Liberar a conta-gotas as atividades profissionais e econômicas que antes estavam suspensas desagrada tanto os que querem priorizar o isolamento quanto os que querem ver a roda da economia girar e evitar crise maior. Para o primeiro grupo a explicação é óbvia. Quanto mais gente nas ruas e menos dentro de casa, maior é a possibilidade do novo coronavírus encontrar meios de se multiplicar. Mesmo com todas as regras listadas na portaria 223 da Secretaria de Estado da Saúde — cujo objetivo é garantir as medidas de higiene e a distância entre as pessoas —, é difícil contar com o bom senso de todos e com tamanha capacidade de fiscalização dos órgãos públicos.

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Ainda dentro desse grupo, há aqueles que preferem o isolamento, mas são obrigados a sair de casa. Trabalham com os chamados serviços essenciais ou em atividades que já foram liberadas. Para esses o risco de trazer o vírus para dentro de casa não compensaria o sacrifício.

Os que preferem a quarentena acabam tendo a sensação de que o controle da curva de infecção no estado — que é menor que a média brasileira —, será perdido. E quando isso for percebido, será tarde demais para evitar o colapso do sistema de saúde e afastar daqui as cenas que hoje chegam da Europa e Estados Unidos.

Já entre os que querem ver a economia girar o quanto antes há aqueles que acham que tudo deveria ser liberado de uma vez só e que o isolamento é algo a ser adotado somente pelos que integram o chamado grupo de risco. Liberar aos poucos, como ocorre em Santa Catarina, só agrava a crise e aumenta cada vez mais a possibilidade do desemprego gerar miséria, violência e tantos ou mais mortos do que a pandemia seria capaz de produzir.

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Outros não entendem os critérios do governo para decidir quais atividades serão liberadas e sentem-se prejudicados. Por que o meu vizinho pode trabalhar e eu não? Por que ele tem o emprego cada vez mais garantido e eu sigo com a ameaça do desemprego? Por que a manicure pode atender os clientes e eu não posso abrir a loja para atender um cliente por vez?

Há também aqueles que gostariam de trabalhar e até já podem fazê-lo, mas como ir e vir sem transporte coletivo? Com quem deixar os filhos se a creche e as escolas estão fechadas? Com os avós? Justo os que devem estar mais distantes de todos?

Parece um teste. Diante do desconhecido e do mar de incertezas que nos cerca, o governo vai tateando e arriscando aos poucos. Soa prudente, mas deixa muita gente desconfiada e apreensiva.

Se inicialmente a ideia era agradar gregos e troianos, cada vez mais percebemos que ambos seguem preocupados e inseguros. Diante de cenário inédito, uma vez mais o tempo nos dará alguma resposta.

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