O empresário Luiz Gonzaga Coelho, diplomado em Administração pela UFSC e em Ciências Políticas e Econômicas pela Universidade de Genebra, fala sobre a nova visão dos investidores suíços e europeus sobre o Brasil e Santa Catarina. Coelho integra o Conselho de Administração do SOS Cárdio, da industria C-Pack e faz parte do Conselho da Fiesc.
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Que decisões da diplomacia suíça interessam a Santa Catarina?
A Suíça sempre foi um pais muito aberto e amigo. Digo que existem dois passaportes que todo mundo gosta: o brasileiro e o suíço. Os suíços e os brasileiros são sempre muito bem recebidos em todos os lugares. Há uma preocupação com a preservação desta imagem no mundo. Você encontra suíços e empresas suíças em todos os países. A Suíça é um dos maiores empregadores nos Estados Unidos e na América Latina, por ter esta visão de mercado muito maior que suas fronteiras. A Suíça é um país pequeno, com 8,5 milhões de habitantes. Toda iniciativa empresarial começa olhando para além de suas fronteiras. Na diplomacia, esse aspecto é prioritário. A Suíça sempre teve uma visão social, ajudando outros países.
Como e por quê?
Quando as empresas suíças montam filiais em outros países, buscando novos mercados, levam a maneira suíça de trabalhar: o respeito ao indivíduo, uma visão clara da importância do coletivo, como geradoras de empregos, pagadoras de impostos, a contribuição à sociedade, a integração comunitária.
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São transformadoras da sociedade. Estas empresas trazem resultados para os suíços, mas também para as sociedades em que estão inseridas. Elas contagiam outras empresas.
Qual a imagem que o Brasil tem hoje na Suíça?
O Brasil sempre instigou muito os europeus. Desde 1970, foi visto como o país do futuro. Isso nunca aconteceu, apesar de algumas iniciativas, com tentativas de modernização. Mas foram voos de galinha. O ambiente de negócios ainda não é propício. Agora, estamos num momento de mais liberdade econômica. Na Suíça, não é muito difícil explicar o que ocorre hoje no Brasil. Como é uma nação que prima pela liberdade econômica, vê-se que o Brasil passa por um momento especial, onde recoloca como prioridade a liberdade econômica, indispensável ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Os suíços e os europeus têm consciência de que este é o caminho para a gente poder esperar um Brasil que cumpra com a promessa dos anos 70.
A visibilidade da Zurich Airport aqui vai gerar mais investimentos?
Claro que sim! A recepção é o primeiro cartão de visitas. Florianópolis tinha uma porta de entrada que não condizia com a beleza da cidade, com o que ela oferece.
Com o novo aeroporto, um dos mais modernos do mundo, com a qualidade que está sendo oferecida, vai contribuir muito com novos investidores.
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Quais os legados do aeroporto?
Primeiro, foi construído em tão pouco tempo, com poucos suíços ali trabalhando, mas com muita competência. Mostraram a maneira suíça de fazer, de respeitar os indivíduos, mas transferindo a responsabilidade a cada pessoa. Uma obra extraordinária, só possível aqui porque havia brasileiros na execução e suíços no desenho e na organização. Não acredito que teria sido possível fazer isso em outro país. Foi possível no Brasil com a competência suíça e o trabalho dos brasileiros.
A ideia é esta: "Vamos construir, tirando o melhor para cada um e levando satisfação para todos".
O que desestimula os investidores suíços?
Diria que o “risco Brasil”. O que se faz é uma análise cartesiana, que comporta insegurança jurídica, complexidade tributária, carga fiscal, mais a falta de infraestrutura. Temos uma produção legislativa no Brasil que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Isto é muito complicado. Li uma revista indicando um advogado que leu todas as leis tributárias do Brasil. Ele estava sobre um “pallet” com seis toneladas e dois metros de altura. Isto cria muita insegurança jurídica. Tira o Brasil do circuito global de investimentos. O Brasil tem um bom mercado, é um país interessante, tem pessoas fantásticas, mas é preferível esperar que se ajeite.
E qual tem sido sua missão?
Procuro mostrar lá fora que temos um grande mercado, uma competência absurda e oportunidades grandiosas de investimentos. Conversando com empresas procuro motivá-las para investirem no Brasil. Não com aplicações especulativas de curto prazo. Sempre busquei investimentos que possam provocar oportunidades e mudanças na sociedade em geral. Há uma grande expectativa sobre o Brasil. Todos esperam que o Brasil encontre o caminho de desenvolvimento, com mais liberdade, respeitando o meio ambiente, as pessoas, a diversidade, os princípios defendidos pela Suíça. Este momento vai chegar. Trabalho para que chegue logo.
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Como ampliar as pontes culturais entre Santa Catarina e Suíça?
A Suíça sempre contribui com atividades culturais e artísticas, levando eventos para o mundo inteiro.
Estamos montando uma pequena equipe no Consulado de Florianópolis, para integrar Santa Catarina neste circuito. Há dificuldades de espaços, mas há vários contatos nesse sentido.