A atividade econômica de Santa Catarina medida pelo Banco Central está crescendo três vezes mais do que a média nacional em 2019 – 2,8% contra 0,9% entre janeiro e outubro. Ao lado do Paraná, de Goiás, do Paraná e do Ceará, o Estado também integra uma seleta lista de unidades da federação que já se recuperaram efetivamente da crise. Ou seja, não apenas retomou o mesmo nível dos indicadores de 2014, último ano antes do início da recessão, como superou esses números.

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Estes foram alguns dos principais destaques do balanço do ano feito na tarde desta terça-feira pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). A apresentação foi comandada pelo presidente da entidade, Mario Cezar de Aguiar. No geral, a análise do dirigente industrial foi positiva. Ele lembrou que as projeções eram mais animadoras na largada de 2019 e arrefeceram com a relativa demora da aprovação da Reforma da Previdência, mas que o segundo semestre já apresentou cenários mais animadores.

— A curva (de crescimento) que era descendente passou a ser ascendente — destacou Aguiar.

Além da atividade econômica, a Fiesc monitora outros 11 indicadores relacionados ao setor produtivo (veja abaixo). Em praticamente todos eles, considerando a média, Santa Catarina vem se saindo melhor do que o Brasil. A produção industrial catarinense, por exemplo, avançou 2,6% entre janeiro e outubro, contra queda de 1,1% no país. As vendas industriais do Estado no mesmo período subiram 2,4%, diante de um retrocesso também de 1,1% em nível nacional.

Em relação ao mercado de trabalho, outra notícia positiva: Santa Catarina é o estado brasileiro que mais gerou empregos na indústria da transformação nos primeiros dez meses de 2019 (36.557 contra 34.899 de São Paulo). Este é um indicador que garante à economia catarinense a menor taxa de desocupação do país: 5,8% no trimestre entre julho e setembro, a metade do índice nacional no período (11,8%).

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Para Aguiar, esse é um cenário de “quase pleno emprego”. Ele credita o bom desempenho a alguns fatores. Um deles, bastante conhecido, é a diversidade da indústria catarinense. Com polos regionais, um segmento acaba compensando quando outro vai mal. O outro é o perfil do empreendedor local. A maioria das grandes empresas em operação em Santa Catarina nasceram no Estado, ainda têm raízes familiares e costumam reinvestir seus resultados, gerando renda e postos de trabalho.

— Isso nem sempre acontece com multinacionais, que muitas vezes remetem os investimentos para seus países de origem — avaliou o presidente da Fiesc.

É também por essa característica que a entidade tem batido na tecla dos incentivos fiscais. Na apresentação a jornalistas, Aguiar revelou que muitas empresas locais têm sido sondadas por secretários, prefeitos e governadores de fora. O presidente da federação citou Goiás, Espírito Santo, Bahia e Ceará como exemplos de estados com políticas agressivas de atração de indústrias, com benefícios fiscais e mão de obra mais barata. O Paraguai também entra nessa lista.

— Por isso defendemos tanto a manutenção dos incentivos, para que essas indústrias permaneçam no Estado e sejam compensadas pela deficiência da infraestrutura — comentou Aguiar.

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A infraestrutura, aliás, seguirá como principal obstáculo para o desenvolvimento da indústria catarinense nos próximos anos. Um estudo apresentado recentemente pela Fiesc mostra que, até 2023, o Estado precisaria de um aporte de R$ 11,5 bilhões para manter e ampliar a eficiência logística em todos os seus modais – rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Só as estradas carecem de R$ 8,8 bilhões.

Por ano, seriam necessários cerca de R$ 2,89 bilhões para fazer frente a essas demandas, mas as notícias que chegam de Brasília não são animadoras. Segundo Aguiar, o orçamento da União para 2020 prevê apenas R$ 120 milhões para a infraestrutura de Santa Catarina. O montante pode chegar a R$ 500 milhões com as emendas impositivas, mas ainda assim ficaria bem aquém do necessário. As concessões, avalia o presidente da federação, ajudariam a acelerar a chegada de recursos.

Desafios no comércio internacional

Apesar de a peste suína na China ter aberto mercado para as carnes catarinenses no gigante asiático, as exportações do Estado acumulam queda de 3,7% entre janeiro e novembro. Crises na Argentina e no Chile, dois dos principais parceiros comerciais de Santa Catarina, pesaram nessa conta, avaliou Aguiar. A guerra comercial entre China e Estados Unidos é outro fator que não pode sair do radar dos industriais locais, acrescentou.

As importações, por outro lado, avançaram 7,6%, fazendo com que a balança comercial acumule um déficit de US$ 7,37 bilhões em 2019. O resultado, no entanto, não sinaliza uma deficiência do Estado, na avaliação da Fiesc. Como Santa Catarina tem uma boa rede de portos, acaba recebendo muitos insumos e mercadorias importadas que são registradas aqui, mas abastecem outros estados do país, observou Aguiar.

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A aposta da federação é que, diante de uma taxa de câmbio que inibe a importação e o cenário externo conturbado, a produção brasileira deve ser ativada pelo consumo interno, que ficou represado por muito tempo em meio à recessão. Por isso, é de interesse de Santa Catarina que os demais estados também acelerem o processo de retomada econômica, abrindo assim novas oportunidades de negócios.