O desfecho do impasse envolvendo a construção de uma nova policlínica regional no Médio Vale do Itajaí evidenciou como gestores de duas cidades, embora do mesmo partido, trataram de maneiras bem distintas a possibilidade de receber um investimento de R$ 30 milhões patrocinado pelo governo federal. Em Indaial, onde no fim será construída a unidade de saúde, o prefeito Silvio César da Silva (PL) celebrou o que classificou de “grande notícia” para a cidade e a região.

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“Com esse novo equipamento, vamos conseguir reduzir o tempo de espera para uma consulta de especialidades, pequenas cirurgias e exames. É com muito orgulho que anuncio que a policlínica regional será construída em Indaial”, disse Silva em um vídeo publicado nas redes sociais na noite da última quarta-feira (17), logo após receber a confirmação de que o projeto havia sido aprovado.

Nove dias antes, o prefeito de Blumenau, Egidio Ferrari (PL), correligionário de Silva, recorrera ao mesmo expediente, as redes, para dizer que a policlínica “parece uma boa notícia, mas na verdade não é bem assim”. Em um vídeo com trilha sonora em tom de suspense, Ferrari questionou os futuros custos de manutenção da estrutura, que nas contas dele chegariam a R$ 2 milhões por mês – a verba do Ministério da Saúde inclui somente construção e equipagem.

“Essa conta vai cair no colo da prefeitura de Blumenau”, sentencia o prefeito, que ainda colocou em dúvida se haveria alguém para dividir as despesas, considerando se tratar de uma unidade que atenderia outros municípios da região.

Ferrari vai além, citando a desatualização de repasses do governo federal para procedimentos de alta complexidade – de fato um problema que pressiona os custos locais. No fim, ainda partidariza a questão deixando no ar se seria possível “acreditar em uma promessa do PT”, dando margem para que um assunto de utilidade pública caísse no pantanoso terreno da polarização.

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A negativa de Blumenau, que era inicialmente a cidade mapeada mas alegou falta de áreas adequadas para a construção da policlínica – e pouco se mobilizou para buscar alternativas –, foi encarada como uma oportunidade pela cidade vizinha. A partir disso, a gestão local intensificou as tratativas com a deputada federal Ana Paula Lima (PT), porta-voz do governo federal na região, e também abriu frente de conversas com o Estado, que vai gerenciar a construção com o recurso da União.

Em poucas semanas, o assunto foi resolvido. A secretária de Saúde de Indaial, Jaqueline Mocelin, teve papel importante nessa articulação. Ela chegou a ocupar a mesma função em Blumenau em 2024, quando a cidade já discutia a possibilidade de receber a policlínica. Conhecia, portanto, o projeto, além de ter trânsito aberto com o secretário de Estado da Saúde, Diogo Demarchi, com quem já havia tratado diversas vezes no passado recente sobre recursos para a manutenção do Hospital Santa Isabel, entre outras demandas. Os caminhos foram encurtados.

No fim, Indaial, governada pelo PL, terá uma obra com as digitais do PT. Mas isso parece não incomodar o prefeito.

— Eu não tenho o direito de negar o recurso por uma questão partidária — disse Silva à coluna.

O local escolhido

Primeiro, a prefeitura de Indaial ofereceu uma área que não passou pelo crivo do governo federal. Depois, porém, acabou viabilizando um terreno de 12 mil metros quadrados na Rua Itu, bairro Benedito, com rápido acesso à BR-470 e à SC-477, uma logística que promete facilitar a vinda de pacientes de cidades vizinhas. O imóvel foi aprovado pelo Ministério da Saúde. Além de plano, o imóvel tem pouca vegetação rasteira, o que deve facilitar os trâmites de preparação.

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Envelheceu mal

O vídeo em que Egidio Ferrari questiona o investimento na policlínica em Blumenau acabou envelhecendo mal. Primeiro porque o custeio da estrutura será compartilhado dentro do sistema tripartite (União, Estado e municípios beneficiados), não caindo no colo apenas da cidade sede, como sugeriu o prefeito.

Segundo porque, mesmo considerando que Blumenau bancasse sozinha essa manutenção, os R$ 2 milhões mensais não soam tão impraticáveis para uma prefeitura que tem um orçamento anual para 2026 estimado em cerca de R$ 4,5 bilhões, dos quais cerca de R$ 310 milhões somente do Fundo Municipal de Saúde. No rearranjo orçamentário, tirando de lá e colocando ali sem comprometer o carimbo do recurso, é de se imaginar que seria possível cobrir esse valor. Esforço semelhante já foi feito para subsidiar parte do preço da passagem de ônibus, por exemplo.

Terceiro porque, ao falar que desde 2014 o governo federal não reajusta repasses de valores para procedimentos de alta complexidade, Ferrari não menciona que, neste meio tempo, houve um governo de Jair Bolsonaro – de quem é devoto – que também não resolveu o problema.

Quarto, e por último, porque a mobilização e a celebração da notícia por um prefeito de uma cidade vizinha, que também é do PL, revelaram uma articulação política que colocou diferenças partidárias em segundo plano.

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Modelos distintos

Para Indaial, a fatia que lhe caberá nas despesas de manutenção da policlínica deve ser abatida de custos que a prefeitura já tem para enviar a outras cidades os pacientes que precisam de procedimentos de saúde de alta complexidade. Em Blumenau, que prefere apostar na reativação do hospital universitário da Furb – que também terá custos de manutenção -, há uma oferta maiores de clínicas particulares, com quem o município pode firmar convênios para esses atendimentos.

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