Ao ler a reportagem sobre o aumento de mortes no trecho da BR-470 que corta o Vale do Itajaí, imediatamente me lembrei da nota que escrevi quando voltei de férias, no final de janeiro. Disse, naquela oportunidade, que depois de rodar 8,5 mil quilômetros por quatro países da América do Sul percebi que nada se assemelha ao que ocorre na rodovia Ingo Hering (sim, esse é o nome oficial da nossa BR).
Continua depois da publicidade
Siga Pancho no Facebook, Twitter e Instagram
Só aqui vi tamanho descaso do poder público em relação à manutenção do asfalto, acostamento e sinalização. Na Argentina, por exemplo, todo e qualquer trecho com alguma irregularidade na pavimentação ou obra é precedido por um claro e objetivo aviso, advertindo o motorista sobre o problema. Por incrível que pareça, até mesmo no trecho em que a pista voltava às condições normais havia uma placa dizendo algo como “fim das irregularidades”.
Aqui não se sabe o que é pista e o que é acostamento. Isso quando há acostamento. Em vários trechos, sequer a pista contrária era possível ser identificada, já que a sinalização horizontal, aquela pintada sobre o asfalto, ou é de péssima qualidade e dura muito pouco, ou logo é coberta por mais asfalto que vem para cobrir buracos, rachaduras e outros problemas. Isso sem falar no próprio asfalto, uma farofa feita sob medida para durar até a primeira chuva mais forte e forçar o poder público a contratar nova manutenção.
Continua depois da publicidade
Outra coisa que só aqui percebi em tal grau são motoristas irresponsáveis. É assustador ver o que alguns caminhoneiros fazem ao descer a fatídica Serra da Santa. Não é à toa que justamente aquele trecho, entre Pouso Redondo e Rio do Sul, foi o que registrou o maior número de acidentes entre janeiro e fevereiro. Notem que por lá não há obras de duplicação. O que também assusta muito, e ao longo de toda a rodovia, são as ultrapassagens forçadas. Não há ida ao litoral sem que eu veja veículos indo para o acostamento para evitar batidas frontais, justamente as que mais matam na nossa rodovia.
Sim, o poder público falha muito. Falha na construção, na manutenção e na falta de fiscalização. Mas o motorista falha muito mais. A maior parte dos motoristas que passam pela BR-470 e aqui se acidentam é de cidades da região. Muito provavelmente são conhecedores da situação da estrada e nem assim são capazes de respeitar os demais que transitam por ela. Colocam dezenas de vidas em risco ao beber antes de dirigir, desrespeitar a sinalização ou desafiar as leis da física na ilusão de parecer mais espertos ou inteligentes, quando na realidade não passam de imbecis e potenciais assassinos.
A solução, pelo menos enquanto o poder público não tomar as rédeas da situação, está nas nossas mãos. Respeito, prudência e bom senso é o que precisamos para combater essa chacina no asfalto. Se não os temos, é bom dar um jeito na consciência e providenciar.