Comprar uma passagem do transporte coletivo de Blumenau antecipadamente sai mais barato do que pagar na catraca do ônibus. É assim desde dezembro de 2019 com a implantação da chamada tarifa embarcada, mas a vantagem para o usuário até então nunca foi significativa. Míseros dois centavos (de R$ 4,28, no cartão, para R$ 4,30 no dinheiro vivo) passaram longe de incentivar a bilhetagem eletrônica, um dos principais objetivos da diferenciação por baratear o sistema e reduzir filas provocadas pelo troco na entrada dos coletivos.
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Entre julho de 2017 e junho de 2018, período que compreende o primeiro ano de operação da Blumob, a média mensal de passageiros que pagaram a tarifa em dinheiro foi de 31%. Esse índice recuou para 29% no segundo ano da empresa na cidade. E um pouco mais, para 27%, entre julho de 2019 e fevereiro de 2020 – em parte desse período, portanto, a tarifa embarcada já era uma realidade. Os dados constam em um parecer da Agir, a agência reguladora que fiscaliza a concessão. Nesta conta, a coluna desconsiderou números de março do ano passado em diante porque a pandemia, como todos sabem, desarranjou o sistema.
Crise sanitária à parte, eis um fato: até antes do coronavírus dar as caras muita gente ainda pagava o ônibus em dinheiro vivo – já era assim no antigo Consórcio Siga, e a troca da empresa responsável pelo serviço não alterou a realidade. Essa situação, no entanto, tende a mudar com a entrada em vigor dos novos valores cobrados do usuário do transporte coletivo. Desde a última sexta-feira (26), quem ainda recorre a cédulas e moedas precisa desembolsar R$ 4,70. Os adeptos do cartão têm descontados R$ 4,50 dos créditos. A diferença de 20 centavos, agora, passa de fato a ser significativa e a pesar mais no orçamento do passageiro.
Este novo cenário vai mais uma vez testar o interesse do usuário pela bilhetagem eletrônica, a exemplo do que aconteceu em junho do ano passado quando a prefeitura suspendeu temporariamente o pagamento em dinheiro dentro dos ônibus – o entendimento era de que notas e moedas eram vetores de transmissão do coronavírus. A depender da adesão, o sistema terá subsídios para retomar um debate polêmico: a extinção da função de cobrador, uma das tantas recomendações listadas pela Agir para enxugar despesas e equilibrar a saúde financeira do sistema.
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> Câmara de Blumenau convoca agência reguladora a esclarecer sugestão de tarifa de ônibus a R$ 6,27
A possibilidade já é discutida há tempos nos bastidores, mas publicamente enfrenta pesada resistência do Sindetranscol, sobretudo pelo impacto social a ser gerado por eventuais demissões. A entidade que representa a categoria vinha mantendo certa discrição nos últimos tempos, mas reapareceu na última semana. Nas redes sociais, publicou um manifesto, no rastro do vazamento do parecer da Agir, criticando o que considera uma precarização do serviço em nome de interesses da empresa. E defendeu que tirar cobradores dos ônibus não deixou a tarifa de outras cidades mais em conta que a de Blumenau.
Enquanto o poder público prefere evitar o tema, o sindicato já tem a sua narrativa. Com ela, busca se antecipar a um debate que parece cada vez mais inevitável.
Obstáculo na lei
Quando de fato vier à tona, a discussão sobre tirar cobradores de dentro dos ônibus não ficará restrita a Blumob, sindicato, Agir e prefeitura. Ela passará também pela Câmara de Vereadores. Desde 2003 Blumenau tem lei municipal que exige que empresas permissionárias do transporte coletivo mantenham dois funcionários (motorista e cobrador) trabalhando dentro de cada veículo. Mudar essa condição dependeria de revogação da legislação, num processo que não escaparia de uma boa dose de politicagem.
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O texto ainda dá peso à figura de cobrador, ressaltando que ele deve auxiliar o motorista e os usuários “no critério de segurança e fiscalizar os benefícios e isenções”. Estes, aliás, também são argumentos utilizados pela categoria na defesa pela manutenção do posto. Fato inusitado: a lei foi proposta à época pelo então vereador Humberto Sackl, um dos donos da Glória. Era uma maneira, como diz o enunciado, de “manutenção do nível de emprego em razão da implantação do sistema eletrônico de passagens”.
Aliás
Embora se calcule quanto uma possível extinção dos cobradores possa ajudar a reduzir despesas da operação, com eventual impacto na passagem — em média eles representam 15% do custo —, a discussão sobre o futuro do transporte coletivo de Blumenau não pode se limitar a preço. A tarifa é só a ponta do iceberg de um problema maior.
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