Saulo Vieira, o fundador do MDB de Santa Catarina que será sepultado nesta segunda-feira (2), as 17h no Cemitério Jardim da Paz, já deixa saudades entre os milhares de catarinenses que com ele conviveram ou que o conheceram durante os 80 anos de vida.

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Era, em primeiro lugar, um cidadão exemplar, que consolidou a imagem de uma pessoa generosa, solidária, que não distinguia pobres e ricos, credos ou raças e que atendia a todos que o procuravam nas inúmeras funções que ocupou durante décadas.

No velório, seu fiel motorista Carlos Roberto da Costa, pesaroso pela perda do amigo de 27 anos, registrava fatos que só elevam a figura do advogado falecido. Pessoas simples que faziam fila para pedir alguma ajuda financeira, a abertura de portas para contatos profissionais ou políticos e um batalhão de lideranças procurando orientação sobre procedimentos na Justiça Eleitoral, registro de candidaturas e de partidos. Nas redes sociais,  ganham destaque suas múltiplas atividades profissionais e políticas.

Na OAB-SC, foi Diretor e Conselheiro dedicado e competente. Exercia as missões com liderança inconteste, fixando pareceres com inteligência e sabedoria, sempre preocupado com o fortalecimento e o prestígio da Ordem dos Advogados do Brasil. 

No MDB são incontáveis os depoimentos de colaboradores, parlamentares e dirigentes partidários sobre sua dedicação, desde os longínquos anos de 1966, quando saiu percorrendo o Estado, com carro próprio e a companhia do presidente do PTB(extinto pelo regime militar), Doutel de Andrade, para fundar o MDB. Munido de um livro de atas, capa preta, buscava as indispensáveis filiações, num período em que inscrever-se na oposição era arriscado.

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Durante mais de cinquenta anos foi o conselheiro e o consultor permanente do partido, em sua estrutura, nas bancadas estadual e federal e no governo do Estado, quando o MDB chegou ao poder.

Identificado com o grupo moderado liderado por Pedro Ivo Campos, batalhou por sua eleição em 1986. Vitorioso, assumiu a Secretaria da Casa Civil, transformando-se no principal assessor do novo governo, e vivendo os períodos difíceis durante a doença que acabou causando a morte do governador.

Sua presença no Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina era constante, sempre brilhante, orador qualificado e conhecedor profundo da legislação partidária e eleitoral.  Era e continua sendo admirado até hoje até pelos adversários. Por onde passou só deixou amigos e admiradores, como na presidência da Telesc, no comando do Sapiens Park e outros cargos.

Durante décadas ocupou a Procuradoria da Assembleia Legislativa, onde assinou os mais lúcidos pareceres e exerceu a competente articulação politica em nome da bancada. Entre os projetos estratégicos que liderou destaque para a eleição do presidente do legislativo nos idos de 1975. Indicado pelo governo militar, o governador Konder Reis escolheu o deputado Sebastião Neto Campos para presidir a Assembleia Legislativa, valendo-se da maioria da bancada da Arena.

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O MDB unido fixou-se na candidatura do dissidente Epitácio Bittencourt, que era inscrito na Arena.  Saulo Vieira trabalhou nos bastidores e garantiu o voto que faltava no partido governista.

Resultado, Sebastião Neto Campos, que tinha comprado o terno da posse e até encomendado a festa da eleição, teve que cancelar tudo, pois o eleito foi Epitácio Bittencourt, fato que abriu uma crise no governo Konder Reis antes de sua posse.  Gerou até processo de cassação de mandato contra Bittencourt, que acabou arquivado.

O voto era secreto e até hoje não há provas sobre o nome do deputado misterioso da Arena que, unido ao MDB, deu a vitória a Epitácio Bittencourt.  Sebastião Neto Campos, o derrotado, virou Secretário da Indústria e Comércio.

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