A partir do momento em que tomar posse, em cerimônia marcada para a tarde desta quarta-feira (1º), Egidio Ferrari (PL) muda a chave de delegado de polícia e deputado estadual para a de prefeito da terceira maior cidade de Santa Catarina.
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Com quatro anos de mandato pela frente, o novo chefe do Executivo municipal assume um município com bons indicadores sociais e econômicos, mas com vários desafios. A coluna sugere alguns deles a seguir, não necessariamente listados em ordem de prioridade:
1 – Acabar com problemas de abastecimento de água
Falhas no abastecimento de água têm sido frequentes em Blumenau principalmente no verão, quando o consumo aumenta. O governo Mário Hildebrandt (PL) fez investimentos recentes na área, como o início da construção de uma nova estação de tratamento (ETA 5) no bairro Salto do Norte para atender sete bairros da região Norte e a ampliação da capacidade das ETA 2 (Salto) e 4 (Vila Itoupava). À nova gestão cabe dar sequência às melhorias.
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2 – Passar o Samae a limpo
Nos últimos anos, o Samae, autarquia responsável pelo abastecimento de água em Blumenau, tem sido alvo da polícia. Em 2020, na operação Soldo Inflado, a Polícia Civil investigou pagamentos irregulares de horas extras a funcionários. Em 2023, outra ação policial cumpriu 22 mandados de busca e outros cinco de prisão em uma investigação que apurou fraude à licitação e desvio de dinheiro público.
Os indícios de corrupção foram amplamente explorados pela oposição durante as eleições municipais de 2024. Para tentar colocar ordem na casa, Ferrari indicou Alexandre Vargas, ex-colega da Polícia Civil e homem de sua confiança, para o comando da autarquia. Em entrevista à coluna, que será publicada neste fim de semana, o novo prefeito prometeu “acabar com qualquer possibilidade de confusão ou de desvios” no Samae ao colocar “a polícia lá dentro”.
3 – Tornar o transporte coletivo mais atrativo
Resolver o gargalo da mobilidade urbana de Blumenau, que sofre com ruas cada vez mais estranguladas, passa, também, por tornar o transporte coletivo mais atrativo à população. Antes da pandemia de Covid-19, os ônibus transportavam em média 100 mil pessoas por dia. Hoje, essa média é de 75 mil – 80 mil é considerado o “número mágico” para equilibrar o sistema, que precisa de subsídio milionário da prefeitura – que será de mais de R$ 50 milhões em 2025 – para se pagar.
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Há esforços recentes para trazer o usuário de volta, como instalação de ar-condicionado e câmeras de segurança em alguns veículos. Ainda assim, o preço da tarifa (R$ 5,30 antecipada e R$ 6,50 embarcada) torna o ônibus menos competitivo, na relação custo-benefício, com aplicativos de transporte em distâncias mais curtas.
Veja fotos históricas do transporte coletivo de Blumenau
4 – Melhorar o Ideb da rede municipal de ensino
No geral, Blumenau ficou acima da média nacional, mas abaixo da média estadual nos resultados de 2023 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Ideb avalia o desempenho em Língua Portuguesa e Matemática dos estudantes dos anos iniciais e finais do ensino fundamental e os alunos do ensino médio.
5 – Retomar a construção do Centro de Convenções
A estrutura projetada para o terreno ao lado do ginásio Galegão é considerada essencial para fomentar o turismo de eventos corporativos e de negócios, mas a obra está parada há um ano e meio. Em maio de 2023, o município rompeu o contrato com a empresa Laca Engenharia, vencedora da licitação, por descumprimento do cronograma e dos prazos estipulados. Somente as fundações do futuro prédio foram feitas.
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A obra estava inicialmente orçada em R$ 38,3 milhões, com recursos vindos do governo do Estado. O projeto prevê 11,5 mil metros quadrados distribuídos em três pavimentos com capacidade para cerca de 1,3 mil pessoas e áreas internas para eventos, auditórios e serviços de alimentação. Serão cerca de 100 vagas de estacionamento para carros e outras 100 para bicicletas.
Veja fotos do projeto do Centro de Convenções
6 – Tirar o mercado público do papel
O Mercado Público é um sonho de quase duas décadas. Em 2007, um concurso público definiu o projeto arquitetônico. Mas desde então a estrutura, prevista para o local onde hoje funciona a feira livre municipal, nunca saiu do papel. A proposta original chegou a ser alvo de alterações, na tentativa de aumentar a viabilidade financeira para eventuais investidores.
A tentativa mais recente foi uma licitação lançada em 2021, que acabou terminando sem propostas. A empresa Sinart, que recentemente assumiu a concessão da rodoviária de Blumenau, já admitiu ter interesse na estrutura.
