Por décadas a Bonet, fabricante catarinense de madeiras e papeis, correu o risco de fechar as portas e colocar um ponto final a uma história de quase 80 anos. Com uma dívida astronômica tida como impagável, resultado de um acúmulo de erros de gestão, a empresa encarou a desconfiança do mercado, viu-se amarrada na busca por capital e chegou a considerar um pedido de autofalência. Há cerca de duas semanas, no entanto, uma boa notícia renovou os ânimos e criou outra perspectiva de futuro.
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Depois de uma negociação exaustiva, que durou nove meses, a companhia alinhou com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a repactuação de um passivo superior a R$ 800 milhões, a maior parte referente a pendências tributárias e previdenciárias. O acordo, considerado o maior já feito no Sul do país, foi homologado no dia 18 de julho e garantiu um abatimento de 72% do valor da dívida, correspondente, principalmente, a juros e correção monetária. “Sobrou” um saldo de R$ 237 milhões, a ser quitado em até 10 anos.
— Já pagamos as duas primeiras parcelas – conta, com um misto de orgulho e alívio, o diretor-presidente Paulo Bonet, membro da família fundadora, mas que entrou na empresa só em 2004 depois de fazer carreira solo.
Foi por um triz que o então cenário de insolvência não fez tudo ruir. Sem os certificados de regularidade fiscal, a Bonet não conseguia pegar empréstimos e enfrentava dificuldades para fazer parcerias com fornecedores e grandes clientes. Por conta das dívidas, a empresa ficou com sua base florestal comprometida em ações de execução fiscal e chegou a perder a unidade fabril em Santa Cecília, no Meio Oeste catarinense, onde hoje fica a sede – Paulo mais tarde a compraria de volta, como pessoa física, em um leilão.
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Desde que assumiu o comando da operação, o executivo buscou identificar soluções para alguns problemas de gestão, mudou linhas da produção e decidiu apostar na sustentabilidade. Mas o quadro financeiro sempre foi um empecilho para virar o jogo de fato. Agora, sem as restrições impostas pelo alto endividamento, o telefone de Paulo começou a tocar, com interessados em parcerias do outro lado da linha. Ele projeta um novo ciclo de crescimento, com contratações e investimentos na fábrica para produção de embalagens sustentáveis.
— A transação tributária resgatou a nossa credibilidade. Isso pode servir de exemplo para outras empresas entenderem que há possibilidade de salvação do negócio — avalia.
Com cerca de 600 funcionários, a Bonet faturou R$ 235 milhões em 2022 e processou 38 mil toneladas de papel cartão na fábrica de Timbó Grande, utilizados na produção de copos e embalagens biodegradáveis. Um dos nichos que a empresa vem apostando é o da alimentação, na onda do crescimento do mercado de delivery desde a pandemia.
Embora projete para 2023 um faturamento semelhante ao de 2022, a Bonet mira um crescimento de 150% nos próximos três anos. Dona de bons ativos no setor – que incluem ainda pequenas centrais hidrelétricas para a geração de energia própria –, a companhia já recebeu sondagens, mas diz não ter interesse em uma venda neste momento.
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— Nós queremos crescer, atualizar o parque fabril. Não existe nenhuma intenção de venda. Existe uma intenção de reorganização interna, do ponto de vista de sucessão.
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