A baderna geral nas estradas de todo o país nesta semana, motivada única e exclusivamente por birra de maus perdedores, voltou a escancarar um velho problema da nossa economia: a dependência do transporte rodoviário. Bastaram dois dias de BRs trancadas para o abastecimento de alimentos, remédios, combustíveis e insumos para a indústria ficar comprometido, bagunçando a cadeia produtiva de vários setores.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Blumenau e do Vale pelo WhatsApp
O Brasil se movimenta sobre rodas de caminhões. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) do ano passado atesta que o transporte rodoviário é responsável por 65% da matriz de cargas no país. A Secretaria Nacional de Trânsito, vinculada ao governo federal, vai um pouco mais longe ao estimar que 75% das mercadorias em território brasileiro são movimentadas por estradas.
Lideranças dos bloqueios das rodovias em SC serão identificadas pela PF
Um estudo de 2018 da Fundação Dom Cabral projetou que essa dependência será mantida pelo menos até 2035. Uma das razões apontadas por especialistas em logística é de que outros modais de transporte, como as ferrovias, são mais caros e não teriam impacto eleitoral no curto prazo. Para os governos de plantão, abrir estradas é mais vantajoso – pelo custo e pela “marca” deixada na gestão.
Continua depois da publicidade
Em Santa Catarina, onde avaliação da própria CNT aponta que muitas rodovias estão em condições precárias, há movimentos para tentar reverter essa lógica. Na última semana, o governador Carlos Moisés assinou ordens de serviço para contratação de projetos de duas novas ferrovias – um corredor sobre trilhos entre Chapecó e Correia Pinto e outro interportos, ligando Itajaí e Araquari – e de um plano de ação para o fortalecimento de aeródromos do Estado.
Da iniciativa privada virá o investimento na construção de um novo terminal aéreo de cargas na região Norte, cujo estudo começou a ser analisado pela prefeitura de Joinville na última semana. Pelo mar também podem surgir alternativas. Nos últimos anos, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) tem defendido a ampliação da cabotagem, que é a navegação entre portos.
Diversificar a matriz de transportes é um desafio de longo prazo, que exige projetos estruturados, financeiramente viáveis – o capital privado pode ajudar – e com um olhar de política de Estado, não de governo. Também é preciso desenvolver uma estratégia mais elaborada de rápida desobstrução das rodovias se isso voltar a acontecer. Até lá, o Brasil continuará sob o constante risco de arruaceiros antidemocráticos dispostos a travar o país em nome de teorias conspiratórias ou idolatria cega a políticos.
Incalculável
Os prejuízos à economia brasileira e catarinense com os bloqueios nas rodovias ainda não foram todos calculados – só em ICMS a projeção é de perda diária de R$ 47 milhões. Mas certamente haverá respingo no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2022. A conferir se Copa do Mundo, Black Friday, Natal e temporada de verão serão capazes de compensar os impactos
Continua depois da publicidade
Receba notícias e análises do colunista Pedro Machado pelo WhatsApp ou Telegram
Acesse também
Queijo de SC é eleito um dos melhores do mundo em concurso internacional
Joinville analisa a ampliação de dois condomínios industriais
Tradicional empresa têxtil de Brusque vai pedir recuperação judicial