Se existisse uma Olimpíada da boa gastronomia, empresas de Santa Catarina seriam fortes candidatas a fazer bonito no quadro de medalhas. Nos últimos anos, fabricantes de alimentos do Estado, que já é um reconhecido celeiro global de proteína animal, começaram a empilhar pódios em competições mundo afora com produtos de maior valor agregado. Em provas às cegas, iguarias e bebidas com DNA catarinense não apenas vêm caindo nas graças – e no gosto – de rigorosos jurados, mas também passaram a igualar, e muitas vezes até superar, a qualidade de marcas de renome internacional.

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Não se tem conhecimento de um levantamento mais amplo de medalhas conquistadas por produtos catarinenses em concursos mundiais da alta culinária, mas na história recente há casos que chamam a atenção pela coleção de vitórias. A coluna inicia neste domingo (18) uma série de reportagens que conta as histórias de alguns desses produtores campeões.

O primeiro exemplo vem de Pomerode, no Vale do Itajaí. Desde 2016, a fabricante de chocolates Nugali subiu ao pódio 37 vezes em competições internacionais. Foram 15 ouros, 10 pratas, 11 bronzes e uma honraria de melhor chocolate ao leite das Américas na edição de 2018 do International Chocolate Awards, um dos principais chanceladores de qualidade do setor.


As premiações coroam um negócio que surgiu, como tantos outros, a partir da percepção de uma oportunidade. Ivan Blumenschein e Maitê Lang eram engenheiros da Embraer e viajavam o mundo a trabalho. Antes de embarcarem rumo ao exterior, o casal costumava ouvir um apelo em comum de conhecidos:

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— A encomenda mais frequente de parentes e amigos era de chocolates — lembra Blumenschein.

Veja fotos da produção da Nugali

Foi a deixa para que ambos fossem estudar o segmento e se aventurassem na missão de empreender. Para garantir um chocolate de alta qualidade, a Nugali desenvolveu fornecedores na Bahia e no Pará e se tornou pioneira no Brasil no modelo “bean to bar”, quando o fabricante é responsável por todas as etapas da produção – da plantação do cacau em fazendas até a embalagem final. O cuidado no preparo e o toque de brasilidade na linha – alguns itens levam açaí e cupuaçu, por exemplo – ajudaram a abrir portas no mercado e catapultaram a marca ao reconhecimento internacional.

Hoje a Nugali é dona de 20% do mercado de “bean to bar” no Brasil e acumula produtos em prateleiras de 2 mil pontos de venda. A empresa não abre números do faturamento, mas vem crescendo, segundo Blumenschein, dois dígitos ao ano, em média. Parte dessa expansão foi impulsionada pela construção de uma nova fábrica em Pomerode. Inaugurada em 2019, a estrutura está aberta à visitação e hoje é um dos destinos turísticos mais procurados da cidade. Entre os pontos altos do local estão uma estufa que exala aromas de cacau e baunilha e biqueiras onde é possível experimentar chocolates direto da fonte.

O sucesso comercial da marca é tanto que tem chamado a atenção de investidores dispostos a injetar dinheiro no negócio. Até agora, no entanto, os proprietários vêm resistindo ao assédio.

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Desafio é fazer o consumidor provar o diferente, diz consultor

A indústria de alimentos e bebidas é uma das mais relevantes de Santa Catarina. Dados compilados pelo Observatório da Federação das Indústrias (Fiesc) mostram que o setor é o líder em exportações (US$ 2,06 bilhões), o quinto maior empregador (152 mil postos de trabalho) e o 14ª em número de empresas (cerca de 5 mil). A produção é tão diversificada quanto a própria economia catarinense. O Estado se destaca no abate de aves e suínos e no cultivo de peixes e de variados insumos e frutas, como cebola, alho, maçã, leite e tantos outros.

Apesar do alto potencial agrícola, analistas consideram ser relativamente recente, no Estado, o movimento para a criação de produtos alimentícios de maior valor agregado. É uma aposta que agora começa a ganhar mais força, avalia o consultor gastronômico e professor universitário Daniel Paiva.

— A gente saiu um pouco daquela visão de produto colonial, uma receita simples passada de família para família — considera.


Dentro dessa busca, não existe fórmula mágica para o sucesso. Apesar das diferenças e das peculiaridades de cada alimento ou bebida, empresas que vêm conquistando medalhas em concursos internacionais traçaram caminho semelhante: recorreram à literatura, visitaram fábricas, pesquisaram tendências, participaram de cursos e congressos, foram atrás de capacitação. E não acertaram de primeira.

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— Cada item premiado esconde 10, 20 versões que não deram certo — revela Ivan Blumenschein, da Nugali.

Para Paiva, as premiações ajudam a carregar a bandeira de Santa Catarina para todo o Brasil e o mundo e se tornam vitrines para bons produtos que nem sempre eram enxergados pelo mercado. Além disso, também servem para desmistificar um senso comum ainda bastante predominante no imaginário popular, de que o que vem de fora é melhor.

— É difícil quebrar a primeira barreira, que é fazer a pessoa provar. Esses títulos ajudam o consumidor a se interessar, valorizar e dar uma chance ao produto — analisa o consultor.

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