A autorização para que o comércio de rua volte às atividades em Santa Catarina a partir de segunda-feira (13), depois de quase um mês de portas fechadas, trouxe alívio a milhares de lojistas e trabalhadores de todo o Estado, mas é consenso entre varejistas que a retomada será lenta e repleta de desafios.
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Com o transporte público suspenso pelo menos até 30 de abril, a ida e a volta ao trabalho de quem depende de ônibus, por exemplo, ficarão comprometidas para boa parte dos funcionários. A ausência dos coletivos nas ruas também deve a inibir uma circulação maior da clientela. Táxi e aplicativos continuam rodando, mas são alternativas caras para quem não tem veículo próprio. Este, no entanto, deve ser o menor dos obstáculos.
Responsáveis por fazer a roda do comércio girar, os consumidores estão duplamente ressabiados. Primeiro: com exceção de uma parte da população que segue completamente alheia à gravidade da situação, muita gente teme a infecção pelo novo coronavírus e continuará respeitando o isolamento, evitando sair de casa. Segundo porque existe o medo do desemprego – que em Santa Catarina, segundo estimativa do Sebrae, já atinge cerca de 150 mil pessoas, e contando. Quem vai sair gastando no comércio e correr o risco de se endividar sem a garantia de que o trabalho está mantido?
— O movimento vai ser muito pequeno. Eu acho que as pessoas não vão querer riscos. Mas pode ter certeza que elas vão sair às ruas — acredita Helio Roncaglio, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Blumenau.
Na semana de reabertura do comércio a entidade vai colocar na rua uma campanha com sorteio de vale-compras – que já estava desenhada antes do estouro da pandemia – alusiva ao Dia das Mães, que neste ano será comemorado no dia 10 de maio. O movimento nestes cerca de 30 dias entre a liberação das lojas e a data, a segunda mais importante do ano para o varejo, atrás apenas do Natal, servirá também como um termômetro do bom humor do consumidor — e principalmente da disposição dele de abrir a carteira.
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Para os lojistas, a palavra de ordem é resiliência. É hora, segundo Roncaglio, de renegociar contratos e compras junto a fornecedores e buscar diferenciais de atendimento. O consumidor não deve esperar muitas promoções e liquidações, adianta o dirigente. Como as perdas são irreversíveis, ele avalia que não é o momento de minimizar as margens e queimar os estoques – até porque o abastecimento também pode ficar comprometido, já que as indústrias seguem operando a meia capacidade.
Na tentativa de compensar o difícil cenário, a CDL já sugeriu ampliar o horário de atendimento no comércio de Blumenau até às 20h, justamente para evitar aglomerações e dar mais tempo e segurança para os consumidores. A entidade também vem se preparando nos últimos dias, orientando os associados sobre as necessárias normas de saúde que precisarão ser seguidas por ordem do governo do Estado.
— A gente sabe que vai ter que ter esse compromisso para não voltar a fechar novamente — acrescenta Roncaglio.
Crescimento interrompido
A crise provocada pelo novo coronavírus interrompeu o que se desenhava ser um promissor primeiro trimestre para o varejo catarinense. Nos dois primeiros meses de 2020, o volume de vendas já contabilizava alta de 3% e a receita nominal, incremento de 7,2%, isso na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O isolamento social colocado em prática a partir da segunda quinzena de março será suficiente para derrubar todos esses números, embora os dados oficiais do mês ainda não tenham sido divulgados. O prejuízo será grande e muita gente terá de praticamente recomeçar do zero.
— Vai começar pequeno e levar algumas semanas até a pessoa sentir segurança para sair e ir nas lojas — aposta Emilio Schramm, presidente do Sindilojas Blumenau.