A menos de cinco meses das eleições municipais, uma pauta se impõe desde já como prioridade no debate entre aqueles que almejam assumir as prefeituras catarinenses: prevenção a desastres naturais. No Vale do Itajaí, o tópico é da mais alta relevância desde sempre, embora muitas vezes não ganhe a devida atenção dos candidatos. Na disputa de 2020 em Blumenau, seis dos 12 postulantes ao cargo de prefeito, como bem observou o jornalista Evandro de Assis na época, ignoraram o assunto em seus planos de governo.
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A tragédia sem precedentes no Rio Grande do Sul e a ocorrência cada vez mais frequente de enchentes em Santa Catarina, no entanto, tornaram a deixar o assunto em evidência. Não há mais como ignorá-lo, nem subestimar sua importância. Além da destruição material, esses desastres afetam o funcionamento regular de serviços essenciais na saúde e na educação, não raro atingem o abastecimento de luz e água, prejudicam a mobilidade com a interrupção de ruas e comprometem o abastecimento e a operação de fábricas e comércios.
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Os prejuízos são gerais e enormes. A perda de vidas é, incomparavelmente, a faceta mais cruel desse tipo de ocorrência. A economia também sofre. Em abril, o Comitê das Águas, criado pela Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), estimou que as chuvas que castigaram o Vale do Itajaí entre outubro e novembro do ano passado provocaram danos materiais de R$ 1,6 bilhão. Na iniciativa privada, o agronegócio perdeu R$ 5,8 bilhões e o comércio teve prejuízo de R$ 804,5 milhões.
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Outro documento, divulgado nesta semana pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), cita dados do Atlas Digital de Desastres do Brasil para apontar que, entre 1991 e 2022, desastres naturais causaram perdas de R$ 2,6 bilhões ao setor industrial no Estado. O montante é o maior do Brasil e mais do que o dobro do segundo colocado, o Espírito Santo (R$ 1,01 bilhão).
Para além das perdas financeiras, há traumas e feridas menos visíveis, que perduram por mais tempo mesmo depois de a situação climática se estabilizar. A presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Christiane Buerger, tem levantado uma questão importante em alguns fóruns da entidade, alertando para a preservação da saúde mental. E isso serve não apenas para os diretamente atingidos.
Se é impossível parar de fazer chover, por outro lado há conhecidas maneiras de se reduzir os impactos de enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra, seja com a construção de diques e barragens, proteção de encostas, combate ao desmatamento em áreas sensíveis – a vegetação ajuda a reter o excesso de água – e fiscalização contra ocupações urbanas em regiões de risco. É preciso planejamento e conhecimento de causa para evitar achismos. Mais ciência e vontade política.
Embora muitos dos investimentos necessários para mitigar fenômenos climáticos extremos sejam altos – praticamente inviáveis para orçamentos municipais – e de responsabilidade do Estado ou do governo federal, eleger prefeitos e vereadores verdadeiramente comprometidos com a causa é um primeiro passo. Cabe desconfiar, portanto, de candidatos de uma nota só, aqueles que se preocupam apenas em agradar um lado da torcida ideológica e miram a artilharia para pautas que têm pouco efeito prático na vida do cidadão comum. Estes, quando a água subir, tendem a ser afogados pela própria ignorância.
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