Muita água vai rolar até as eleições municipais de outubro, mas já é possível ler alguns movimentos nesse período que antecede a disputa. Enquanto as articulações se intensificam nos bastidores, Mario Hildebrandt (sem partido) e Ricardo Alba (PSL), os dois nomes mais dados como certos na busca pela prefeitura de Blumenau até agora, têm buscado chamar a atenção da ala “liberal na economia e conservadora nos costumes”. Em outras palavras, estão de olho no eleitorado que deu vitória esmagadora a Jair Bolsonaro (83% dos votos válidos na cidade) na eleição presidencial de 2018.
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Um exemplo recente sugere essa estratégia de colar na imagem do presidente. Tanto Alba quanto Hildebrandt usaram as redes sociais entre domingo (23) e terça-feira (25) para criticar o fato de Bolsonaro ter sido retratado como o palhaço Bozo no desfile da Acadêmicos de Vigário Geral, escola de samba que integra a divisão de acesso do Carnaval do Rio de Janeiro. Enquanto o deputado estadual classificou o episódio como uma “tentativa clara de tentar ridicularizar o nosso presidente Bolsonaro e seus apoiadores”, o prefeito de Blumenau escreveu que a festa “virou palco político, que não aceita a decisão da maioria dos eleitores brasileiros que elegeu Jair Bolsonaro presidente”.
O alinhamento com o discurso do capitão da reserva que se tornou mandatário do país não é uma novidade para Alba. Em 2016, ele se consolidou como uma das vozes mais ativas nos movimentos de rua em Blumenau que saíram em defesa da Operação Lava-Jato e pediam o impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff. A projeção o catapultou à Câmara de Vereadores. Dois anos depois, Alba surfou no bolsonarismo e foi um dos principais beneficiados da “onda 17”, tornando-se o deputado estadual mais votado da atual legislatura da Assembleia.
Hildebrandt, por outro lado, embarcou nesse bonde com mais ênfase, ao menos publicamente, um pouco mais tarde. Foi nas eleições de 2018, quando, já alçado ao cargo de prefeito de Blumenau, chegou a gravar e distribuir um vídeo anunciando voto em Bolsonaro. Desde então, ele tem endossado o apoio ao presidente. Os movimentos mais recentes incluem a proximidade com o empresário Luciano Hang, ferrenho defensor do capitão da reserva nas redes sociais, e a participação de um evento no início de fevereiro de apoio à criação do Aliança Pelo Brasil, o futuro partido de Bolsonaro – embora a sigla não deve estar pronta a tempo para o pleito municipal deste ano.
A conferir qual será o tom daqui para frente, sem se esquecer das peculiaridades de uma eleição municipal. Localmente, costuma pesar mais para o eleitor a proximidade do candidato com as bases do que o partido pelo qual ele concorre. Além disso, outros nomes também ensaiam candidatura e Blumenau não deve ter, ao contrário do que aconteceu em nível nacional em 2018, uma disputa polarizada em ideologias completamente antagônicas.
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Outubro próximo poderá ser considerado uma espécie de termômetro. Deve ajudar a deixar mais claro o que teve maior peso para o voto majoritário de dois anos atrás: a ojeriza à esquerda, representada pelo antipetismo, o desejo de mudança ou o alinhamento ao discurso conservador nos costumes e liberal na economia. Ou uma junção de tudo isso. As urnas, sempre elas, dirão.