Em crise, escancarada com as demissões em massa feitas no último ano na fábrica de Blumenau, a Coteminas deu sinal de vida. A empresa têxtil usou um fato relevante divulgado ao mercado no início deste mês para trazer novas informações sobre a situação financeira e operacional do negócio. Manifestações deste tipo têm sido pouco comuns e limitadas, quando muito, aos balanços da companhia, que vêm sendo entregues com atraso – o último relatório disponível é o do primeiro trimestre de 2023.

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Neste documento de agora, publicado no dia 2 de abril, a Coteminas anuncia “a conclusão de importante etapa” no processo de reestruturação, que inclui negociações com credores para prolongar e reduzir dívidas. Com a venda de ativos não operacionais, a empresa informou que diminuiu o seu passivo em R$ 70 milhões. E acrescentou que está trabalhando para finalizar uma auditoria prévia (due diligence) da alienação de outro ativo, que levará a uma redução adicional de mais R$ 30 milhões.

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“Negociações que envolvem a dação em pagamento de outros ativos não operacionais cujo valor de mercado monta cerca de R$ 100 milhões estão em andamento com possibilidade de concretização ao longo das próximas semanas”, diz a empresa no documento.

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A Coteminas também sustenta que finalizou o alongamento de “parte relevante de seus passivos financeiros”, para cerca de oito anos, com taxas de juros mais baixas e vencimento final em 2033. Tratam-se de financiamentos que somam cerca de R$ 550 milhões.

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A companhia anunciou ainda que debêntures emitidas pela Ammo Varejo, braço do negócio que opera a rede de lojas das marcas Artex, Santista e MMartan, estão sendo negociadas “por conta do não cumprimento de certas cláusulas contratuais”. Em fevereiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), principal reguladora do mercado de capitais no Brasil, já havia cobrado explicações sobre o assunto.

Enxugamento

No mesmo fato relevante, a Coteminas cita a “consolidação de seu parque industrial”, confirmando a desativação de duas fábricas. Os locais das unidades não foram informados, mas a empresa adianta que os respectivos imóveis estão disponíveis para venda ou arrendamento. Fontes consultadas pela coluna disseram desconhecer algo que possa envolver a planta de Blumenau.

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“Após análise do mercado mundial de seus produtos (a administração) entendeu que a otimização do retorno e a recuperação de sua capacidade de geração de caixa envolve modelo operacional mais leve em ativos fixos e em capital de trabalho, alavancando os ativos intangíveis e o conhecimento dos mercados em que atua”, alegou a companhia, que também admite que o quadro de funcionários já vem sendo reduzido.

A Coteminas diz ainda que está para concretizar acordos comerciais preferenciais, com fornecedores exclusivos e prazos de pagamento “que levam a significativa redução de capital de giro”.

Motivos da crise

A Coteminas alega que, desde o fim da pandemia, vem tendo os negócios impactados negativamente por uma combinação de fatores, que vão, segundo a empresa, da queda na demanda por produtos para o ler, aumento de preços de insumos e elevação das taxas de juros no Brasil e no mundo. A empresa acrescenta que essa conjuntura fez com o que os custos com financiamento saltassem de 6% para 18% ao ano em “prazo extremamente curto”, o que desencadeou dificuldades financeiras e operacionais.

“A companhia e suas controladas, de modo a manter sua dívida financeira sobre controle, foram diminuindo suas operações usando o capital de trabalho liberado para fazer face ao aumento do custo financeiro, contudo, reduzindo sua capacidade operacional e de geração de caixa”, argumentou a Coteminas.

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A coluna tentou, mas até o momento desta publicação não conseguiu contato com a empresa para comentar o teor do fato relevante divulgado.

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