A empresa vai embora? Os produtos e serviços irão perder qualidade? Os funcionários serão mantidos? Sempre que uma grande companhia de Blumenau é comprada surgem dúvidas e especulações sobre o seu futuro. Não foi diferente com a Hemmer, vendida para a gigante americana Kraft Heinz, e com o Laboratório Hemos, comprado pelo Grupo Sabin.
Estas não foram as primeira e nem serão as últimas grandes empresas blumenauenses a terem o controle acionário alterado. Operações desse tipo reforçam que a cidade é capaz de construir negócios duradouros, sólidos e rentáveis, que despertam a atenção de grandes conglomerados nacionais e internacionais.
Na maioria dos casos, ser incorporada por grupos maiores representa uma oportunidade para aperfeiçoar processos, acelerar o crescimento de marcas e ampliar a competitividade no mercado, algo mais difícil de se conseguir por conta própria.
A coluna separou outros exemplos de grandes companhias de Blumenau que foram vendidas desde o início dos anos 2000. Mesmo com a mudança de dono, a maior parte delas preservou vínculos com a cidade, seja mantendo operações com geração de empregos e arrecadação de impostos ou com outras ações.
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Confira a lista
Fundada em 1936, a Artex foi incorporada nos anos 2000 pela Coteminas e se tornou uma marca da empresa mineira, criada pelo ex-vice presidente da República José Alencar. O grupo não só manteve como investiu na modernização do parque fabril de 140 mil metros quadrados instalado em Blumenau. Hoje todas as marcas de maior valor agregado da companhia, em linhas de cama, mesa e banho, são produzidas na unidade, ressalta Celso Gonzaga, gerente de RH. O número de funcionários também cresceu: eram em torno de 1,2 mil quando a Artex foi vendida e atualmente são pouco mais de 1,8 mil. – (Foto: Reprodução)
A Mega Transformadores, fabricante de transformadores de energia, foi comprada em 2000 pela multinacional sueco-suíça ABB. À época, o valor do negócio não foi divulgado. Em 2004, os novos donos anunciaram um investimento de R$ 19 milhões na instalação de uma nova linha de produção, voltada ao mercado externo, na unidade blumenauense, até hoje em funcionamento na Itoupava Central. – (Foto: Reprodução)
Prestes a completar 20 anos, a Eisenbahn já mudou de dono algumas vezes. Fundada em 2002 com o nome de “ferrovia” em alemão – daí a logo em alusão a uma locomotiva –, foi adquirida em 2008 pelo Grupo Schincariol. Três anos depois, os proprietários da Schin negociaram a companhia com os japoneses da Kirin. Em 2017, a Heineken comprou a Brasil Kirin e assumiu o controle da marca. Desde que foi vendida, a Eisenbahn se popularizou, ganhou preços mais competitivos e cresceu em pontos de venda e consumo, embora tenha reduzido o portfólio. Nas mãos de grupos econômicos mais poderosos, os investimentos em marketing também cresceram. Entre 2015 e 2019, a Eisenbahn foi a cervejaria oficial da Oktoberfest Blumenau. – (Foto: Divulgação)
Em outubro de 2008, a empresa francesa Areva, fornecedora de equipamentos para o setor de energia, comprou a Waltec Equipamentos Elétricos. Mais tarde, em 2010, o braço de transmissão e distribuição de energia da Areva foi adquirido pela Alstom e Schneider Electric. A unidade instalada na Rua José Deeke, no bairro Salto, está em funcionamento até hoje. – (Foto: Patrick Rodrigues, BD)
Em 2010, a Philips comprou a Wheb Sistemas, empresa de Blumenau especializada em sistemas de gestão hospitalar. A aquisição reforçou a estratégia da multinacional holandesa de investir em soluções tecnológicas voltadas à área da saúde, numa transição do modelo de negócios até então concentrado em produtos eletrônicos. Em 2016, a Philips inaugurou no bairro Itoupava Norte um centro de desenvolvimento voltado à área de informática clínica, responsável, entre outros produtos, pelo Tasy, hoje comercializado em vários países. À época, a empresa informava ter 600 funcionários na unidade. Atualmente, já são aproximadamente 1,1 mil colaboradores diretos. – (Foto: Patrick Rodrigues, BD)
