O maior incêndio da história de Blumenau queimou praticamente todo o patrimônio que a Free Action mantinha no prédio do antigo Celeiro do Vale. Mas não foi capaz de derreter a resiliência da direção e dos funcionários da montadora de bicicletas. Um ano após a fatídica noite de 7 de julho de 2022, a empresa virou a página, adaptou-se à nova realidade e foca no negócio. As lamentações ficaram no passado e a ordem é olhar para o futuro.
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— Quando a gente escolheu continuar, não havia outra alternativa a não ser evitar a ruptura (do negócio). A partir disso ficou tudo mais rápido e a tomada de decisão, mais simples — conta o diretor e proprietário da Free Action, Vanderley Shappo, em entrevista à coluna.
O prejuízo deixado pelo fogo até hoje é incalculável. Antes de as chamas consumirem componentes, pneus e 14 mil bicicletas em estoque no galpão localizado no bairro Salto do Norte, a fase era das melhores. A Free Action tinha cerca de 200 funcionários, caminhava para um faturamento anual próximo a R$ 120 milhões e vivia talvez o seu momento de maior maturidade empresarial, lembra Shappo.

O baque fez a empresa viver uma espécie de “velório”, conta o diretor. Passado o luto, a Free Action vem ressurgindo das cinzas. O planejamento de retorno começou quatro dias após a tragédia. No recomeço, com capital próprio, a operação precisou ser reduzida à metade. A produção dos quadros das bicicletas foi terceirizada com parceiros de outros estados. No novo endereço em Blumenau, na Rua Dr. Fritz Müeller, cerca de 100 colaboradores se dedicam principalmente à montagem das magrelas.
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Com produção menor, a saída foi filtrar a carteira de clientes e apostar em menos linhas de bicicletas, mas mais rentáveis e com garantia de entrega. Um dos grandes desafios, recorda Shappo, foi convencer o mercado de que era possível atender aos pedidos:
— Como a perda foi total, as pessoas até queriam, mas não imaginavam que a gente conseguiria. Havia desconfiança dos clientes, dos fornecedores — lembra o executivo.

A insegurança e o receio foram sendo quebrados aos poucos, com compromisso e transparência, acrescenta Shappo:
— A comunicação com os clientes foi a mesma que tivemos com os colaboradores. Chamamos para visitar, olhamos no olho e pedimos confiança.
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Hoje a Free Action monta em torno de 400 bicicletas por dia, metade do volume de antes do incêndio. Aos poucos, a empresa vem retomando a carteira de clientes e ampliando a base de atuação. Com o início do segundo semestre, virão pela frente datas importantes para o segmento, como o Dia das Crianças e o Natal, quando as vendas costumam aumentar. A proximidade do verão é outro fator que estimula as pessoas a pedalarem, avalia Shappo.

Com os pés no chão, o diretor fala em um “novo ciclo” para a Free Action, que inclui a abertura de uma nova loja de fábrica em agosto. O espaço terá showroom de toda a coleção atual das marcas da empresa. Shappo diz ter consciência de que tudo talvez não volte a ser o que era antes do incêndio. Mas isso já não é uma preocupação:
— A ideia não é restaurar o negócio antigo, mas olhar o comportamento do mercado, ver o que faz sentido e retomar em cima da realidade atual.
“E qual a lição que fica depois de tudo o que aconteceu?”, perguntou a coluna ao empresário. Apesar de já ter se questionado tanto do porquê das coisas, Shappo diz que a situação mostrou que é preciso “tomar uma jarra de humildade todo dia”, que pessoas estão acima de resultados e lucro e que sozinho ninguém é nada. O carinho recebido e o senso de reconstrução serviram de combustível para recomeçar. E todo recomeço, além de resiliência, requer também uma dose de bom humor.
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— Se a gente vivesse 200 anos, eu diria que todo mundo deveria passar por isso. Como a gente não vive 200 anos, é melhor não passar — brinca.
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