Em um mundo cada vez mais digitalizado, onde as interações pessoais, a troca de ideias e até mesmo a publicidade se dão majoritariamente por meio da internet e das plataformas de mídias sociais, surge um novo questionamento: a centralização das decisões em uma rede social e a concentração do controle por meio de algoritmos – como temos nos dias atuais – é realmente a melhor alternativa?
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E se as redes sociais fossem descentralizadas, ainda teriam o apelo que têm hoje? Será que o comportamento dos usuários seria muito diferente nessas novas plataformas? E mais: que forma tomaria a publicidade e quais seriam as consequências disso tudo no mundo real? Quando pensamos em uma plataforma descentralizada, pensamos em código aberto (para que todos possam ter acesso à programação que comanda a rede) e em tecnologia Blockchain (para que, dentre outros motivos, os registros e dados estejam em um universo transparente, seguro e imutável).
Dados e privacidade nas redes:
Atualmente, somos bombardeados com escândalos envolvendo a privacidade de usuários e até mesmo relacionados à censura em redes sociais. São problemas que com a mudança aqui levada em consideração, seriam eliminados quase que completamente, pois saberíamos exatamente quais e de que forma os dados dos usuários podem ser explorados e como agem os mecanismos de controle de conteúdo que, nesse novo contexto, seriam definidos pelos usuários da rede, e não por um agente central.
A privacidade é um dos fatores chave quando pensamos em descentralização. Nas palavras de Bill Ottman, CEO da Minds, uma rede social descentralizada e de código aberto baseada em Blockchain: “por conta de nossa política de liberdade de expressão e proteção à privacidade que é de grande importância para jornalistas, a mídia independente provavelmente representa a maior parte de nossa base de usuários”.

Controle de conteúdo: o funcionamento dos algoritmos
Você já notou que alguns de seus posts são mais vistos e compartilhados, enquanto outros parecem receber quase nenhuma atenção? Em alguns casos, o motivo por trás disso é o algoritmo da rede, que exceto em casos de vazamento de informação (como nos documentos vazados do Facebook em 2021, onde pôde ser demonstrado que, por exemplo, um algoritmo de ‘controle de terrorismo’ deletava conteúdo árabe não violento 77% das vezes), não temos acesso a seu funcionamento. Esse mesmo algoritmo pode privilegiar certo tipo de conteúdo e “ofuscar”, ou cortar o engajamento (o famoso shadowban) de outros tipos, efetuando até mesmo a remoção de postagens e o banimento de perfis.
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Com o algoritmo tendo seu controle visível, limitado e definido pelos usuários, não teríamos esses problemas, gerando um ambiente de interação mais orgânico e livre, com a certeza de que não há manipulações acontecendo – seja por parte das grandes corporações que controlam as plataformas centralizadas, seja por ordens a mando de governos autoritários ou por quaisquer outros motivos.
E como filtraríamos o conteúdo danoso ou ofensivo? A proposta já em funcionamento da rede social descentralizada Minds, que conta com mais de 14 milhões de membros, é a de um “Juri de Conteúdo”, onde postagens denunciadas como danosas são enviadas para 12 membros aleatórios da rede, de forma que cada um toma uma decisão sobre se aquele conteúdo deve ou não permanecer ali, e essa passa a ser a decisão final.
Anúncios e publicidade em um contexto de código aberto
Um dos problemas com os sistemas de anúncios e publicidade nas plataformas atuais é que as marcas dependem da “palavra de honra” das redes de que o anúncio irá chegar ao público alvo esperado no alcance pré-determinado. Quando o código de uma plataforma é aberto e atrelado à Blockchain, a marca pode verificar por si própria quantas impressões uma campanha teve e qual público a visualizou, sem um intermediário e com a segurança e garantia de que está acessando uma informação autêntica e imutável.
Além da resistência à censura e à manipulação do conteúdo e de maior proteção contra o vazamento de dados, as redes descentralizadas criam também um ambiente mais transparente até mesmo para os anunciantes – isso tudo sem falar dos incentivos econômicos que muitas delas, como a Minds e a Steemit, já oferecem aos usuários por sua criação de conteúdo e engajamento.
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O modelo de negócios das maiores plataformas de mídias sociais de hoje é baseado em anúncios, e pensando no usuário da rede como um criador de conteúdo, participativo no desenvolvimento da plataforma – e não apenas como um mero espectador – é de se considerar que ele receba parte da receita de acordo com sua contribuição. Ambas as redes citadas anteriormente possuem um programa de recompensa aos usuários: na Minds, as contribuições são pagas de acordo com o tempo gasto na plataforma e interações entre usuários, e a rede Steemit possui um sistema similar, onde até o começo deste ano, seus 1.2 milhões de usuários já receberam mais de 60 milhões de dólares em recompensas.
São muitas as vantagens de sistemas onde as regras são a descentralização e a transparência, e o meio das redes sociais é mais um onde a Blockchain e as tecnologias de código aberto podem contribuir a favor de um ambiente mais livre e de uma melhor experiência de usuário, em diversos aspectos. E aí, você está por dentro dessas novas possibilidades no meio digital?
Colaboração de Leo Ferrari e Alexandre Bernardes para o NSC Lab.