7 – Encontrar solução para o impasse financeiro com o Hospital Santa Isabel
Ao longo de 2024, o Hospital Santa Isabel chegou a informar à prefeitura e ao governo do Estado que suspenderia atendimentos via SUS nas áreas de oncologia, cardiologia e neurologia, alegando um prejuízo milionário. Houve, desde então, uma série de tratativas para a manutenção desses serviços de alta complexidade, todas paliativas. Uma solução para o equilíbrio financeiro do contrato é essencial para a continuidade dos atendimentos.
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8 – Equalizar a dívida com o ISSBlu
O regime próprio de previdência em Blumenau (ISSBlu), responsável pelo pagamento das aposentadorias de servidores públicos, é deficitário. Além disso, o município tem recorrido ao parcelamento de alíquotas para honrar com os compromissos.
9 – Federalização da Furb
Pauta antiga, a federalização da Furb voltou à tona nos últimos anos. Há tratativas com o Ministério da Educação para a criação da Universidade Federal do Vale do Itajaí (UFVI), que absorveria a estrutura, servidores e alunos da universidade regional. A Furb já elaborou estudos, foi criado um grupo de trabalho e o andamento do processo depende de articulação política.
10 – Finalizar o prolongamento da Via Expressa
A obra é de responsabilidade do governo de Santa Catarina, mas interessa diretamente a Blumenau. O prolongamento da Via Expressa teve ordem de serviço assinada há uma década, mas desde então a obra esbarrou em tantas burocracias que nenhum dos quase 16 quilômetros prometidos foi entregue. É um investimento crucial para a mobilidade urbana da região Norte da cidade.
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Aliado de Jorginho Mello (PL), Ferrari pode aproveitar a proximidade com o governador para cobrar a finalização dos trabalhos.
Veja a situação da obra
11 – Municipalizar o Sesi de fato
A municipalização do Sesi foi anunciada em julho, mas até hoje o complexo esportivo ainda não é, de fato, de Blumenau. Existem barreiras jurídicas para a transferência definitiva de titularidade, já que o terreno pertence ao município, mas o Sesi, que recebeu a área via cessão, precisa ser indenizado pelas benfeitorias construídas. A negociação deve envolver um permuta, com o Estado entregando imóveis em Joinville em troca. Vencida esta etapa, é preciso definir um planejamento de uso e manutenção da estrutura.
Veja fotos do Sesi
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12 – Ampliar o sistema de coleta e tratamento de esgoto
Assinado em 2010, o contrato de concessão do sistema de esgoto em Blumenau só atingiu metade da meta até hoje. Em 2024, prefeitura e BRK Ambiental chegaram a um acordo para ampliar o vínculo até 2064 e passaram a considerar um modelo misto de coleta e tratamento, com o uso de fossas individuais – possibilidade prevista no Marco do Saneamento e alternativa para acelerar e baratear a universalização do sistema. É preciso avançar mais nos próximos quatro anos.
13 – Negociar com servidores públicos
As campanhas salariais do funcionalismo público cobram valorização dos servidores, planos de carreiras e benefícios. Impasses nas mesas de negociações não raro provocam paralisações de atendimentos que afetam a população. Para Ferrari, essa articulação para conciliar interesses ao mesmo tempo em que se olha para o caixa será uma novidade. Um trunfo do novo prefeito é a manutenção do secretário de Administração, Anderson Rosa, já acostumado a lidar com a categoria.
14 – Melhorar a mobilidade urbana e aprimorar a prevenção de enchentes
O trânsito de Blumenau está saturado em vários pontos e não mais apenas nos horários de pico. Além de tornar o transporte coletivo mais atrativo, é preciso desatar alguns nós para garantir mais fluidez no ir e vir das pessoas. O governo de Mário Hildebrandt (PL) investiu em pontes, pavimentações de ruas e apostou em grandes obras viárias, como o Corredor Norte. O projeto está pronto e a primeira etapa da obra já foi licitada, cabendo a Ferrari executá-la.
Por outro lado, também é preciso aprimorar sistemas de alertas e prevenção de cheias, área em que Blumenau já tem experiência. O município já contratou a Furb para elaborar um novo mapa de inundações, por exemplo, que vai atualizar as cotas de enchentes das ruas da cidade.
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15 – Viabilizar a guarda municipal armada
Principal promessa de campanha, a guarda municipal armada imaginada por Ferrari teria cerca de 100 agentes, que funcionariam como reforço para a segurança pública. O plano é abrir vagas novas, por meio de concurso público, e oferecer um treinamento específico para esses profissionais. O custo é estimado em R$ 10 milhões por ano. É preciso encaixar a futura corporação no orçamento e alinhar a atuação dela com as demais forças de segurança.
Menções honrosas: ampliação da regularização fundiária e cuidados com construções em áreas de risco.
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