A Dudalina nasceu em Luiz Alves em 1957, mas por anos manteve a matriz em Blumenau, de onde conquistou mercado em todo país pela qualidade da linha de camisas sociais – inclusive femininas, que impulsionaram a marca. Em 2013, a empresa foi vendida para dois fundos de investimento americanos. Um ano depois, foi adquirida pela varejista Restoque. Este é um dos casos em que os novos donos cortaram totalmente os vínculos com a região. Fábricas da Dudalina em Benedito Novo, Luiz Alves e Presidente Getúlio foram fechadas. O prédio da antiga matriz, às margens da BR-470, também foi desativado e até hoje está à venda. – (Foto: Patrick Rodrigues, BD)
Desde setembro de 2016, a Bermo, fabricante de válvulas e equipamentos industriais, integra o Grupo ARI Armaturen, da Alemanha. A incorporação ocorreu após 21 anos de parceria como distribuidor exclusivo do grupo alemão no mercado brasileiro. Fundada em 1973, a empresa mantém unidade no bairro Salto do Norte – (Foto: Divulgação)
A Baumgarten não é exatamente um caso de venda. Em 2016, a centenária indústria gráfica anunciou uma fusão com as empresas alemãs Rako e X-Label. A união, finalizada dois anos depois, deu origem a uma nova companhia, a All4Labels, que nasceu como a terceira maior do mundo no mercado de rótulos impressos, a primeira entre aquelas de capital fechado, com 30 unidades fabris, 3 mil funcionários e faturamento superior a meio bilhão de dólares. À época, o empresário Ronaldo Baumgarten Jr. disse à coluna: “O sonho virou realidade. Hoje a Baumgarten já não é mais blumenauense. É global”. As instalações no Complexo do Badenfurt foram mantidas. – (Foto: Divulgação)
Em 2017, a CM Hospitalar, dona do Grupo Mafra (atual Viveo), anunciou a compra da Cremer por cerca de R$ 500 milhões. A operação foi concretizada após a aquisição de uma participação de 91% do negócio que até então pertencia à empresa de investimentos Tarpon. A Tarpon, por sua vez, havia comprado ações da fabricante de produtos para a saúde em 2007, quando a Cremer abriu capital. Mesmo pertencendo a outro conglomerado, a Cremer segue com operações em Blumenau, por meio de três fábricas que produzem itens de primeiros-socorros e artigos cirúrgicos, para tratamentos, higiene e bem-estar. Somando uma unidade em São Sebastião do Paraiso (MG), são mais de 2,3 mil funcionários. – (Foto: Luís Carlos Kriewall Filho, Especial, BD)
Desenvolvedora de softwares de gestão logística, a HBSIS foi comprada em 2019 pela Ambev, que já era cliente da empresa blumenauense. Com a aquisição, a gigante cervejeira passou a concentrar na cidade o desenvolvimento de novas tecnologias. A HBSIS virou uma espécie de braço tecnológico da Ambev. Mais tarde, passou a se chamar AmbevTech e mudou de endereço, ocupando um prédio corporativo maior no bairro Vila Nova. Hoje, a empresa soma cerca de 1,9 mil colaboradores. – (Foto: Divulgação)
Em março deste ano, a Viveo, holding nacional do setor de saúde e controladora da Cremer, anunciou a compra do Grupo FW, fabricante de lenços umedecidos e dona da marca Feel Clean. O negócio foi comunicado no prospecto inicial de oferta das ações da Viveo, que informou também, no documento, a aquisição da Daviso, concorrente do mesmo setor no interior de São Paulo. As duas operações envolveram R$ 300 milhões, mas os valores não foram divulgados em separado. – (Foto: Patrick Rodrigues, BD)
Em abril deste ano, a União Paroquial Luterana decidiu, em assembleia, encaminhar o Hospital Santa Catarina para a venda. Pelo menos oito propostas de grupos interessados em adquirir a instituição centenária foram avaliadas, mas o nome do grupo comprador ainda não foi divulgado. A maior oferta, segundo fontes próximas à negociação, estaria na casa dos R$ 200 milhões. A mantenedora da instituição informou que “a análise levou em conta não somente o valor financeiro, mas, em especial, os projetos que cada um dos interessados tem para o Hospital e para a saúde de Blumenau”. – (Foto: Divulgação)
Também em abril, a Cia. Hering aceitou uma proposta de compra do Grupo Soma, em uma transação de pouco mais de R$ 5 bilhões. Em julho, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a operação. Em setembro, foi a vez de acionistas darem aval ao negócio. As duas companhias informaram que ganham em sinergia e que a incorporação abre oportunidades de crescimento. Por se tratar de um movimento recente, eventuais mudanças devem demorar a serem percebidas. As operações da Cia. Hering em Blumenau, por enquanto, permanecem sem alterações. – (Foto: Patrick Rodrigues, BD)
