Um passo atrás hoje para dar outros a frente no futuro. É assim que o presidente da Cativa Têxtil, Gilmar Sprung, justifica o que considera uma “amarga” escolha da empresa de pedir recuperação judicial. Uma das maiores indústrias de moda de Santa Catarina, com sede em Pomerode, acumula dívidas de R$ 120 milhões – dos quais cerca de R$ 100 milhões apenas com terceiros – e terá um longo caminho pela frente para sanar a situação financeira e convencer credores e mercado que ainda pode exercer papel de protagonista no setor.
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Sprung admite que pouco sabia sobre recuperação judicial e que está aprendendo na prática sobre esse mecanismo. Mas também diz estar convicto de que a decisão veio na hora certa, contrariando algumas pessoas que lhe disseram que a medida seria precipitada.
— A gente não tem que deixar para pedir uma recuperação judicial quando não tem mais recuperação. Não tenho dúvida nenhuma que vai dar certo — diz.
Formado por cinco empresas, o Grupo Cativa teve o pedido de recuperação judicial deferido pela Justiça no início de junho. Na petição, sustentou que desde 2015 vinha sofrendo com uma crise no setor de vestuário. Nesse meio tempo, o endividamento bancário cresceu, ao mesmo tempo em que a margem líquida do negócio encolheu.
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A situação se agravou com o cancelamento de pedidos, queda nas vendas no varejo e a inadimplência de clientes provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Aumento de custos com energia elétrica e impossibilidade de repassar custos de produção na ponta também teriam pesado.
Prevista em lei, a recuperação judicial é uma tentativa de evitar a falência a partir de uma reestruturação do negócio e das dívidas, mantendo a geração de empregos – são cerca de mil colaboradores diretos – e a arrecadação de impostos. O trabalho inclui um amplo pente-fino para identificar oportunidades para reduzir despesas e tornar a operação mais eficiente nas áreas administrativa, financeira e de vendas. Medidas duras já foram implementadas. Alguns colaboradores foram desligados e a unidade fabril de Mafra acabou sendo desativada no fim de maio.
Por outro lado, as perspectivas no horizonte são positivas. Há bom volume de pedidos já feitos para o restante do ano e os sinais de retomada da economia animam, especialmente porque a atual taxa de câmbio, na avaliação de Sprung, desestimula a entrada de produtos importados no país, abrindo oportunidades para peças nacionais.
— Fomos o setor que mais sofreu no primeiro momento, mas somos o que mais rápido está reagindo porque não dá tempo de importar — considera.
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Plano prevê alongamento do passivo e pedido por descontos
A Cativa planeja quitar as dívidas em um prazo de até 20 anos. A proposta para alongar o pagamento do passivo consta no plano de recuperação judicial elaborado pela empresa, que ainda está em fase de objeções e deve ser submetido à análise dos credores em assembleia geral, em data a ser marcada – provavelmente entre o final deste ano e o início de 2021.
O plano prioriza zerar débitos trabalhistas, que somam quase R$ 9 milhões, em até 12 meses. Para outras dívidas, que incluem principalmente bancos e fornecedores, a Cativa pede carência de 12 a 23 meses, descontos que variam de 30% a 70% e prazo de pagamento que, em alguns casos, chega a 240 meses.
Nomeado administrador judicial, profissional que faz a interlocução da empresa com o a Justiça, o advogado Pedro Cascaes acredita que a Cativa tem boas chances de se recuperar. Para ele a empresa, ao contrário de outros casos, recorreu à recuperação judicial no momento certo porque, apesar das dívidas, está com bons níveis de estoque e produção, além de ter clientes ativos.
— A Cativa não é uma empresa aventureira. Já tem 30 anos de mercado, uma marca consolidada e forte, um parque fabril super estruturado — avalia.
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Fundada em 1988, a Cativa ganhou corpo ao comercializar marcas próprias e por firmar contratos de licenciamento de grandes marcas, como a Disney. A empresa, que no ano passado registrou faturamento de R$ 237 milhões, tem unidades em Pomerode, Apiúna e Campo Grande (MS) e mais de 14 mil clientes ativos no país.
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