Na segunda-feira (20), primeiro dia de uso obrigatório de máscaras em espaços públicos de Blumenau, escrevi aqui neste espaço sobre bons exemplos. As equipes de reportagem da NSC — que, vale frisar, só estão saindo às ruas a trabalho e apenas em situações realmente necessárias — constataram que a maioria das pessoas circulava pelo Centro da cidade vestindo o equipamento de proteção, numa demonstração que considerei de entendimento à gravidade da pandemia do novo coronavírus. Nesta quarta, outro exemplo chamou a atenção. Mas, desta vez, negativo.
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A reabertura do Neumarkt, um dos três shoppings de Blumenau que estavam fechados há mais de um mês, provocou um cenário pitoresco: gente entrando, em fila, com tapete vermelho e aplausos de funcionários e ao som da melodia de Have You Ever Seen The Rain, clássico da banda Creedence executado por um saxofonista que muito provavelmente não poderia estar ali — o decreto do governo do Estado que permite que centros comerciais voltem a atender veta apresentações musicais justamente para evitar concentração de pessoas.
Um vídeo que registrou a cena rapidamente viralizou. Virou meme e parou até na lista dos assuntos mais falados do Twitter no Brasil. Vários comentários ridicularizaram a situação. Outros tantos alertam dos perigos e de um suposto descaso das pessoas com a pandemia. Há registros de o que a cena se repetiu em um shopping de Balneário Camboriú e também em outras cidades.
É compreensível que as pessoas, empresários e lojistas celebrem um certo retorno à normalidade, dentro, claro, das condições que a situação atual impõe. O confinamento, afinal, cansa. Com a recepção de gala com direito a apresentação musical, o shopping provavelmente tinha a intenção de tornar esse momento mais leve e agradável. Foi uma ação de marketing de relacionamento que, pela repercussão negativa, obviamente deu errado. O tiro saiu pela culatra.
Reconheça-se: as pessoas usavam máscaras e funcionários do shopping forneciam álcool gel para limpeza das mãos, medidas obrigatórias e impostas pelo governo do Estado. Mas o que mais chama a atenção no episódio é a aglomeração. A quantidade de idosos nas imagens, um dos principais grupos de risco da Covid-19, também assusta.
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É até comum vermos filas se formarem diante de estabelecimentos comerciais que fazem liquidações ou que estão prestes a inaugurar. Não era o caso. Cada um sabe das suas prioridades, mas o que há de tão importante para fazer dentro de um shopping no primeiro horário, no primeiro dia, que não pudesse ser resolvido em outro lugar ou em outro momento?
A volta à normalidade deve ser encarada justamente com… normalidade. Fazer fila pra entrar em shopping ao som de notas de saxofone, convenhamos, está longe de ser algo normal, comum. A flexibilização da rotina exige responsabilidade de cada um de nós, principalmente no comportamento individual. O efeito manada em nada contribui para isso.