É difícil lidar com os números da violência contra a mulher em Blumenau. Por uma lado, há um crescimento assustador no número de registros na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCami) da cidade. Em três anos a quantidade de inquéritos abertos na unidade aumentou 220%, passando de 280 em 2016 para mais de 900 neste ano, estimativa da delegada responsável, Juliana Tridapalli. Até o dia 10 deste mês eram 870.

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Esse número corresponde a todos os inquéritos, incluindo os relacionados a crianças, adolescentes e idosos, mas o crescimento está diretamente relacionado à violência contra a mulher, e o próximo dado comprova isso.

No mesmo período de três anos os pedidos de medidas protetivas feitos por mulheres que sofreram algum mal aumentaram incríveis 556%. Foram 69 em 2016 e 453 neste ano, até o dia 10 de dezembro. O índice vai certamente aumentar até o dia 31. Juliana atribui esse crescimento às campanhas de conscientização e divulgação, cada vez mais eficientes. Não representa, necessariamente, um aumento no número de casos.

É muito mais provável que o que aumentou foi o número de mulheres dispostas a denunciar, e isso é muito bom. Mas não é fácil conviver com a comprovação de que ainda vivemos em uma sociedade machista, violenta e cruel.

Filhos e netos

Outro fato que pode comprovar que o crescimento de registros tem mais relação com o aumento de conscientização do que com um possível aumento dos casos de violência contra a mulher é a constatação de que é cada vez mais comum a vítima dizer que sofre com a violência doméstica há anos. Ou seja, não é um fenômeno recente. Só depois de várias agressões ela teve coragem e apoio para fazer a denúncia.

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A delegada Juliana Tridapalli também se vê preocupada com uma mudança percebida mais recentemente nos perfis da vítima e do agressor. A maioria das mulheres que busca ajuda denuncia os companheiros como agressores, mas é cada vez maior o número de mães e avós que relatam agressões por parte dos filhos e netos. E esse aumento, além da conscientização, estaria relacionado ao consumo cada vez maior de álcool e drogas entre os mais jovens.

Triste realidade que nos assola.

Xingamento é violência

Nesse processo de aumentar a conscientização entre as mulheres sobre a necessidade de denunciar os agressores é muito importante ressaltar o que de fato configura violência contra a mulher. Tanto quem sofre quanto quem agride pensam, em muitos casos, que a violência só ocorre quando há lesão, machucado. Ignoram o que não pode ser ignorado, como empurrões, ameaças e xingamentos. Isso também é violência, explica a delegada Juliana.

Há divulgação sobre isso, mas a percepção equivocada é cultural. Leva tempo para ser alterada.

Delegacia da Mulher de Blumenau
Arte nas paredes da DPCami de Blumenau incentiva mulheres (Foto: Pancho)

Medidas protetivas

Em geral os pedidos de medidas protetivas são aceitos pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Blumenau, responsável pelos casos de violência doméstica. As medidas são determinadas quando a vítima corre algum tipo de risco.

As mais comuns são o afastamento do agressor do lar por um determinado período, impedir que o agressor se aproxime da vítima, estipulando até uma distância mínima entre eles, e proibir o contato com a mulher, seja pessoal, por telefone ou rede social. Em Blumenau, o pedido de medidas protetivas gera a abertura de inquérito para investigação, o que não ocorre em todas as cidade, segundo a delegada Juliana Tridapalli.

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Orientação

São inúmeros os serviços oferecidos pelo poder público e organizações não governamentais para ajudar as mulheres agredidas na cidade. Tem assistência jurídica gratuita, roda de conversa, yoga, reiki e até local para acolhimento de mulheres agredidas e os filhos delas. Na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCami) é possível conhecer esses serviços e receber a devida orientação. A DPCami fica na esquina da Rua Jacob Brueckheimer com a Humberto de Campos. Perto do Parque Ramiro Ruediger.

Espaço inadequado

Se os números de violência contra a mulher são assustadores, também assusta o espaço inadequado em que está instalada a delegacia que atende mulheres vítimas de violência na cidade. Na casa do bairro Velha falta manutenção, iluminação, acessibilidade, espaço e infraestrutura. É impossível alguém se sentir acolhido ao chegar no local. E essa percepção tem relação com a estrutura física, não com o atendimento dos servidores que lá trabalham.

Recentemente a Delegacia Regional de Polícia Civil lançou licitação para escolher uma nova sede. Segundo a delegada Juliana, não é tarefa fácil encontrar um espaço adequado. O ideal seria o governo estadual construir uma estrutura de acordo com as necessidades, mas pelo visto falta dinheiro. Ou pressão política.