As alterações climáticas que acontecem no mundo têm produzido impactos em muitos setores de produção, alguns sofrendo de forma mais direta e definitiva. O setor vinícola tem sido afetado sobremaneira. Observamos isto na prática, com o surgimento de novas zonas de produção nunca imaginadas. Algumas regiões tradicionais sofrem com estas mudanças, enquanto outras surgem como berço de qualidade para a produção de vinhos.

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O aumento da temperatura global também tem gerado maior concentração de açúcares, que, durante a fermentação, são convertidos em álcool, gerando vinhos mais alcoólicos, o que, inclusive, vai contra a tendência mundial de consumo, que tende a preferir vinhos menos alcoólicos, mais elegantes e equilibrados.

O cultivo da uva destinada à produção de vinhos segue padrões diferentes das demais frutas. O tipo de solo influencia diretamente na qualidade e nas características das uvas e, consequentemente, dos vinhos que serão produzidos naquele terroir. Por exemplo, solos arenosos contribuem para o cultivo de uvas que dão origem a vinhos mais concentrados, enquanto solos calcários, com teor de cálcio, aumentam a acidez das uvas e aportam frescor e refinamento ao vinho. Portanto, o aquecimento global afeta a produção de vinhos em todo o mundo, impactando desde o rendimento das uvas, sua qualidade e, consequentemente, a qualidade do vinho.

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A vitivinicultura é uma atividade econômica onde a demonstração do aquecimento global mais se faz sentir, com ondas de calor cada vez mais frequentes com o passar dos anos, e que podem prejudicar profundamente a produção global de vinhos. Corremos o risco de ver algumas regiões vinícolas tradicionais do mundo praticamente desaparecer. E isto pode ocorrer já nas próximas décadas, se o aquecimento no mundo continuar no ritmo atual. Estudo publicado pela revista Nature Reviews Earth & Environment apontou que as áreas potencialmente mais afetadas serão as regiões costeiras e de planícies da Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia (EUA).

Dentre as inúmeras ameaças que as mudanças climáticas podem causar na indústria vinícola, podemos citar:

  • Temperaturas mais altas: Aceleram o amadurecimento das uvas, aumentam a concentração de açúcar, resultando em vinhos mais alcoólicos, desequilibrados e menos complexos, pois as uvas não dispõem do tempo necessário para desenvolver todo seu potencial aromático e gustativo que poderia ser alcançado no seu ciclo completo.
  • Clima instável: As geadas prematuras e/ou tardias e chuvas de granizo podem prejudicar tanto a brotação, o desenvolvimento, quanto a colheita das uvas.
  • Mudança no perfil aromático e gustativo: O aquecimento trará para as regiões tradicionais de produção uma alteração nos seus vinhos, que se tornarão mais alcoólicos, encorpados e frutados, descaracterizando o estilo produzido até então.
  • Alteração no mapa mundial de produção vinícola: Caso o aquecimento continue no avanço atual, algumas regiões vinícolas tradicionais podem estar ameaçadas de extinção, pois se tornarão inadequadas para a produção de uvas vitis viniferas.

Porém, outras regiões no mundo, como o sul da Inglaterra, Dinamarca, áreas do Canadá, os Pampas sul-americanos e as regiões mais altas dos Andes, podem se beneficiar com o aquecimento global, já que as alterações nos padrões climáticos podem tornar o clima dessas regiões mais favorável à produção de uvas vitis viníferas. A boa notícia é que o Brasil tende a ficar no meio do caminho, sem grandes danos!

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