O saudosismo bate forte nos corações dos que viveram o Natal na segunda metade do século passado. Florianópolis era uma ilha tranquila, sem violência, onde os moradores viviam numa exemplar harmonia, explodindo na confraternização durante todo o mês de dezembro. O Natal daquela época – e a distância é de apenas três a quatro décadas – começava muito antes de dezembro. Lá pelo mês de setembro, como não havia peru limpo e muito menos com apito no mercado, as famílias ricas e da classe média costumavam circular pelo interior da Ilha. Procuravam peru vivo para engordá-lo no quintal. Os perus de praia comiam muito peixe. Colocá-los no galinheiro e dar-lhes tratamento de luxo com ração balanceada e muito milho era a maneira de tirar o gosto do pescado da carne.

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O início da primavera era outro sinal que o Natal chegava. As cigarras cantando sem parar durante o dia e os cigarrões com uma sonoridade encantadora anunciando a noite. Na mesma época, os sabiás marcavam presença. Começavam com aquela linda melodia pela manhã e só descansavam no fim do dia. Era impressionante o fôlego. Dava pena! Os passarinheiros explicavam que os machos ficavam ao lado da fêmea para fixar espaço, encantá-las e garantir sua presença no ninho sobre os ovos.

Dezembro surgia com luzes coloridas nas casas e os comerciais nas emissoras de rádio com músicas natalinas, em que a presença de Luiz Bordón e sua harpa paraguaia era sempre comovente.

As cigarras escassearam, os sabiás não vieram, os comerciais ficaram sem emoção, as relações humanas ficaram mais frias e até o colorido nos edifícios da Beira-Mar desapareceu. Saudosismo à parte, saúde, paz, fraternidade, mais empregos e dias melhores para a tão vilipendiada família brasileira. Feliz Natal a todos!

 

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