraestrutura de SC). É um cara que nós temos no governo do Estado que está lá há alguns dias e está prestando contas. Se nós tivermos mais gente lá, com certeza a coisa vai andar. Quanto à burocracia, na parte de alvará de construção, é o pior cenário que temos no município. Já conversamos com a prefeitura sobre isso. É um caos, demora. Nós temos propostas, junto com o Sinduscon, porque é importante as associações estarem juntas e alinhadas, para tentar transformar aquilo em digital, com mais velocidade. E importante: a prefeitura ou o órgão público precisam ter prazo para devolver, porque você não sabe quando fica pronto, fica na fila. Precisa ter uma legislação, e a lei precisa pegar, para estabelecer prazos de devolução (da documentação). Às vezes volta porque faltou uma vírgula.

Qual avaliação o senhor faz da gestão da pandemia por parte da prefeitura?

Acho que é muito boa, tanto que Blumenau, considerando os municípios acima de 100 mil habitantes, tem o menor índice de mortalidade do Estado. Acho que foi boa dentro do possível. Passamos alguns sustos com a UTI, mas a gestão foi transparente. Posso falar que a Acib aprova. Blumenau, por exemplo, tem agendamento para vacina, o que é muito bom. Você olha em Itajaí, outras cidades, o pessoal nas filas de madrugada… Esse agendamento está funcionando bem.

Se fosse um gestor público, ou prefeito, o que faria de diferente?

Que pergunta difícil… Acho que investiria mais em UTIs, um investimento maior nos hospitais. Mas a condução (da gestão) foi boa, dentro do possível.

Qual a sua posição sobre medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus?

Sou contra. Acho que tem que ter fiscalização, mas deixar as pessoas trabalharem. Não pode ser economia ou saúde. Elas andam juntas. Um pai ou uma mãe de família desempregados causam problemas sociais. É muito ruim esses pequenos negócios, lojas, restaurantes… Sou contra o lockdown. Eu acho que tem que ter vigilância, regramento e normas. Sou pela iniciativa privada. Precisamos trabalhar, temos contas e impostos para pagar. Tem que deixar funcionar. Deixa a missa rodar, com 25% de público. Restaurante, mesa sim, mesa não, mas não fecha e vamos fiscalizar. Sempre vou defender o emprego e a iniciativa privada. Acho que muitos políticos até pensam assim, mas por ideologia fazem contra.

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Várias entidades privadas já manifestaram interesse em comprar doses da vacina por conta própria. Existe alguma articulação da Acib nesse sentido?

Não existe porque eu acho que isso está muito distante. As fábricas, e quem produz vacina, ainda não estão conseguindo atender os países. Acho que até as compras isoladas de municípios e estados, que serão antes das empresas, estão distantes. A própria Fecam já se prontificou para comprar a Sputnik, mas isso vai demorar. Para mim seria perder tempo discutindo isso agora. Pensando na segunda dose, para 2022, lógico que nós vamos nos envolver. A minha empresa, por exemplo, compra a H1N1 há uns cinco anos e a gente aplica aqui na fábrica. Em 2022, ótimo, acho que a iniciativa privada vai comprar a vacina. Mas para 2021 eu não acredito e não perderia tempo discutindo isso. Vamos terminar o ano e não vai ter produção suficiente para os países comprarem. Então tudo que se disser é falácia.

O que a Acib tem discutido sobre as novas medidas de redução de jornada e salário, encaminhadas pelo governo federal?

Eu sou favorável. A empresa que está com dificuldade deve aproveitar. É preciso pensar na longevidade, as empresas precisam se manter. Se tem esse benefício… Nós, no ano passado, usamos tudo que foi possível, seja postergação de impostos, os bancos fizeram postergação de pagamentos de empréstimos, fizemos redução de folha e jornada. Isso tudo deve ser aproveitado pelas empresas que precisarem. Até porque há segmentos e segmentos. Não está (a economia) às mil maravilhas porque muitas regiões do Brasil ainda estão fechadas.

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A nova diretoria da Acib

Presidente: Renato Medeiros (Pamplona Iluminação)
Vice-presidente: Christiane S. Buerger (Ártico Refrigeração)

Diretoria

Diretor Administrativo e Financeiro: Valdir Steinbach (Nusss & Steinbach Auditores Independentes)

Diretora para Assuntos de Comunicação e Relacionamento com Associado: Flávia Kurt (Véli RH)

Diretor para Assuntos de Turismo: Lothar Klemz (Hotel Glória)

Diretor para Assuntos Tributários: Marciel Eder Costa (Cia. Hering)

Diretora de Núcleos Empresariais: Caroline F. Kalvalage (Favero Consultoria e Treinamento)

Diretor para Assuntos de Bem Estar e Saúde: Guilherme De Toni (Ecomax Centro de Diagnóstico por Imagem)

Diretor para Assuntos de Comércio: Osnildo Maçaneiro (Cooper)

Diretor para Assuntos de Inovação: Everaldo Grahl (Fundação Fritz Müller)

Diretor para Assuntos de Desenvolvimento e Planejamento Urbano: Alberto Scheeffer Stein (Construtora Stein)

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Diretor para Assuntos da Indústria: Rui Hess de Souza (Karsten)

Diretor para Assuntos de Tecnologia da Informação: Carlos Valle (Senior Sistemas)

Diretor para Assuntos de Prestação de Serviços: Avelino Lombardi Jr. (Segura Segurança Privada)

Diretor para Assuntos Internacionais: Felipe Bittencourt (LPR Brasil)

Conselho Deliberativo (renovação de 1/3)

Ronaldo Baumgarten Junior (All4Labels Grafica do Brasil)

Claudete M. Wanderck (Centro de Atividades Físicas Long Life)

Eliezer da Silva Matos (Coteminas S.A.)

Paulo César Lopes (Supermercado Central)

Maro Marcos Hadlich Filho (Pabst & Hadlich Advogados Associados)

Osvaldo Luciani (Gráfica Elo)
Marcos Bellicanta (Habitat Incorporação)

Sérgio José Tomio (Proway Informática)

Maria Denise Ribeiro Ern (Acqua Sports Atividades Físicas)

Conselho Fiscal

Titulares:

Rolf Hartmann (Dúnamis Contabilidade)

Leomir Minozzo (Service Contabilidade)

Dietmar Piske (Altenburg Têxtil)

Suplentes:

Solange Rejane Schröder (Contal Contabilidade Treinamento e Assessoria)

Lucia Helena Victorino (Victon Consultoria Contábil e Empresarial)

Mara Denise Poffo Wilhelm (Contax Contabilidade)

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