A absolvição do governador Carlos Moisés (PSL) no Tribunal do Impeachment que julgou o caso dos respiradores acabou consumando um pecado capital – bastante comum na política – cometido por Daniela Reinehr (sem partido) quando ela ainda tinha a caneta do governo na mão: prometer o que não pode ou não conseguiria cumprir. Na passagem por Blumenau na semana passada, ela disse que retornaria à região para anunciar a continuidade das obras da SC-108 e assinar o convênio para a construção do Centro de Convenções.
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— Determinei prioridade total e estamos ultimando os detalhes para anunciar na semana que vem a continuidade das obras da SC-108 — assegurou na ocasião, como registrou o colega Evandro de Assis.
Às vésperas de um julgamento em que os bastidores já indicavam a perda de poder, Daniela fez um movimento arriscado, embora calculado em um cenário desfavorável. Aproximou-se de prefeitos e afagou deputados – inclusive com indicações no governo – na tentativa de criar fatos novos para reverter um jogo difícil. Perdeu a aposta e agora entra na ingrata galeria de chefes do governo de Santa Catarina que se comprometeram com a cidade e saem de cena sem entregar o combinado. Falaram mas não executaram.
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A lista recente de promessas não cumpridas é recheada. Em março de 2017, quando exercia interinamente o cargo de governador do Estado, Eduardo Pinho Moreira (MDB) disse, da sacada do gabinete do então prefeito Napoleão Bernardes (à época no PSDB), que liberaria R$ 15 milhões para a revitalização da Margem Esquerda. A obra até hoje não foi concluída. Em novembro daquele ano, o governador Raimundo Colombo anunciou a uma plateia cheia no Centro Empresarial de Blumenau que liberaria recursos para o Centro de Convenções. Colombo deixou o governo, perdeu a disputa para o Senado em 2018 e até hoje o projeto não saiu do papel.
De volta ao comando do Estado, o próprio Moisés está em dívida com a cidade. Em setembro de 2019 ele já havia anunciado dinheiro para o Centro de Convenções. A prefeitura, é verdade, contribuiu para atrasar o processo ao mudar o local da obra – antes prevista para o setor 3 da Vila Germânica, agora para um terreno aos fundos do Galegão –, mas o novo projeto já está pronto e há tempos depende da liberação do orçamento do Estado.
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No caso de Daniela, há o atenuante do pouco tempo no cargo, das incertezas que rondaram a continuidade de um governo em meio à pandemia e à crise política e do sempre iminente retorno do titular da cadeira. São fatores que dificultaram a ela impor o próprio ritmo de gestão – embora não faltassem tentativas, ilustradas pelas inúmeras trocas de secretários. Mas que não justificam palavras de uma liderança política que mais uma vez ficarão ao vento. Essa história Blumenau já cansou de ouvir.
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A Moisés, por outro lado, resta pouco mais de um ano e meio de mandato para melhorar a imagem no cenário blumenauense, que não é das melhores. Em entrevista recente à coluna, o novo presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Renato Medeiros, resumiu um sentimento comum no setor produtivo local, que pode soar exagerado, mas é legítimo: “o único governador da minha geração que fez grandes obras aqui foi o Luiz Henrique (da Silveira)”. Faz tempo.
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