— Se eu não estou aqui para cuidar de vidas, eu vou cuidar do quê?

Com essa frase o então candidato Mário Hildebrandt (Podemos) marcava a primeira propaganda das Eleições 2020 a ir ao ar na TV, no já distante 9 de outubro passado. Era a estreia oficial no vídeo, ao menos na condição de protagonista em uma disputa a um cargo majoritário, do vice alçado a prefeito pelos movimentos do xadrez político de dois anos antes. O discurso do zelo pela vida não foi construído sob medida para uma campanha: já era frequente nas ações e nas lives do governo ao longo da gestão da pandemia.

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Quem acompanha a carreira de Hildebrandt sabe que por trás da figura política existe uma pessoa adepta de valores cristãos. Não raro o prefeito evoca o ideal de servir ao relembrar a própria trajetória – a graduação em Serviço Social, a atuação no Centro de Recuperação Nova Esperança (Cerene), a titularidade na Secretaria de Assistência Social, a presidência da antiga Fundação Pró-Família. Ao colocar fim ao mistério envolvendo a Oktoberfest Blumenau e confirmar o cancelamento da festa em 2021, o prefeito transpareceu os princípios de cuidado ao próximo que parecem ser tão caros a ele. 

Não foi uma decisão fácil – até mesmo gente favorável dizia não querer estar na pele do prefeito. Pesavam pela realização do evento o impacto financeiro – em cenário normal, injeção de R$ 240 milhões e geração de 6 mil empregos na economia local, números difíceis de ignorar – e a pressão daqueles que querem ao menos um resquício de normalidade após quase um ano e meio de pandemia. Sem contar no simbolismo de superação representada pela festa, que assim como o pós-enchentes do início da década de 1980 viria a calhar na atual crise sanitária. Tudo isso estava colocado à mesa enquanto tentava se ganhar tempo.

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No fim a saúde falou mais alto. Ao parecer contrário emitido pela Comissão de Enfrentamento da Covid-19, informação antecipada pelo colega Evandro de Assis ainda na quinta-feira (22), somaram-se exemplos negativos vindos da Europa. Países onde a vacinação está bem mais avançada do que no Brasil não conseguiram, mesmo com protocolos de testagem e monitoramento, evitar a transmissão do vírus em eventos com grande concentração de pessoas. Na decisão que também foi política, Hildebrandt comportou-se como o agente público ponderado que é, evitando riscos.

— Nós entendemos que precisamos cuidar da vida das pessoas. Quem não cuida da vida, não investe no futuro de uma cidade — disse o prefeito nesta sexta-feira (23), quase um ano depois do início da campanha eleitoral de 2020, ao justificar o cancelamento da Oktoberfest Blumenau.

Fale-se o que quiser de Hildebrandt, mas uma coisa não se pode negar: o discurso do prefeito durante toda a gestão dessa pandemia dificilmente oscilou de acordo com a circunstância. Na política, coerência é virtude cada vez mais rara.

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