O forte calor que começa a dar as caras em Blumenau nesta época do ano reacende uma polêmica antiga, mas que nunca deixa de ser atual: por que os ônibus do transporte coletivo da cidade não têm ar-condicionado? O abafamento dentro dos veículos é uma das queixas frequentes dos usuários. Não foi diferente entre pessoas ouvidas pelo Jornal do Almoço da NSC TV em reportagem veiculada na semana passada que avaliou pontos de melhoria no sistema.
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A resposta para essa pergunta está longe de ser desconhecida: passa por uma questão financeira. Ao ser indagado pela repórter Valeska Lippel sobre o assunto, o diretor de Trânsito da Secretaria de Trânsito e Transportes de Blumenau, Lairto Leite, disse que a implantação de ar-condicionado em todos os ônibus da frota da Blumob resultaria em um aumento de no mínimo 20% no preço da tarifa. Pelo valor atual de R$ 4,30, estamos falando de uma majoração de 86 centavos. Ou seja, a passagem ultrapassaria a barreira dos R$ 5.
A coluna quis saber de Leite se esse percentual era resultado de um levantamento efetivo ou de uma estimativa. Ouviu como resposta que o cálculo foi feito quando o novo edital de concessão do transporte coletivo foi lançado, em 2016. Espaço de tempo a parte, ainda assim é um parâmetro válido.
Colocar ar-condicionado não apenas ampliaria os gastos com combustível e manutenção dos ônibus. Seria necessário, segundo Leite, um novo e significativo aporte para adaptar os carros da frota, que foram projetados e montados sem considerar esse diferencial. Como todos os veículos da Blumob são novos, com menos de três anos de circulação, esse é o tipo de investimento que não faria sentido neste momento, diz o diretor.
Teria sido mais simples se lá atrás a concessão tivesse previsto ônibus equipados com ar-condicionado. Na época, porém, o município alegou, a partir de consultas públicas, que essa não era uma prioridade na avaliação do usuário. Além disso, a opção foi por um edital mais conservador, visando uma transição menos radical do modelo. Para o passageiro, as novidades mais visíveis na largada da nova operação foram as tomadas USB e o wi-fi.
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É preciso lembrar ainda que a Blumob é uma empresa privada e não faz filantropia. Mira na concessão, portanto, uma operação lucrativa no longo prazo. Sua remuneração pela prestação do serviço vem de um percentual pré-definido da tarifa: 9,6% – hoje o equivalente a 41 centavos por passagem. Essa é a taxa que cabe a ela, independentemente do valor cobrado do usuário.
Se a prefeitura assim entender, pode rever o contrato com a Blumob. Nada impede que haja uma determinação para que todos os ônibus – ou ao menos alguns deles, como chegou a acontecer na época do antigo Consórcio Siga – tenham ar-condicionado. Mas é preciso levar em conta que a operação precisa de um equilíbrio financeiro. Considerando que a taxa de retorno da concessionária é fixa, eventuais investimentos serão cobrados na tarifa.
O grande ponto chave da discussão é: o blumenauense quer um transporte coletivo mais confortável ou o mais barato possível? Ou o mais importante é que ele seja apenas eficiente quanto à disponibilidade de linhas e cumprimento de horários? Diante dos desafios da mobilidade urbana e da profusão de aplicativos de carona e transporte particular, esse é um debate que deve estar permanentemente na pauta da cidade. O contrato firmado entre prefeitura e Blumob prevê revisão da operação a cada três anos. Em 2020, portanto, a discussão estará garantida.