Uma aula diferente marcou a semana que passou dos alunos da Escola Básica Municipal Fernando Ostermann, no bairro Boa Vista, em Blumenau. Usando avental e touca, eles aprenderam a fazer um bolo diferente, com açúcar mascavo, farinha de arroz e abobrinha. Todos ajudaram a quebrar os ovos, colocaram os ingredientes no liquidificador e misturaram a massa. Na prática, a lição era que comida boa pode ser feita com ingredientes saudáveis. Mais do que isso, levaram o bolinho para casa e mostraram aos pais o resultado de uma tarde que pode fazer a diferença na vida deles de agora em diante.
Continua depois da publicidade
Siga Pancho no Facebook, Twitter e Instagram
A aula que ensina bolo de abobrinha para as crianças é uma das atividades do projeto Crescer e Semear, que passou a ser aplicado nas 13 escolas municipais da cidade que não têm a merenda terceirizada. A iniciativa é do Instituto Alice Henrique de Campos Gonçalves, ONG capitaneada pela consultora em gastronomia saudável Lidiane Barbosa, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação.
Durante todo o ano, cerca de 4,5 mil estudantes de 4 a 15 anos de idade vão receber orientações práticas e teóricas sobre como melhorar os hábitos alimentares. O objetivo principal é prevenir a obesidade infantil e os problemas de saúde que dela decorrem. No ano passado, uma pesquisa revelou que mais de 30% dos estudantes da rede municipal estavam acima do peso ideal.
Todos levarão para casa cartilhas com receitas mais saudáveis. As crianças menores vão assistir a aulas mais interativas. Já os alunos de 12 a 15 anos participarão de rodas de conversa sobre o tema. A estratégia diferente, segundo Lidiane, tem por base a maneira como eles se alimentam.
Continua depois da publicidade
— Enquanto as crianças comem o que os pais lhes dão, os adolescentes já têm o poder de escolher o que vão comer.
Orientar os estudantes não é a única prática prevista no projeto. A maior parte das cerca de 50 merendeiras dessas escolas já passaram por uma oficina na qual conheceram alternativas saudáveis, como a biomassa de banana verde. Elas também vão aprender a aproveitar talos e cascas de frutas e verduras, além de receber orientações sobre alimentação para quem é intolerante ao glúten e a lactose. No fim do ano, receitas criadas por essas funcionárias farão parte de um livro, e as melhores serão premiadas.
Leia outras postagens de Pancho
Na outra ponta, os pais desses estudantes vão participar de conversas para também receberem dicas e melhorarem a qualidade da alimentação deles e dos filhos. A ideia é, na medida do possível, deixar os produtos industrializados de lado para retomar o hábito de cozinhar em casa.
Rede solidária
O trabalho do Crescer e Semear tem a ajuda de muita gente preocupada com a alimentação das crianças. São 22 voluntários, boa parte deles profissionais da área da saúde, e outros tantos na fila de espera. O grupo conta com o importante auxílio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujas nutricionistas estão colhendo informações de peso, altura e hábitos alimentares dos alunos e das merendeiras. O acompanhamento será feito durante o ano para melhor avaliar os resultados.
Continua depois da publicidade
Outra grande colaboração vem da ONG Sítio Urbano, de Itajaí. Cabe a eles incentivar nas escolas a plantação e manutenção de hortas para fornecer alimentos saudáveis e fazer com que as crianças percebam que os alimentos de verdade não vêm da caixinha ou da sacola plástica.
Experiência em outros Estados
Esta não é a primeira edição do projeto. Lidiane Barbosa trabalha com restaurantes e indústrias de todo o Brasil e implantou modelos semelhantes do Crescer e Semear em Cubatão, Santos, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Blumenau, onde vive há oito anos, será a primeira vez que o projeto se prolongará por todo o ano.
Ela conta que o trabalho nasceu da necessidade pessoal de levar essas informações ao maior número de pessoas possível. Percebeu que os restaurantes e indústrias para os quais ela trabalha nem sempre são acessíveis à parcela importante da população e por isso buscou a parceria do poder público. A experiência e os resultados deste anos serão decisivos para definir se o projeto será ou não ampliado para outras escolas da cidade.