É quase impossível não ter visto, ouvido ou lido algo a respeito. O ovo decorado de Páscoa gigante de Pomerode já é um daqueles cases de sucesso inquestionáveis e forte candidato a arrebatar prêmios de marketing e turismo. A escultura de cerca de três toneladas, 15 metros de altura e nove metros de diâmetro, que rendeu à cidade mais alemã do Brasil o segundo registro em dois anos no Guinness, o livro dos recordes mundiais – o outro foi conferido à Osterbaum, árvore com 100 mil casquinhas de ovos coloridas, em 2017 –, se tornou figura obrigatória nos registros de fotos de casais, amigos e famílias que passam pelo Centro Cultural e de selfies de turistas que aproveitam esta época do ano para conhecer o Vale. Os últimos dias foram marcados por uma verdadeira overdose do ovo nas mais diferentes redes sociais.

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A grande estrela desta edição coroa a maturação do evento e ajudou a impulsionar os números da Osterfest 2019, que bateu recorde de público uma semana antes de seu encerramento. Até o dia 14 haviam sido contabilizados 210 mil visitantes (foram 150 mil em 2018), e a expectativa é de que até o próximo domingo, última oportunidade para conhecer ou revisitar a festa, sejam 250 mil – isso representa sete vezes a população pomerodense. A repercussão, no entanto, vai ainda mais além. A Avip, associação responsável pela programação, já computou mais de 500 registros da iniciativa em veículos de comunicação. São jornais, sites e emissoras de televisão e rádio que levam o nome de Pomerode para todos os cantos do Brasil e até do exterior. Na manhã deste sábado os holofotes serão garantidos pelo programa É de Casa, da Rede Globo. O anúncio foi feito por Zeca Camargo, um dos apresentadores da atração, no Facebook.

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A julgar pelo retorno de mídia, o ovo gigante foi uma pechincha. Custou R$ 100 mil, cerca de 15% do orçamento total da Osterfest, que é de R$ 700 mil. O valor foi custeado por empresários integrantes da Avip e inclui a montagem e os procedimentos necessários para inscrevê-lo no Guinness, por exemplo. Se o parâmetro for o retorno financeiro local, a relação custo-benefício é ainda melhor. No período da festa, hotéis e restaurantes ficam lotados. A entidade estima uma injeção de R$ 30 milhões na economia do município a partir do evento, quantia que inclui contratações, compra de insumos, investimentos para atender os turistas e a fatia lucrada por empresas e produtores de artesanato. O cálculo se baseia em metodologias adotadas por órgãos ligados ao turismo, como a Embratur. Leva em conta, ainda, um gasto médio considerado conservador, de R$ 120 por pessoa.

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Qual a mágica para transformar um investimento relativamente pequeno em um grande resultado? O empresário Ivan Blumenschein, fundador, primeiro presidente e atualmente integrante da diretoria executiva da Avip, revelou à coluna que tem ouvido essa pergunta com alguma frequência. Ele ensina a fórmula nem tão secreta assim: uma novidade que saltasse aos olhos e que ao mesmo tempo não fugisse dos costumes locais.

– Tentamos juntar uma coisa diferente, surpreendente e esteticamente bonita, que realmente tivesse relação com a cidade. Não teria tanta riqueza se você pegasse alguma coisa que não tem conexão com a identidade do município – conta.

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Ele se refere especialmente à tradição da cultura alemã em pintar casquinhas de ovos e também à artista plástica Silvana Pujol, conhecida localmente por esse tipo de trabalho. Rica em traços, formas e cores vivas, a principal atração da Osterfest deste ano é, na verdade, uma réplica gigante de uma das obras dela. A montagem da estrutura igualmente valorizou o talento local. Ficou sob a responsabilidade de uma equipe liderada pelo também artista plástico e escultor blumenauense João Siqueira.

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Outro ponto elencado por Blumenschein para o sucesso da Osterfest é a sintonia com os demais agentes envolvidos direta ou indiretamente na organização. Por mais que o salto de crescimento da festa tenha ocorrido a partir do momento em que a iniciativa privada assumiu a gestão, o empresário faz questão de enaltecer o trabalho do poder público. Cita a prefeitura como grande parceira em aspectos relacionados ao fluxo de trânsito – que dispara durante o evento, principalmente aos fins de semana – e também a outras ações desenvolvidas junto à comunidade que ajudam a fomentar o espírito da Páscoa.

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O próximo passo, a partir de agora, é manter a qualidade e o crescimento da festa “sem criar uma incomodação” para o morador, diz Blumenschein. Um dos caminhos é promover ações para diminuir a concentração de pessoas aos sábados e domingos, trazendo mais gente para os dias de semana – algo que a Oktoberfest de Blumenau tem feito com relativo sucesso nos últimos anos. O avanço exponencial do público, que ainda é predominantemente regional, cria um outro grande desafio: manter e ampliar uma infraestrutura que garanta o conforto de quem vem a Pomerode nesta época.

Nos últimos anos, isso já tem sido feito com o aumento do número de banheiros e de pontos de alimentação, entre outras mudanças. Uma pesquisa encomendada pela Avip junto aos visitantes, que será divulgada em detalhes provavelmente na próxima semana, revela a assertividade da estratégia. Números prévios indicam que 85% das pessoas entrevistadas pretendem voltar a Pomerode no ano que vem. Aspectos como limpeza, decoração e segurança também obtiveram altos índices de aprovação. Não se teve, por exemplo, registro de qualquer briga ou incidente mais grave até agora.

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— Apesar do crescimento de público, ainda conseguimos, com adequações nossas e da prefeitura, criar uma percepção de que o evento funcionou melhor do que no ano passado — comemora Blumenschein.

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Ao apostar cada vez mais no turismo, Pomerode, que já é forte na indústria e na gastronomia, comprova aquela máxima corporativa de que uma das melhores estratégias para o crescimento é distribuir os ovos em mais de uma cesta.