A fabricante de molhos e conservas Hemmer aceitou nesta semana uma proposta de compra da multinacional americana Kraft Heinz. O negócio ainda depende de aprovação de órgãos reguladores. Os valores envolvidos não foram divulgados. A família Luef, proprietária da centenária companhia, permanecerá no comando da marca. O portfólio, em princípio, será mantido, assim como a fábrica de 20 mil metros quadrados em Blumenau, instalada no Badenfurt, onde trabalham cerca de 700 pessoas. – (Foto: Artur Moser, BD)
A Unimestre, empresa que desenvolve sistemas de gestão educacional, foi comprada em outubro de 2021 pela Plataforma A+, companhia do mesmo ramo com atuação nacional. O negócio envolveu um pagamento de R$ 29 milhões em dinheiro e ações. O empresário Claudionor Silveira, fundador da Unimestre, passou a ocupar a cadeira de diretor de Produto da Plataforma A+. Os outros três sócios – Anselmo Medeiros, Paulo Bonin e Valdecir Mengarda – também seguiram na empresa em suas respectivas áreas. Na foto, Alexandre Sayão, CEO da Plataforma A+. – (Foto: Divulgação)
Também em outubro de 2021, a fintech blumenauense PagueVeloz, que desenvolve soluções digitais de pagamentos, aceitou uma proposta de compra feita pela Serasa. O valor do negócio não foi divulgado. Com a incorporação, a PagueVeloz e seus 380 funcionários passaram a fazer parte do Grupo Serasa, com gestão independente e marca e estratégias mantidas. Os executivos Paulo Gomes (CEO), Nilton Spengler (diretor de operações) e José Henrique Kracik da Silva (diretor de tecnologia), da foto, permaneceram nas funções. – (Foto: Pedro Machado, BD)
Outra movimento de aquisição que ocorreu em outubro de 2021. A A7B, agência de marketing digital focada em performance para vendas, foi comprada pela Adtail, empresa gaúcha do mesmo ramo que tem escritórios em Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). O negócio incluiu a aquisição de 100% da A7B, que teve sua operação totalmente incorporada pelos novos donos. O valor da compra não foi divulgado. Na foto, o empresário André Bonanomi, fundador da A7B, que passou a ser o diretor de receita da Adtail, ao lado de Adriana Campos, CEO da companhia. – (Foto: Divulgação)
O Laboratório Hemos, especializado em exames médicos, com 13 unidades espalhadas em Blumenau, Gaspar, Timbó, Indaial e Pomerode, foi comprado no início de novembro de 2021 pelo Grupo Sabin, uma das principais empresas de medicina diagnóstica do Brasil. O acordo incluiu uma aquisição de 90% da participação societária por R$ 35 milhões. Embora tenha passado a fazer parte do Grupo Sabin, a venda não alterou a administração do Hemos. A médica hematologista Rosele Maria Branco permaneceu como sócia e gestora regional. – (Foto: Divulgação)
A startup blumenauense Velo foi comprada em dezembro de 2021 pelo QuintoAndar, plataforma de moradia que permite a busca de imóveis por meio de fotos de alta qualidade, com marcação de visitas, fechamento de aluguel e compra pela internet, com menos burocracia. A aquisição incluiu o total controle acionário. O valor do negócio não foi divulgado. – (Foto: Divulgação)
Neste caso não se trata da empresa, que teve a falência decretada em 1999 e encerrou as atividades em 2014, mas da marca homônima. Em dezembro de 2021, a Lunelli, indústria de moda com sede em Guaramirim, arrematou um conjunto de grifes da antiga Sulfabril, que já foi uma das maiores companhias do ramo na América Latina. Os novos donos têm planos de relançar a marca ao mercado. – (Foto: Lucas Amorelli, BD)
A Movidesk, que oferece soluções tecnológicas de atendimento e suporte a clientes, foi comprada em dezembro de 2021 pela Zenvia, companhia gaúcha que criou uma plataforma para aprimorar a comunicação entre empresas e clientes via WhatApp, SMS e voz. O valor do negócio não foi divulgado. Juntas, as duas companhias anunciaram que passariam a ter faturamento anual superior a R$ 600 milhões. – (Foto: Divulgação)
Na reta final de 2021, a Tecnoblu, fabricante de etiquetas, tags e acessórios para a indústria da moda, aceitou uma oferta de compra da CCL Industries, multinacional com sede em Toronto, no Canadá. A operação foi conduzida por meio da Checkpoint Brasil, braço de segurança e tecnologia da CCL. O negócio foi fechado por cerca de R$ 85 milhões. A marca e a matriz da Tecnoblu serão mantidas, informou a empresa. Além disso, a operação da Checkpoint, instalada em Vinhedo (SP), vai migrar para Blumenau. – (Foto: Reprodução)
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