O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, já chamou Lula (PT) de “presidiário”, “ladrão”, “corrupto” e “comunista furioso”. Quando ainda era candidato, também ameaçou não fazer negócios com países governados pela esquerda. Mas o próximo mandatário dos hermanos tratou de moderar o discurso ao longo da campanha que o elegeu para governar o país vizinho – um movimento que para muitos analistas lhe garantiu a vitória de virada. E agora parece ter hasteado a bandeira da paz na carta enviada neste domingo (26) ao colega brasileiro.
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Coube à futura chanceler argentina, Diana Mondino, o papel de emissária do recado a Lula – ela se reuniu no domingo com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Na carta, Milei diz querer compartilhar áreas de complementariedade entre os dois países em busca de crescimento e prosperidade para argentinos e brasileiros e desejou que o período em que ambos compartilharem os cargos de chefes de governo seja de “trabalho frutífero e de construção de laços”.
O teor estadista do documento (leia a íntegra abaixo) desafia o radicalismo ideológico que alçou o ultraliberal à vitória nas urnas diante do adversário peronista, Sergio Massa. Mas é só por isso que chama a atenção. No muitas vezes utópico mundo ideal, o comportamento civilizado seria o mínimo a se esperar da autoridade máxima de um país – sabemos que isso nem sempre acontece. Representantes de forças políticas distintas não precisam se gostar ou concordarem em tudo. Basta que respeitem as diferenças. Ou ao menos que se esforcem para tolerá-las.
O discurso segregador funciona muito bem na campanha para atrair votos de eleitores movidos à paixão ideológica. Na vida real o “buraco” é mais embaixo. Esquerda e direita sabem, ou pelo menos deveriam saber disso. Convicção e coerência são importantes, mas a política é a arte do consenso – e do pragmatismo acima de tudo. O Brasil é um dos principais parceiros comerciais da Argentina, com um fluxo de comércio exterior – que muitas vezes não enxerga cor partidária – benéfico para ambos os países. Não parece inteligente comprar uma briga para valer, de graça, com um vizinho importante quando se está com uma economia despedaçada.
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Se Milei tem juízo, certamente já entendeu isso. A carta enviada a Lula, com um convite para sua posse – o petista indica que não irá –, é um aceno diplomático. Não quer dizer que o argentino mudou de opinião em relação ao brasileiro, nem que os dois se tornarão melhores amigos. Mas sinaliza, mesmo que possa gerar certa desconfiança pela mudança de tom, que existe uma engrenagem que gira independentemente de quem está no topo do poder. O resto é pura gritaria para alimentar a militância nas redes sociais.
Leia a carta completa de Milei a Lula
Estimado senhor presidente,
Envio-lhe esta mensagem com minhas cordiais saudações e para transmitir-lhe meu convite para que se junte a mim, no próximo dia 10 de dezembro, nas cerimônias que serão realizadas aqui por ocasião da minha Assunção ao Comando Presidencial.
Sei que Vossa Excelência conhece e aprecia plenamente o que este momento de transição significa para a trajetória histórica da República Argentina, de seu povo e, naturalmente, para mim e para a equipe de colaboradores que me acompanharão na próxima gestão.
Ambas as nações têm muitos desafios pela frente e estou convencido de que as mudanças econômicas, sociais e culturais, baseadas nos princípios da liberdade, nos posicionarão como países competitivos nos quais seus cidadãos podem desenvolver suas capacidades ao máximo e, assim, escolher o futuro que desejam.
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Sabemos que nossos dois países estão intimamente ligados pela geografia e pela história e, com base nisso, desejamos continuar compartilhando áreas de complementaridade, no nível da integração física, do comércio e da presença internacional, o que permitirá que toda essa ação conjunta se traduza, de ambos os lados, em crescimento e prosperidade para argentinos e brasileiros.
Espero que nosso tempo juntos como Presidentes e Chefes de Governo seja um período de trabalho frutífero e de construção de laços que consolidem o papel que a Argentina e o Brasil podem e devem desempenhar no concerto das Nações.
Esperando poder encontrá-lo nesta próxima ocasião, receba meus cumprimentos com estima e respeito.
Javier Milei
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