A possibilidade de novas paralisações no transporte coletivo de Blumenau, anunciada nesta segunda-feira (24) pelo Sindetranscol, expõe um cabo de guerra em que, ao menos até agora, todos os diretamente envolvidos têm mais a perder do que ganhar.

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Os mais prejudicados são os usuários. Mesmo que eventuais novas interrupções respeitem decisão judicial e apenas parte dos trabalhadores cruze os braços, a perspectiva de os ônibus não saírem dos terminais atrapalha o cotidiano de quem deles depende para ir à escola ou ao trabalho. O mesmo motivo também pode afetar as empresas, que perdem produtividade com a possível ausência de funcionários que não chegarem a seus postos a tempo.

Motoristas e cobradores, por outro lado, correm o sério risco de ver a legítima pauta de melhores condições de trabalho ser distorcida e ignorada diante da insatisfação dos usuários. A maioria das pessoas, afinal, está alheia aos detalhes das negociações da convenção coletiva, repudia os interesses envolvidos e só quer ter a garantia de que haverá ônibus nas ruas para que elas saiam e retornem para as suas casas.

A Blumob igualmente sai perdendo nessa história toda. Incertezas sobre o funcionamento integral minam a credibilidade do sistema e afastam os usuários — os atuais e os possíveis novos. É um mau negócio porque a concessionária depende que mais pessoas andem de ônibus para tornar a operação mais rentável.

Aqui, aliás, não se trata de resumir a discussão à condenação do lucro — e sim cobrar que a qualidade do serviço seja compatível com ele. A Blumob é uma empresa privada, que não faz caridade. Se lucro é algo a ser abominável, a saída seria criar uma companhia pública para tocar o sistema. Com o município querendo “se livrar” de várias despesas com seu pacote de concessões, com dificuldades para entregar o básico, alguém realmente acredita que esta seria uma alternativa financeiramente viável no momento?

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A prefeitura também sai com a imagem arranhada. Por mais que as negociações, na esfera trabalhista, sejam restritas a empresa e funcionários, e ainda que fatores como o reajuste da tarifa hoje caibam a uma agência reguladora (Agir), o município, no final das contas, é o poder concedente. São aos gestores locais que a população recorre quando as coisas não vão bem.

O prefeito Mario Hildebrandt, particularmente, deveria demonstrar mais interesse em colocar um ponto final no imbróglio. Ele tem sido alvo de contundentes críticas do Sindetranscol. Em ano eleitoral, paralisações repentinas jogam contra a sua imagem e podem ser uma pedra no sapato nas suas pretensões de buscar a reeleição.

O sindicato está fazendo barulho em cima da situação. A Blumob tem optado pelo silêncio e só se manifesta sobre o caso via notas encaminhadas pela sua assessoria de imprensa. E à prefeitura tem faltado um posicionamento mais propositivo na busca por uma solução definitiva para essa novela.

Situações de conflito de interesses exigem que se busque compreender as razões de todas as partes envolvidas. Mas também é necessário que haja disposição para em algum momento ceder em nome do bem comum.

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