Passados os primeiros 100 dias de mandato do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o mercado segue acreditando que o país vai desamarrar os entraves do crescimento e enfim deslanchar após o período de recessão, mas está mais ressabiado.
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A agenda liberal do ministro Paulo Guedes e a proposta de reformar a Previdência social, colocada como prioridade número um da nova gestão, animam representantes do setor produtivo. Por outro lado, há certo temor de que polêmicas desnecessárias alimentadas por integrantes do primeiro escalão, pelos filhos de Bolsonaro e pelo próprio chefe do Executivo, principalmente em redes sociais, comprometam o capital político conquistado nas últimas eleições, colocando em xeque a capacidade de articulação exigida para a promoção de mudanças estruturais da máquina pública.
Essas turbulências vêm derrubando indicadores de confiança e projeções de incremento do PIB para 2019. O boletim Focus, do Banco Central, desta semana apontou queda na previsão do indicador pela sexta vez seguida, para 1,97%.
Lideranças empresariais de Blumenau ouvidas pela coluna corroboram esse diagnóstico, embora haja uma ponderação praticamente unânime entre elas: três meses é um período muito curto para se fazer qualquer análise mais aprofundada do governo.
Executivo do ramo gráfico e presidente da Câmara de Assuntos Legislativos da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Ronaldo Baumgarten Jr. admite que esperava uma tramitação mais rápida das reformas, em especial a da Previdência, mas encara eventuais embates do Executivo com o Congresso como “parte do jogo” da democracia. Para ele, o brasileiro tem uma característica de ser muito imediatista, posição que encontra eco no discurso de Hélio Roncáglio, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) local.
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— Se a gente pensar que o Brasil é uma empresa que estava sendo administrada de um jeito errado, não é em 90, 100 dias que você vai consertar — observa.
Mas há também, localmente, quem tenha visões mais críticas sobre alguns posicionamentos adotados até agora. O vice-presidente regional da Fiesc para o Vale e ex-presidente do Sintex, Ulrich Kuhn, ainda enxerga em Bolsonaro uma postura que por vezes lembra a de um político em campanha eleitoral, não de alguém que ocupa a cadeira da presidência. Nada, no entanto, que não possa ser revertido e altere a percepção de que as coisas vão mudar. Para Kuhn, o mais importante agora é o envolvimento direto do presidente nas negociações para a reforma do sistema de aposentadorias.
— O tema é tão vital para o país que ele tem que assumir a linha de frente — opina.
O cenário estadual
A análise do novo governo estadual é semelhante, mas reserva algumas diferenças pontuais. Embora Carlos Moisés da Silva seja do mesmo partido de Bolsonaro, igualmente venha de carreira militar e também represente o rompimento da “política tradicional”, há o entendimento de que, pelas circunstâncias da sua eleição e por não ter ocupado cargo eletivo anteriormente, ele precisa de um pouco mais de tempo até tomar total conhecimento do funcionamento da máquina pública.
— Diferentemente do presidente da República, ele não é político. É uma pessoa séria, mas que ainda não tem o conhecimento do todo — reflete Avelino Lombardi, presidente da Acib, que reitera a disposição das entidades em colaborar com o novo governo, mas cobra um diálogo mais efetivo de Moisés com as bases.
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Mote de campanha, a já anunciada reforma administrativa do Estado, que prevê a extinção das ADRs, fusão de secretarias, corte de cerca de 2 mil cargos comissionados e funções gratificadas, além de uma economia estimada em R$ 500 milhões em quatro anos, é vista com bons olhos por todas as lideranças ouvidas pela coluna.
— Essa atitude de extinguir as ADRs foi corajosa e pontual — acredita Elson Schutz, presidente da Ampe Blumenau.
Ainda há considerações positivas sobre a postura de Moisés de voltar atrás em questões relacionadas a incentivos fiscais, que provocaram polêmica no meio produtivo. Foi encarado como um gesto de humildade e de disposição ao diálogo do governador.