O Brasil protagonizou na última segunda-feira, dia 22, um bom exemplo de como desperdiçar o que poderia ser uma excelente oportunidade. Refiro-me àquela que deveria ser uma entrevista com o atual presidente da República e candidato à reeleição, que mais aproximou-se de um debate, levando os telespectadores a recordar os tempos da inquisição.

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Os dois âncoras do Jornal Nacional, da emissora que tem ampla cobertura em todo o país, rasgaram os diplomas de jornalistas/apresentadores. Ficamos mais para um debate do que propriamente uma entrevista.

A começar pela falta de respeito no tratamento ao entrevistado que, gostem ou não, continua sendo o presidente do Brasil. Jamais tinha visto entrevistadores fazendo caras e bocas, sorrindo de forma desrespeitosa e sarcástica e interrompendo seguidamente as falas do entrevistado. Foram raras as oportunidades que o presidente teve para concluir as respostas e os dois entrevistadores pareceram imbuídos da disputa do tempo de fala. Basta vermos como ficou dividido o uso do tempo entre entrevistado e apresentadores.

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Lamentavelmente, ao invés de perguntas claras, diretas e objetivas sobre propostas e projetos para avanços e melhorias em nosso país, que impactam a vida dos cidadãos eleitores, vimos insistentemente relatos de episódios do período de governo, no sentido de tentar emparedar o entrevistado e, quem sabe, tirá-lo do sério para que as falas fossem deselegantes ou não apropriadas.

Pelo contrário, vimos o entrevistado/presidente mantendo-se centrado, firme e sem titubear, sustentando ideias e tentando de todas as formas, concluir as falas, em que pese as inúmeras interrupções que lhe foram impostas. O entrevistado estava sozinho, com uma caneta e uma folha de papel. Já os apresentadores, usando o ponto para comunicação, puderam contar com apoio de outros, municiando-os de informações para fazerem chegar ao entrevistado.

A melhor parte dos 40 minutos foram os últimos 60 segundos, quando o presidente pode apresentar os feitos do período de governo. Quanta inteligência do presidente ter levado aquelas quatro anotações na palma da mão: Nicarágua, Argentina, Colômbia – esse três até fica fácil saber a razão, mas o nome de Dario Messer levou muita gente a pesquisar para saber de quem se tratava.

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Para ser coerente na análise, assisti a entrevista com outro candidato no dia seguinte, dia 23, e o comportamento dos dois apresentadores, nessa feita sim, no papel de jornalistas, foi diametralmente oposto, fazendo perguntas diretas e dando espaço para a exposição de ideias e plano de governo. Quisera que o dia anterior tivesse sido na mesma linha. A emissora desperdiçou, talvez propositadamente, uma enorme oportunidade de mostrar aos telespectadores que o jornalismo não é militante e que faz um trabalho isento. Lamentavelmente, não foi o que aconteceu.

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