De profissão muitas vezes marginalizada a trabalho essencial em tempos de novo coronavírus. Com restaurantes fechados e ordem das autoridades públicas para que as pessoas fiquem em casa, os motoboys vêm ganhando protagonismo e passaram a ser maioria nas ruas nos últimos dias. A demanda de delivery aumentou e muitos estabelecimentos de Blumenau reforçaram o time de entregadores, dizem profissionais do ramo.
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Protegido por uma máscara e com um frasco de álcool gel a postos para higienizar as mãos, Elias de Lira Silva, 51 anos, fazia entregas de restaurantes do Shopping Neumarkt no Centro de Blumenau no fim da manhã desta segunda-feira (23). À coluna, por telefone, resumiu a atual situação: “o trabalho não para”. Ele atende a encomendas feitas por aplicativos de comida e conta que as orientações sobre os cuidados com saúde chegam “a todo instante”.
— Os motoboys estão tendo muita atenção a respeito desse assunto. É o nosso ganha pão — conta.
Regras básicas incluem a higienização das bags (as bolsas que carregam os pedidos) no início e no fim de cada viagem. Nos restaurantes, conta Elias, há restrições para entrada de motoboys. Eles entram um por vez, no máximo em duplas. A orientação é lavar as mãos ao sair para as entregas e no retorno.
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A rotina de entrega para os clientes também mudou. Aplicativos como o iFood já disponibilizaram uma opção “sem contato”. Quem faz o pedido usa o chat da ferramenta para acionar o entregador e combinar o local e a melhor forma de pegar a comida. Isso vale para os pagamentos feitos direto na plataforma. Restaurantes, aliás, estão reforçando a recomendação para que se evite ao máximo a circulação de dinheiro vivo.
Ainda assim muita gente acaba pagando na hora. Nesses casos, o motoboy Jackson Guimarães, 28 anos, encontrou uma solução. Ao chegar no local de entrega, ele se apresenta ao cliente e se oferece para passar o cartão e digitar a senha. Isso evita que várias pessoas tenham contato com a máquina de pagamento, potencial transmissora do vírus. O que antes poderia ser visto com estranheza agora é encarado como uma medida preventiva bem-vinda pela maioria.
— A gente já tem cuidado pelo fato de lidar com alimentação. Mas agora tem que redobrar por causa do vírus — conta.
Categoria pede mais compreensão
O motoboy André Correia, 34 anos, faz entre 20 e 25 entregas por dia. Como a demanda aumentou bastante nos últimos dias, ele conta que pedidos que antes levavam de 40 minutos a uma hora agora são entregues em um prazo de uma a uma hora e meia. Além do volume maior de encomendas, os profissionais também estão preocupados em se higienizar a cada viagem. Tudo isso faz com que a comida chegue um pouco mais tarde a quem pediu.
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Há casos em que a demora tem provocado cancelamentos, trazendo prejuízos para entregadores e restaurantes. Muita gente também acaba sendo mal educada. Correia pede mais paciência e compreensão das pessoas e lembra que esses profissionais estão nas ruas, correndo riscos, para ajudar a população.
— A gente também tem família. Eu tenho minha esposa, minha filha de seis anos. Elas não saem de casa, mas eu estou fora, exposto. Meu medo maior não é nem por mim. É principalmente pela minha filha.
Mobilização para criar associação
Não se sabe ao certo quantos motoboys trabalham em Blumenau. Edson Ramos, conhecido no meio como Bolacha, acredita que deve existir “na faixa de uns 300”, contando entregadores de alimentos, peças e medicamentos. Ele integra um grupo chamado Motoboys Unidos, que se mobiliza para criar uma associação da categoria.
A assessora jurídica está sendo conduzida pelo advogado Flavio Linhares. A formalização de uma entidade representativa da classe, explica Linhares, teria alguns objetivos, entre eles desmistificar questões que envolvem o ofício, promover ações de conscientização de trânsito e dar suporte para profissionais vítimas de acidentes.
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