O isolamento social forçado pelo novo coronavírus pode representar uma janela de transformações nas relações de trabalho. E uma das principais delas é a proliferação do teletrabalho, ou trabalho à distância e até mesmo home office. A avaliação é do presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), Luis Otávio Camargo Pinto.

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A mais recente reforma trabalhista já trouxe novas regras para esta modalidade de emprego. Mas talvez nunca tenha se falado tanto sobre o assunto em tempos de pandemia global. Para alguns setores, como a tecnologia da informação, home office já é uma realidade – e as empresas do ramo foram as primeiras a liberar seus funcionários para trabalhar de casa. Diante da necessidade de se evitar aglomeração de pessoas, empresas e indústrias de outros segmentos, e até mesmo repartições e órgãos públicos, seguiram o mesmo caminho.

É claro que, em vários desses casos, trata-se de uma medida extrema, provocada por um fenômeno de exceção. Mas assim como em momentos de crise financeira, em que as empresas muitas vezes enxergam oportunidades para rever processos que reduzam custos, o atual cenário pode dar um empurrãozinho para a disseminação do home office. Talvez muitas companhias percebam ser possível que muitos de seus funcionários trabalhem de casa sem perda de qualidade do serviço.

— Temos hoje nas mãos a oportunidade de efetivar o teletrabalho de maneira plena — considera Camargo Pinto.

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A implantação é mais simples nas chamadas atividades intelectuais. Com a rotina de processos digitalizados, contabilidade e advocacia, por exemplo, não teriam necessidade de manter um escritório físico. Áreas de finanças e RH também. Na avaliação do presidente da Sobratt, muitas questões do dia a dia poderiam, como vem sendo feito, ser resolvidas por videoconferências.

Um estudo da SAP Consultoria em Recursos Humanos feito em 2018 mostra que, naquele ano, cresceu em 22% o número de companhias que adotaram o teletrabalho. O levantamento foi feito com 315 empresas de todo o Brasil, e usou como base de comparação a pesquisa anterior, realizada em 2016. Uma nova versão está no forno e, para Camargo Pinto, tem tudo para apontar uma expansão do modelo ainda maior.

Uma das grandes vantagens do teletrabalho é a flexibilidade de horários, explica Camargo Pinto. O home office também contribui, por tabela, a melhorar a mobilidade urbana, com menos carros e gente se deslocando nas ruas. Isso acaba tendo efeito ainda no meio ambiente. O isolamento provocado pelo coronavírus na Itália acabou resultando na diminuição de gases poluentes. Para as empresas, há a possibilidade de reduzir custos sem a manutenção de estruturas físicas.

O grande desafio, segundo Camargo Pinto, é manter a disciplina em casa. Ou seja, é preciso estabelecer horários dedicados ao trabalho e regras e metas, como se o profissional estivesse em um escritório. O presidente da Sobratt alerta ainda da importância de as empresas criarem programas de teletrabalho estruturados, que “não abandonem” a pessoa no lar.

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